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Na Paraíba, alta foi de 550% entre MEIs abaixo de 18 anos no primeiro semestre

Cresce número de jovens donos do próprio negócio

publicado: 12/12/2022 09h40, última modificação: 29/12/2022 16h13
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Emilly Mayra faz parte do pequeno grupo de jovens que enfrentam os desafios de empreender - Foto: Foto: Arquivo pessoal

por Thadeu Rodrigues*

 

O número de abertura de empresas por microempreendedores individuais (MEIs) com idade abaixo de 18 anos aumentou 226,7%, no país, durante o primeiro semestre do ano, em comparação com igual período de 2021. Conforme levantamento da empresa Datahub, de janeiro a junho deste ano, 1.173 jovens tornaram-se MEIs, ante 259, no ano passado. Na Paraíba, o índice de crescimento é ainda maior: 550%, passando de quatro, no primeiro semestre de 2021, para 26, neste ano. Segundo a Datahub, há 2.328 MEIs ativos com essa faixa etária, no Brasil.

A analista da Unidade de Educação Empreendedora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Paraíba (Sebrae-PB), Renata Câmara, afirma que a internet, além de diversificar as fontes de entretenimento, também passou a ser um espaço de maior exploração por parte dos jovens para encontrar meios de ganhar renda, principalmente durante e após a pandemia de Covid-19.

“Seja para ajudar pais desempregados ou em dificuldades financeiras, ou para ter uma fonte de renda própria, os jovens viram uma oportunidade na internet. Como essa geração tem muito mais facilidade de usar e explorar oportunidades na internet, acaba se empolgando para dar o primeiro passo para empreender”, comenta Renata Câmara.

Aos 17 anos, a empreendedora Emilly Mayra montou sua loja de roupas femininas on-line em 2020, por sugestão de um ex-namorado. Ela conta que o começo foi difícil, mas em alguns meses, o negócio já estava funcionando. Inicialmente, a loja permaneceu na informalidade, até que, ao completar 18 anos, Emilly abriu o CNPJ e tornou-se MEI.

“Por questões pessoais, eu precisei dar um tempo nas atividades da loja, mas desde o mês passado, estou me organizando para retomar, aproveitando este final de ano e o verão”, conta Emilly Mayra. Ela tem 19 anos e cursa Publicidade e Propaganda, em João Pessoa. O aprendizado nas aulas ela já põe em prática na loja. As vendas são feitas pelo Instagram, mas ela vai reativar o site da marca para servir como mais um canal de negócios.

Como MEI, a jovem faz tudo sozinha. Viaja para comprar a mercadoria em Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro, separa os pedidos das clientes e faz o envio pelos Correios. Sobre a motivação de começar a trabalhar tão cedo, ela afirma que não se vê trabalhando para outra pessoa. “Nunca gostei de depender de ninguém, então, como sempre fui ligada em internet, moda e produção de conteúdo, aproveitei para empreender”.

Iniciativa é positiva, mas deve ser orientada 

Para Renata Câmara, o empreendedorismo nesta faixa etária é um bom sinal de adaptação dos jovens aos desafios da vida e do mercado. Porém, é preciso controlar a euforia para não investir sem um planejamento mínimo. “A publicidade digital e a inclusão digital de empresas tradicionais são campos bastante explorados pelos jovens”, aponta. A adolescente Ismaelly Carvalho foi por este caminho. Ela começou criando a identidade visual de sua loja e logo expandiu o trabalho para outras empresas.

Ismaelly tem 16 anos e, aos 15, deu ouvidos ao seu anseio de ter independência e procurou algo com o que se identificasse, a venda de semijoias. Ela achou fornecedor no Instagram, fez o teste dos produtos e começou a revendê-los. As clientes são amigas dela e da mãe, e os seguidores do perfil da loja na rede social.

“Eu ainda não estou formalizada, mas meus pais me apoiam. Minha mãe faz os pedidos no nome dela e eu realizo todo o trabalho de vendas. Eu sempre gostei de design e fiz a identidade visual da minha loja. Ao perceber essa habilidade, eu comecei uma segunda atividade, produzindo os designers para papelaria e alguns estabelecimentos de beleza e estética”, afirma.

A venda de semijoias ainda dá os primeiros passos, mas Ismaelly está animada. Ela vende coleções novas a cada dois ou três meses. “Se eu compro uma média de 50 peças, consigo vender 40. Aos poucos, a rede de clientes vai crescendo”. Quanto ao faturamento, é em média de R$ 500 a R$ 600 por mês. Mas ela não gasta o dinheiro, investe em mercadorias e nas formas de apresentação do produto.

A vida da adolescente é bem movimentada. Cursando o segundo ano do Ensino Médio, pela manhã ela se dedica à loja e aos produtos, e no turno da tarde estuda. Quando concluir o Ensino Médio, ela pretende cursar faculdade de Psicologia e continuar as demais atividades.

Maior crescimento
Pesquisa da Datahub indica que, considerando as faixas etárias, apenas as de menores de 25 anos apresentaram crescimento no número de abertura de empresas, no primeiro semestre do ano. As demais faixas tiveram queda de 6,5% (25-29 anos), 8,3% (30-39 anos), 9,1% (40-49 anos), 12,3% (50-59) e 15,4% (60 anos ou mais). No geral, a redução foi de 4,8%. Nos seis primeiros meses do ano, foram abertas 1.549.606 MEIs, ante 1.627.745 no mesmo período de 2021. A abertura de empresas por jovens de 18 a 24 anos cresceu 16,7%, neste semestre, com o surgimento de 279.106 MEIs.

Para o Chief Product Officer (CPO) da Datahub, André Leão, a internet é fundamental para a criação de novos negócios pela população mais jovem. “Podemos tomar esse aumento como reflexo de jovens que estão vendo o empreendedorismo como fonte de renda, impulsionado sobretudo pela internet, que se mostrou durante a pandemia uma importante ferramenta para criação de novos negócios e oportunidades”.

O microempresário Lucas Arruda viu uma oportunidade em meio às dificuldades da pandemia de Covid-19. Ele estava desmotivado com o curso de Engenharia de Produção e começou a economizar, trabalhando com transporte por aplicativo. Mas com a pandemia, parou as atividades porque morava com os avós. “Foi aí que resolvi abrir a pizzaria com o meu avô. Reformamos um quarto da casa e montamos o estabelecimento apenas com o serviço de entrega, em outubro de 2020”, conta.

Na época, Lucas tinha 23 anos e começou como MEI, mas logo tornou-se microempresário. Com o tempo, passou de um para quatro funcionários e mudou para um ponto comercial. “Agora, estamos reformando o local porque vamos iniciar o atendimento presencial. Fiz capacitações em empreendedorismo e estamos recebendo consultoria do Sebrae”, diz.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 11 de dezembro de 2022.