A autoestima é um fator crucial para o bem-estar emocional e psicológico em todas as faixas etárias e, na terceira idade, seu impacto pode ser ainda mais profundo. No entanto, questões como mudanças no corpo, aposentadoria e perda de entes queridos podem desafiar a percepção positiva acerca da própria imagem, o que requer a descoberta de novas formas de se valorizar e de abraçar a própria identidade.
"Tem idosas que passam o ano inteiro confeccionando os seus vestidos. Essa felicidade me traz muita alegria. É uma celebração da vida"
- Fabrício Oliveira
Este é o ponto de partida para a realização da quarta edição do concurso Miss e Mister Longevidade, em João Pessoa. A competição acontece no próximo domingo (25), a partir das 15h, na praça de alimentação do Liv Mall, no bairro Jardim Oceania, com apresentação da comunicadora Thereza Madalena. A expectativa da organização é de reunir, em média, 300 pessoas, entre público e participantes.
Não é cobrada taxa de inscrição e, para participar, os interessados só precisam ter idade acima de 60 anos e morar em João Pessoa, no mínimo, há dois anos. Além da Miss e do Mister Longevidade, também será eleita a Miss Simpatia Longevidade.
História
A ideia para a realização do concurso surgiu em 2016, quando o psicólogo e gerontólogo Fabrício Oliveira foi um dos jurados de uma competição voltada apenas a participantes idosos, em São Paulo. Retornando da cidade paulista, ele decidiu implementar algo parecido na capital paraibana. O plano, porém, só se materializou três anos depois, em 2019. Em função da pandemia de Covid-19, a segunda edição só aconteceu em 2022.
“O evento tem o propósito de levar autoestima para a pessoa idosa e também de realizar o sonho de mulheres que, antigamente, assistiam ao Miss Brasil e tinham o desejo de participar”, explica Fabrício Oliveira.
Desafios
Planejar e executar o Miss e Mister Longevidade requer muito esforço e resiliência para superar desafios e entregar um evento gratuito e bem organizado. Mas, para Fabrício, o principal entrave é a falta de patrocinadores. “A gente esbarra em muitas empresas que não olham para o idoso como consumidor, como um ser que gasta. É difícil conseguir brindes e parcerias, porque os empresários não olham o idoso como um ser social”, relata o psicólogo.
Por outro lado, são inúmeros os motivos que o fazem continuar nessa missão. “A alegria é ver os olhos daqueles idosos desfilando, falando que o importante não é ganhar, o importante é estar ali, presente, participando. Tem idosas que passam o ano inteiro confeccionando os seus vestidos. Então, essa felicidade, esse empoderamento, é o que traz mais alegria para mim, como pessoa e como profissional da área do envelhecimento. É uma celebração da vida”, expressa.
Inclusão
Além de promover a autoestima dos idosos, o concurso busca combater o preconceito contra pessoas idosas. “O etarismo é enraizado em nossa sociedade. As pessoas gostam de ditar regras, limitar o comportamento dos idosos. Esse é um dos pontos principais do meu trabalho, combater o preconceito que machuca os idosos, fazendo com que eles sofram com a depressão e o isolamento social”, pontua Fabrício Oliveira.
Exemplo
O psicólogo espera que outras iniciativas, como o concurso Miss e Mister Longevidade, possam surgir e que a valorização da pessoa idosa se torne um padrão em nossa sociedade.
“Eu luto para que tenhamos outros eventos, porque o idoso gosta de festa, de se divertir. A partir do momento em que sai de casa, ele faz um tratamento social de saúde mental. Não está em casa pensando em problema, está se divertindo, então, quando ele volta para casa, ele volta outra pessoa”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 23 de agosto de 2024.