Melhor qualidade de vida, carga horária fixa, crescimento profissional e, especialmente, estabilidade financeira são os principais motivos pelos quais milhares de pessoas decidem entrar no universo dos concursos. Todavia, conseguir uma vaga no serviço público exige muita dedicação, estudos e até mesmo renúncia. Cada dia mais concorridos, os candidatos estão se preparando como se fossem competir uma corrida de 100 metros, onde quem chega primeiro ganha a medalha de “ouro”, ou seja, a tão sonhada vaga.
Mas o que uma pessoa que vai fazer o primeiro concurso da sua vida precisa saber para se preparar bem? A especialista em concursos, Paula Miguel, aponta que a primeira coisa a se saber é qual área você quer seguir profissionalmente. Após isso, iniciar a busca por editais os quais deseja se inscrever.
“Eu sempre digo que a Bíblia do concurseiro é o edital. Se não tem o edital atual, lê o passado. Se não tem o passado, começa a se atualizar com os meios de comunicação em geral, porque a gente precisa ter um norte. Identificar qual é a área que quer atuar, se eu tenho um perfil mais administrativo, operacional, de rua, comercial, para poder atingir o cargo que você quer”.
Ela comenta que muitas vezes, as pessoas acabam se inscrevendo em concursos que não têm o seu perfil e quando são aprovados acabam desistindo porque não era aquilo que estavam esperando. Por isso, é muito importante ter esse conhecimento pessoal do que realmente deseja seguir no futuro. “Já aconteceu de alunos passarem em concursos e pedir exoneração porque não se identificou com o cargo. Isso acontece muito na área policial”. Ela destaca que as pessoas não devem pensar só no financeiro, mas também na sua “saúde mental”.
“Não é só a questão financeira. O financeiro inclusive quando se passa por essas etapas é secundário. Porque obviamente as pessoas tentam linkar o financeiro com felicidade, só que quando se trata de um cargo que você não se identifica e o dinheiro que recebe, você se torna um ser humano infeliz. Então, o ideal é você se identificar na área primeiramente para começar a estudar. Até porque quando a gente começa em busca de algo por sonho o engajamento, a motivação, o combustível é outro”.
“Não existe receita de bolo”
O professor Ronie Gleison, que leciona disciplinas relacionadas ao direito, como administrativo, constitucional, penal, legislação extravagante e leis específicas de carreira, frisa que para quem está começando a estudar a primeira coisa é “encontrar o seu jeito”. Em outros termos, cada pessoa tem um perfil diferente, tem quem estuda em casa, quem precisa fazer um cursinho, o que se adapta a aulas gravadas.
“Tem gente que aprende muito em casa, com aulas remotas, aulas gravadas e consegue absorver o conteúdo, praticar em casa e se desenvolve bem. Tem as que não consegue”.
Vale manter a disciplina e o ritmo do estudo
“A primeira coisa para manter a disciplina é focando no seu objetivo. A pessoa quer ser policial, então sempre colocar na sua visão, na sua vida diária aquele desejo de ser policial. Quando ela foca no que ela quer alcançar, seja um professor concursado, alguém de tribunais, carreira administrativa”, frisa o professor Ronie.
Ele esclarece que é preciso focar no seu objetivo, pensando no processo necessário para chegar lá. Manter uma rotina de estudos, saber dividir os horários de estudos e para quem estuda e trabalha, não negociar de jeito nenhum os horários de estudos.
“A principal dificuldade dos alunos é manter foco, porque hoje em dia nesse mundo de internet, vida interativa de múltiplas opções, a gente acaba vivendo em multiplataformas e acaba, às vezes, dificultando quem quer estudar, porque para estudar tem que ter uma renúncia, tanto de atividades pessoais como de atenção mesmo. E o aluno concurseiro tem dificuldade para focar”.
Para quem tem dificuldade em estudar sozinho e manter a disciplina, Paula Miguel indica os cursinhos preparatórios porque eles encurtam alguns processos. “O papel do cursinho, além de ensinar e fazer com que o aluno entenda todo conteúdo, é fazer o mapeamento das bancas, das questões, trabalhar de forma bem objetiva nos conteúdos que caem em concurso”, aponta. “Dá para estudar em casa, mas sozinho eu não indicaria”, ressalta o professor Ronie.
Candidatos buscam empregos estáveis
A administradora e concurseira, Vanessa Oliveira, começou a estudar para concursos há um ano e meio e estuda para carreiras policiais. Ela conta que estuda mais de oito horas por dia, de domingo a domingo. E que a maior dificuldade dela é em relação a concentração. “Pois qualquer barulho consegue me tirar o foco”.
Ela comenta que o motivo que a levou a estudar para concurso foi a busca da tão sonhada estabilidade. “Alguns órgãos possuem melhorias de cargo, carreira e salário, e isso dá um pouco mais de segurança e motivação para trabalhar e buscar sempre uma evolução. Acredito fielmente que se você exercer sua função de forma honesta, eficiente e proativa, terá bons frutos”.
Ela ressalta que durante anos buscou isto nos lugares onde trabalhou e não obteve êxito, por isso decidiu se dedicar aos concursos. “Quero entrar em alguma instituição onde eu possa ser reconhecida pelo meu trabalho”
O concurseiro João Rufino trabalha como segurança e fala da dificuldade em conciliar os trabalhos com estudos. Ele conta que tenta conciliar os horários de estudo com os que está de “plantão”. E que aproveita as folgas para focar no seu objetivo. “Minha maior dificuldade é manter o equilíbrio para estudar de forma qualitativa, devido a correria, o dia a dia, os compromissos para resolver, as responsabilidades”. Ele conta que há pouco mais de um ano perdeu o seu pai que era funcionário público e uma grande inspiração, mas que apesar da perda ele está conseguindo manter esse equilíbrio e continuar sua trajetória buscando o tão sonhado cargo público.
A assistente social, Evaneide Santos, afirma que conciliar trabalhos e estudos também é sua maior dificuldade. “Sou formada e trabalhar e conciliar estudos se torna bem puxado.
É difícil focar quando você tem tantas atribuições cotidianas. São vários fatores que envolvem esse momento e tentar manter o equilíbrio da saúde física e mental são importantíssimos para atingir a aprovação”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 19 de novembro de 2023.