A polêmica envolvendo cortes no tempo de apresentação do paraibano Flávio José no São João de Campina Grande gerou repercussão nacional. Na sexta-feira passada (2), o forrozeiro reclamou de ter que reduzir seu show para se adequar a determinações da organização do evento, que supostamente estaria priorizando a apresentação do cantor sertanejo Gusttavo Lima. Além de repercutir na imprensa brasileira, o debate sobre a situação também recebeu destaque nas redes sociais.
Ao subir ao palco do Maior São João do Mundo, o forrozeiro Flávio José informou ao público que possivelmente não conseguiria cantar todas as músicas programadas para sua apresentação, porque acabara de saber que o tempo reservado para seu show havia sido cortado. Diante da notícia de que teria menos 30 minutos de show, Flávio desabafou, também, sobre as condições oferecidas por grandes eventos a artistas nordestinos. “Me disseram que eu só podia tocar 1h10. Eu não tenho nenhum show para sair correndo pra fazer. […] Não foi uma ideia minha. Infelizmente são essas coisas que os artistas da música nordestina sofrem. É isso. ‘Precisa cantar 1h30 não, 1h tá bom’”, protestou.
Depois de Flávio José, o cantor sertanejo Gusttavo Lima subiu ao palco, teve seu show ampliado e entreteu o público por aproximadamente três horas. Com isso, a população reverberou a fala de Flávio José nas redes sociais e levantou o debate sobre a participação de artistas nordestinos, sobretudo paraibanos, em eventos de grande porte, como o São João de Campina Grande. “São João é forró. Não é sertanejo. Viva Flávio José! #RespeitoÀCulturaNordestina”, comentou uma internauta em publicação feita pelo forrozeiro no Instagram. “Podem tentar, mas não deixaremos jamais o candeeiro se apagar. Respeito ao verdadeiro forró”, comentou outro usuário da rede social na mesma publicação. Na imprensa, o caso também ganhou destaque e veículos como o Estadão, a Folha de São Paulo e O Globo repercutiram a situação.
No sábado (3), o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (PSD), se manifestou dizendo que é forrozeiro raiz e que faz três anos consecutivos que Flávio José é o artista mais ouvido em seu streaming musical. “Lamento muito o ocorrido ontem, durante as passagens de som de uma banda para outra, que terminou encurtando em 20 minutos a apresentação de Flávio. Minha solidariedade a ele”, disse Bruno.
Em nota, a prefeitura de Campina Grande, pediu desculpas, prestou solidariedade ao artista e afirmou que não controla tempo ou ordem de apresentação dos artistas que sobem ao palco do Maior São João do Mundo: “Nós respeitamos todos os artistas e queremos fazer um evento que valorize a nossa cultura e a tradição de 40 anos do Maior São João do Mundo. Esta é uma edição com o maior número de atrações regionais. Nomes que nos orgulham, como Flávio José, Alcymar Monteiro, Chico César, Capilé, Biliu de Campina e tantos outros. Infelizmente, não conseguimos controlar a ordem dos shows, responsabilidade da empresa que venceu a licitação e realiza a festa. Mas estamos atentos e cobrando para que nossos artistas sejam respeitados e possam engrandecer o São João de Campina Grande”.
Após a polêmica na sexta-feira, Flávio José foi anunciado no domingo (4) como primeira atração do São João de Salvador e agora se apresenta no Pelourinho no dia 25 deste mês. O horário do show ainda não foi divulgado pela organização do evento.
Público reclama da estrutura
Ainda nas redes sociais, o público do Maior São João do Mundo tem se mostrado insatisfeito com um suposto e incipiente movimento de privatização do evento que, a cada ano, tem mais espaço reservado para patrocinadores e camarotes. Frente à redução dos espaços públicos no Parque do Povo, um usuário do Instagram comentou em uma publicação da Arte Produções, empresa responsável pela organização da festa em 2023. “Muita estrutura para stand de patrocinadores e etc. e pouco espaço para o público. Uma verdadeira falta de conhecimento e organização por parte da empresa e do prefeito. Aos poucos vai privando mais a festa que se diz ser do povo”, criticou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 6 de junho de 2023.