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Coleta seletiva protege a natureza

publicado: 24/07/2023 09h00, última modificação: 24/07/2023 09h02
Embora exista a política nacional de resíduos, o aproveitamento depende da ação das gestões e adesão das pessoas
Coleta Seletiva em JP 3 - crédito Carlos Nunes.jpg

Foto: Roberto Guedes

por Alexsandra Tavares*

A coleta seletiva nos municípios brasileiros é um dos instrumentos previstos na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) com a finalidade de reduzir a geração e o impacto do lixo no planeta. Em João Pessoa, o serviço existe, e segundo o superintendente da Empresa Municipal de Limpeza Urbana (Emlur), Ricardo Veloso, “está disponível em toda a cidade, mediante adesão da população”.

Quem deseja adotar essa prática sustentável basta separar o lixo molhado (orgânico) dos resíduos secos, aqueles que podem ser reaproveitados (papel, metal, plástico e vidro). O próximo passo é entrar em contato com os canais de comunicação da Prefeitura de João Pessoa para que o material seja recolhido, pois a forma de coleta varia conforme o tipo de moradia e o bairro.

Vale ressaltar que a coleta mecanizada municipal é voltada apenas para os moradores de condomínios que têm mais de três pavimentos. Outra forma de atendimento à população é por meio de associação de catadores. Há 13 bairros da capital em que as moradias recebem o serviço de coleta seletiva por meio de associações de catadores que trabalham em parceria com o poder público municipal.

O projeto é realizado nos bairros: Mangabeira, Jardim Cidade Universitária, Jardim São Paulo, Colibris, Bancários, Jardim Oceania, Bessa, Aeroclube, Cabo Branco, Tambaú, Bairro dos Estados, Pedro Gondim e Treze de Maio. Quem não é assistido por essas entidades, nem mora em condomínio com mais de três pavimentos, deve fazer a seleção dos resíduos em casa e levar o material para a sede da Emlur, que fica no Bairro dos Estados.

De acordo com Ricardo Veloso, é importante a população ter consciência sobre o descarte correto e o reaproveitamento dos resíduos sólidos. “Esta é uma responsabilidade compartilhada com a sociedade. Temos um compromisso com as gerações futuras e, por isso, trabalhamos para a preservação do meio ambiente, considerando o bem-estar da população. Só conseguiremos uma mudança de paradigmas com o engajamento da população nesta causa”, declarou Veloso.

O geógrafo, mestre em Gestão Ambiental e doutor em Geociências, Rogério dos Santos Ferreira, frisou que a coleta seletiva, por separar na fonte o descarte, facilita o reaproveitamento de vários materiais. Essa reutilização traz benefícios ao planeta, uma vez que diminui a retirada de matéria-prima da natureza, evitando ainda o descarte de muitos resíduos não decompostos que causam sérios danos aos ecossistemas terrestres e aquáticos. 

De acordo com Rogério, a cadeia produtiva da reciclagem é complexa e rentável, trazendo emprego e renda para muitos trabalhadores, portanto, tem ainda seu viés social. “Todo produto descartado teve um custo de produção e um valor quando reintroduzido. Neste caso, quanto mais se recicla, reaproveita ou reusa, mais se economiza no valor da produção, pelo barateamento da matéria-prima ou do consumo naquilo que deixou de ser descartado e substituído por um novo.”, disse.

De acordo com ele, esse ciclo está ligado à coleta seletiva feita, em larga escala, por pessoas que vivem da catação e da venda destes materiais. A prática alimenta um “novo e próspero mercado de trabalho e renda”, mas muitos ainda atuam “sem estrutura adequada e na clandestinidade”.  

Rogério Santos afirmou também que a cultura do desperdício, infelizmente, é algo comum no dia a dia de vários governos, empresas e da sociedade em geral. No entanto, o cidadão consciente  pode ser multiplicador do pensamento ecologicamente correto. “Ele deve, às vezes, fazer papel de educador ambiental, descartando seu material de forma seletiva, recolhendo o lixo dos ambientes públicos (praias, rios, prédios, shows) como forma de chamar a atenção de outras pessoas, além de cobrar do poder público o seu papel socioambiental”, acrescentou o geógrafo.

Formas de aderir ao serviço em JP

A coleta seletiva em João Pessoa, segundo a Emlur, é operada de duas maneiras: por meio do recolhimento realizado pelas associações de catadores em 13 bairros da capital e aquele feito pela equipe da autarquia nos condomínios residenciais, que têm mais de três pavimentos. A adesão deve ser feita pelo síndico e o recomendado é reunir o resíduo de várias moradias. Quem não está incluído nessas duas situações, deve levar o material até a sede da Emlur, que fica situada na Avenida Minas Gerais, 177, Bairro dos Estados. 

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Emlur mantém a coleta domiciliar e a de condomínios - Foto: Roberto Guedes

Toda demanda recolhida pelas associações de catadores nas residências é levada para os núcleos de coleta seletiva. Nesse local, o material é prensado e, depois,  comercializado pelos catadores nas  indústrias. As entidades apoiadas pela Emlur são: a Associação dos Trabalhadores de Material Reciclável (Astramare), Tribo de Judá, Associação dos Catadores de Recicláveis de João Pessoa (Ascare-JP) e a Acordo Verde. Ao todo, são aproximadamente 250 catadores em atuação.

Com relação aos condomínios, a coleta seletiva teve avanço esse ano. No final de maio, a Emlur lançou o Programa Municipal de Coleta Seletiva, ampliando o serviço e alterando a forma de operacionalização da reciclagem na capital. Inicialmente, foram entregues 50 pontos de coleta, com previsão de liberar mais 50, posteriormente. Segundo a Emlur, há planos para ampliar o serviço para outras residências. 

O síndico de condomínios, com mais de três pavimentos, que deseja aderir ao serviço deve acessar o site da Prefeitura de João Pessoa (www.joaopessoa.pb.gov.br), clicar em “Prefeitura Conectada”, escolher a opção “Atendimento ao Cidadão” e, em seguida “Zeladoria”. 

Outro serviço público municipal de coleta que pode ser solicitado por qualquer pessoa por meio desses canais, independentemente do tipo de moradia, é o projeto “Cata-Treco”, voltado ao recolhimento de móveis e eletrodomésticos velhos. A população também pode agendar esse serviço, de segunda a sexta-feira, em horário comercial, por meio dos números de telefone da Emlur: 3213. 4237 e 3213.4238.

Ensinamento sustentável desde a infância

Independentemente da iniciativa do poder público, a população pode fazer a sua parte no trabalho da coleta seletiva. A arquiteta Maria Helena de Andrade Azevedo, que mora em um apartamento no bairro dos Expedicionários, aprendeu a ter uma postura ecologicamente correta desde criança, devido ao exemplo da família. Ela relembrou que o pai usava caixas de papelão para transportar as compras de supermercados para casa. “Depois, ele usava essas mesmas caixas para acondicionar o lixo que seria recolhido pelo caminhão da coleta tradicional”, disse.

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Maria Helena de Andrade faz questão de separar os recicláveis - Foto: Roberto Guedes

Outros exemplos de sustentabilidade deram suporte para que a arquiteta fizesse a coleta seletiva dentro de própria casa. Maria Helena afirmou que a mãe costumava comprar produtos, como desinfetante e cera líquida em uma loja onde o consumidor levava os próprios vasilhames. Além disso, a matriarca da família separava tudo o que poderia ser reciclado. Com esses modelos de sustentabilidade, Maria Helena aprendeu desde cedo a se preocupar com o meio ambiente. Ela seleciona latas, garrafas plásticas, papelão para dar uma finalidade sustentável. “Eu tenho um coletor na área de serviço e tudo que é de plástico e pode ser reciclado é higienizado e fica armazenado nele. Quando o coletor enche, recolho tudo e deixo com o zelador do edifício onde moro. Ele entrega esse material às famílias que trabalham com coleta de recicláveis aqui na rua. As embalagens de medicamentos, deixo nos coletores nas farmácias”. Ela ainda compra roupas que de empresas que tenham vínculos com a sustentabilidade, como as da marca Refazenda. Uma das peças que a arquiteta tem no guarda-roupa é feita de algodão, com forro de material de reuso, e botão feito com a quenga do coco.

Maria Helena também une a sustentabilidade a uma causa social, ajudando os animais de rua por meio da reciclagem de tampinhas plásticas, de qualquer cor ou produto. Maria Helena já divulgou a ideia dentro do condomínio e nos locais que têm acesso como padaria, lanchonete e escola. O objetivo é reunir o máximo possível de tampinhas plásticas. O material recolhido é repassado para instituições de proteção aos animais de rua, que separam o material, vendem e, com o dinheiro, compram ração ou medicamento para os cães e gatos que vivem na rua.

Para ela, se o consumismo e as atitudes não ecológicas continuarem no ritmo que estão, o planeta não vai resistir. “É preciso agir, mesmo que num trabalho de formiguinha. É fundamental ter responsabilidade ambiental, e ela pode começar nas nossas ações cotidianas. Quando vou ao supermercado, tenho as minhas próprias cestinhas, e as compras não são embaladas em sacolas plásticas. Eu sou aquela cliente que leva as cestinhas de casa”, ressaltou.

Sudema criou programa para fomentar a reciclagem

Além do poder público municipal, órgãos estaduais também contribuem com a reciclagem de produtos. No final de 2022, a Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) lançou o EduColetar, programa permanente que visa estimular a coleta seletiva em alguns municípios da Paraíba. A técnica em Controle Ambiental do órgão, Nathália Flôres, afirmou que o objetivo geral do projeto é realizar capacitações voltadas para professores e agentes de saúde e endemias, promovendo educação socioambiental voltada aos resíduos sólidos.

Até o momento, foram feitas capacitações no município de Ingá, mas outros municípios já demonstraram o interesse pelo programa. Segundo Nathália, a Sudema já está planejando a implantação do EduColetar em cidades como São Mamede, Picuí, Caaporã e Pitimbu.

“O projeto EduColetar espera que, com um entendimento correto sobre a coleta seletiva, as pessoas capacitadas possam trabalhar tais questões de forma a sensibilizar outros cidadãos a adotarem medidas corretas em relação à geração e destinação de resíduos sólidos”, frisou Nathália.

A capacitação da Sudema ocorre por meio de cursos, oficinas, palestras e outras atividades educativas. “Ao capacitar essas pessoa, construímos uma rede de multiplicadores da temática ambiental, que conseguem, a partir do seu trabalho e contato diário e pessoal com a sociedade, estimular a prática da coleta seletiva e gerenciamento correto dos resíduos. Dessa forma, o projeto EduColetar chega para somar às prefeituras e ao meio ambiente, criando uma nova linha de atuação com a sociedade, e trazendo uma nova perspectiva de mudança do atual cenário ambiental.”, disse a técnica.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 23 de julho de 2023.