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Dia do solteiro

Convivendo com a própria companhia

publicado: 15/08/2023 13h08, última modificação: 15/08/2023 13h08
Especialista enfatiza que estar em um relacionamento ou sem compromisso tem mais a ver com a maturidade afetiva
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Danielle Azevedo define grupos de solteiros por opção ou por condição - Foto: Arquivo Pessoal
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Babi Neves diz que não tem solidão, tem solitude - Foto: Arquivo Pessoal
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por Sara Gomes*

Hoje, 15 de agosto, é comemorado o Dia do Solteiro. Enquanto a data para alguns é motivo de tristeza pois as relações amorosas estão cada vez mais superficiais, existe aquele solteiro que lida bem com a própria companhia.

A psicóloga e sexóloga, Danielle Azevedo, define dois grupos de solteiros: por opção ou por condição. Quando se fala do solteiro por opção, provavelmente, é aquela pessoa que viveu uma experiência traumática no relacionamento (divórcio, traição, morte do companheiro) ou já se apaixonou tão intensamente por alguém que não consegue mais vivenciar a mesma esfera de conexão afetiva no relacionamento seguinte, tomando a decisão de se dar um tempo. “Observo que a maioria das pessoas nunca viveu essa pausa na vida. Nunca parou para vivenciar a solitude (estar bem consigo mesma), seja apreciando a natureza, prestando atenção nas suas qualidades e o que almeja para sua vida. Nesse momento de resiliência, as pessoas devem olhar para si, sua saúde e bem-estar. Tudo isso eu chamo de autoapreço”, disse.

Já os solteiros por condição, segundo a psicóloga, são aquelas pessoas que querem um relacionamento mas não conseguem por algum motivo. “O solteiro passa a sofrer pela condição de estar solteiro, não conseguindo vivenciar a beleza da solitude: se divertir com seus amigos, família, ter um momento com a natureza, ouvir a música preferida. Ou seja, gostar da própria companhia”, diferenciou.

Danielle Azevedo enfatiza que estar em um relacionamento ou estar solteiro não tem a ver com idade cronológica mas, sim, com a maturidade afetiva. “Eu tenho pacientes de 70 anos que não são maduros afetivamente. Tenho um paciente que nunca casou na vida mas vive em função de festa e bebida. Na mente dele, o fato dele ter muito dinheiro, acredita que pode comprar afeto. Ou seja, ele não desenvolveu a maturidade afetiva, que está vinculada à responsabilidade afetiva, empatia e ao cuidado com o outro”, disse.

A jornalista Babi Neves, 73 anos, foi casada por muitos anos. Desde que se separou teve alguns relacionamentos, mas com a maturidade percebeu que convive bem com a própria companhia. “Todos os homens são iguais. Tudo calça 40, só muda o endereço. Não tenho mais paciência para relacionamento”, disse. Ela gosta de viajar, sair com as amigas e de assistir filmes e séries no tempo livre. “Eu não tenho solidão, tenho solitude. Sou dona do meu nariz”, disse.

"Todos os homens são iguais. Tudo calça 40, só muda o endereço. Não tenho mais paciência para relacionamento" Babi Neves

Atualmente adotou uma cadela de três anos. “Estou com ela há um mês, prefiro um animal adulto porque filhote requer muito cuidado. Ela tem sido uma boa companhia”, disse. Babi tem amigas que conheceram pessoas através de aplicativos de paquera e que evoluíram para um namoro, mas a jornalista não é adepta. “Nunca instalei aplicativo de paquera porque nunca me atraiu essa forma de conhecer alguém. Essa não é a minha vibe, prefiro o acaso”, disse.

Embora não esteja nos seus planos conhecer alguém, Babi diz que a pessoa teria que ser muito inteligente, educada e culta para fazê-la mudar de ideia.“Conhecer alguém não é uma prioridade, mas como meu nível de exigência é alto, a pessoa teria que ser no mínimo muito inteligente para me conquistar”, disse.

As pessoas deturparam o propósito dos aplicativos de paquera. O que deveria ser um meio facilitador de encontrar uma pessoa com interesses comuns, acabou se tornando uma plataforma que, na maioria das vezes, as pessoas se relacionam visando apenas a atração física, as conexões afetivas ficaram em segundo plano.

Na percepção de Rômulo Rathge, 24 anos, os relacionamentos de maneira geral estão cada vez mais instantâneos. “É mais do que normal sentir atração por alguém e querer dar uns beijos ou querer ter companhia em um show que tu curte. No entanto, vejo que as pessoas se acostumaram com pouco, a aceitar menos do que merecem. Se a pessoa demonstra o que sente ou é claro nas intenções, já é estigmatizado de emocionado”, disse.

As pessoas estão muito inseguras para demonstrar sentimentos. O último relacionamento de Rômulo durou duas semanas, mas para ele teve a intensidade de um ano. De repente, ela acabou a relação com a justificativa de que não poderia se apaixonar por ele no momento, então o bloqueou sem dar grandes explicações. “As pessoas hoje em dia não lutam pelos seus relacionamentos, preferem se afastar a dialogar sobre o que precisa ser melhorado. Eu prefiro continuar tendo esse olhar poético para minhas relações. Hoje as pessoas entram e saem de nossas vidas sem qualquer responsabilidade afetiva. Em segundos, apagamos tudo e bloqueamos o outro no menor sinal de divergência. A pessoa passa a não existir mais pra você”, frisou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 15 de agosto de 2023.