Em média uma gestação considerada normal varia de 37 a 42 semanas contadas a partir do primeiro dia da última menstruação. Quando é necessário interromper a gravidez antes desse período diz-se que o bebê é prematuro. Ele pode ser classificado de acordo com a idade gestacional ao nascer. Caso tenha nascido entre 36 e 37 semanas ele é classificado como limítrofe; entre 31 e 36 semanas, moderado; e entre 24 e 30 semanas é um prematuro extremo.
Segundo relatório divulgado em maio deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em conjunto com o Parceria para a Saúde Materna, Neonatal e Infantil (PMNCH), o Brasil apresentou uma queda na taxa de nascimentos prematuros nos últimos 10 anos. Em 2010, cerca de 12% do total de nascimentos acontecia de forma precoce, caindo para 11,1% em 2020. Apesar de ter apresentado uma redução pequena, o dado coloca o país entre os 10 países que conseguiram reduzir a taxa de prematuridade de forma mais rápida na última década.
No Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde, cerca de 340 mil bebês nascem prematuros todo ano, isso equivale a seis ocorrências a cada 10 minutos e 931 por dia. E que mais de 12% dos nascimentos no país acontecem antes de completar 37 semanas, o que corresponde ao dobro do índice de países europeus.
Como forma de conscientizar pais, familiares e profissionais sobre a prematuridade, desde 2011, no dia 17 de novembro é comemorado no país, o Dia Mundial da Prematuridade. O mês é também dedicado à realização de ações com objetivo de sensibilizar a sociedade sobre as causas e as consequências de um parto prematuro, o Novembro Roxo.
Esse ano a campanha do Novembro Roxo tem como tema “Pequenas ações, grande impacto: contato pele a pele imediato para todos os bebês, em todos os lugares”. Várias ações estão sendo programadas em todo país para alertar sobre a prevenção e os cuidados com os prematuros.
De acordo com a médica pediatra Patrícia Karla, Coordenadora da Unidade Neonatal da Maternidade Frei Damião em João Pessoa, durante todo o mês estão programadas ações voltadas para mães, pais e familiares. “Teremos atividades de relaxamento, formação de profissionais e no dia dedicado à Prematuridade será realizado um café da manhã.
Maternidades adotam o método canguru para recém-nascidos
Criado na Colômbia, o método canguru nasceu com propósito de diminuir a taxa de mortalidade neonatal no país. Sendo um modelo de assistência ao recém-nascido e aos seus familiares. A ideia é que através do contato do bebê com a mãe, melhore a estabilidade térmica, substituindo as incubadoras. Permitindo ainda a alta precoce do bebê de baixo peso, menor taxa de infecção hospitalar e maior qualidade da assistência.
“É um método muito eficaz porque envolve a família como um todo, prioriza que o bebê tenha a possibilidade do contato pele a pele. A gente consegue do ponto de vista hemodinâmico manter a frequência respiratória, controlar a hipotermia e consequentemente diminuir a taxa de mortalidade”, destaca Patrícia Karla.
A ideia é que através do contato do bebê com a mãe, melhore a estabilidade térmica, substituindo as incubadoras
A pediatra Euda Maria, coordenadora do Método Canguru no Instituto Cândida Vargas, reforça que os cuidados devem ser realizados antes mesmo do nascimento, com o pré-natal. “Os cuidados destes bebês vão desde o nascimento, internação e seguimento, com o intuito de manter boa temperatura, ganho de peso, evitar infecções e prevenir complicações”. Ela explica que nascendo prematuro, esse bebê é encaminhado para Unidade Neonatal e dependendo de suas condições clínicas vai para as etapas deste método, que pode ser Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin), Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional(Ucinco) ou Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (Ucinca). “O contato pele a pele é um dos pilares do Método Cangurú, e nesta Maternidade é iniciado o mais precoce possível”.
A médica Patrícia Karla ressalta a importância de manter os familiares próximos aos bebês. “Os pais tem acesso 24h por dia ao bebê. Os familiares podem fazer também visitas porque sabemos que eles precisam de uma rede de apoio no futuro, então é importante que o familiar também participe desse momento”. Todavia, ela lembra que tudo deve ser feito respeitando o momento do prematuro e da mãe, “a gente sabe que esse também é um período de muito estresse tanto para o bebê quanto para a mãe”.
Acompanhamento continua sendo feito após alta hospitalar
- Após alta hospitalar, o bebê precisa voltar ao ambulatório da maternidade para avaliação médica clínica - Foto: Divulgação/Maternidade Frei Damião
Em relação a alta hospitalar, a médica Euda Maria, explica que os bebês precisam estar bem clinicamente, ganhando peso e os pais com segurança nos cuidados. E que mesmo após a alta, a maternidade continua acompanhando os bebês e as mães.
A médica Patrícia Karla ratifica a importância desse cuidado pós-alta. Ela conta que após fazer 48h de alta, o recém-nascido precisa voltar ao ambulatório de egresso na maternidade para avaliação médica clínica. Na primeira semana a mãe deve ir pelo menos três vezes com o bebê para ser examinado, na segunda semana duas vezes e, a partir da terceira vez se faz um acompanhamento até ele atingir 2,500 kg, quando chega nesse peso passa a ser acompanhado pelo ambulatório da pediatria, mensalmente, até completar dois anos de idade.
Patrícia destaca ainda a importância do aleitamento materno para o desenvolvimento dos pré-maturos, especialmente pela sua capacidade de melhorar as funções nutricionais, neurológicas, na proteção de doenças, entre outros. “Outra importante política pública que devemos estimular é o aleitamento materno. As mães que também puderem doar seu leite nós temos uma rede de banco de leite, em que a equipe vai até o domicílio da mãe, entrega todos os materiais necessários para coleta, orienta e recolhe o leite. Não é necessário nem sair de casa”.
Saiba Mais
- Instituto Cândida Vargas – De janeiro até julho – 233 bebês foram atendidos pelo método canguru
- Maternidade Frei Damião – Até a primeira semana de novembro foram realizados 375 partos de bebês prematuros.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 14 de novembro de 2023.