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Dejetos de animais contaminam as ruas e transmitem doenças à população

publicado: 02/06/2017 00h05, última modificação: 08/07/2017 10h03
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A presença de animais sem donos fazendo suas necessidades em locais inapropriados é comum na calçada da orla de João Pessoa - Foto: Marcos Russo

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Rachel Almeida - Especial para A União

Mesmo com a disponibilidade de pontos de sacolinhas na orla de João Pessoa, alguns turistas e moradores se queixam da presença de sujeiras de animais em vias públicas. O descaso dos donos dos bichos de estimação foi tachado, em depoimentos de pessoas que passeiam pela região, como desrespeitoso e falta de educação. Dejetos de pets deixados em parques, jardins, ruas, calçadas, além do constrangimento social, podem gerar doenças tanto nos animais quanto nas pessoas que tiverem contato com eles, mais especialmente nas crianças.

De acordo com a Câmara Municipal de João Pessoa, existe uma lei criada em 2009, de nº 11.880, de autoria da vereadora Eliza Virgínia (PPS), que obriga o recolhimento dos resíduos fecais de animais conduzidos em espaços públicos. E caso ela não seja cumprida, o dono do animal deve pagar uma multa no valor de R$ 166,50.

No Brasil, existem mais de 50 milhões de cães e 22 milhões de gatos domésticos, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por isso, a atenção e os cuidados com os animais de estimação devem ser redobrados, segundo um alerta contido no artigo do especialista em condomínios da empresa GS Terceirização, Amilton Saraiva. Dentre as doenças causadas pelas fezes dos pets, as mais comuns são parvovirose, vermes e diarreia, que podem ser adquiridas tanto na ingestão como no contato com a sujeira dos animais.

Sabendo que o cachorro faz as necessidades assim que sai de casa, logo na calçada, o aposentado Guido Araújo procura sempre carregar um saquinho extra. “Passeio com ele duas vezes por dia, e ele faz as necessidades todas as vezes, então preciso estar sempre prevenido”, comentou o aposentado. “Juízo”, como o animal é chamado, teve esse nome porque antes de tê-lo, o filho de Guido não tinha juízo e só veio ter depois que teve o cachorro, segundo relata o aposentado. Para as pessoas que não têm o costume de limpar a sujeira de seus animais, Guido avalia como uma falta de educação, porque além de ser ruim para as pessoas, tal descuido prejudica os próprios animais.

A comerciante Rayssa Rossana e o marido Elias Arno, assim que saem com a cachorrinha, procuram os pontos de coleta para recolher a sujeira dela no momento em que ela se livra dos dejeitos. Rayssa comentou que os pontos de coleta ajudaram muito, pois muitas vezes eles esqueciam de levar os saquinhos. “Uma irresponsabilidade”, foi assim que a comerciante tachou as pessoas que não limpam as sujeiras dos animais. Rayssa ainda afirmou que é preciso deixar o ambiente limpo e propício para o uso para não causar constrangimento a alguém. “Aqui, na orla, até que não encontramos muita sujeira, mas nas calçadas dos bairros e nas residências encontramos demais os resíduos”, enfatizou a comerciante.

A técnica em Gestão da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) de Recife, Elane de Almeida Costa, comentou que “pensar em uma pessoa que não limpa algo tão simples como uma sujeira de um bichinho, deixa a gente indignada”. Ela afirmou que, hoje em dia, quando tudo está tão esclarecido, quando as pessoas têm acesso aos meios de comunicação, é uma falta de respeito fazer algo assim. “Não pode ser falta de consciência, porque é algo óbvio, as pessoas precisam preservar a limpeza e a saúde de todos”, enfatizou a técnica. Ao perguntar se ela tinha presenciado alguma atitude de donos de animais, Elane disse que tinha acabado de ver um animal fazendo as necessidades e o dono foi embora sem dar importância. “Vimos que existe dejetos de animais e o mal cheiro, e isso causa transmissão de doenças para as crianças e as pessoas mais sensíveis, como os idosos”, esclareceu ela.

Tanto o estudante Everton Camilo Batista, como a funcionária pública Maria Orleane Pereira disseram que, ao sair com o bichinho de estimação, os donos devem portar consigo as sacolinhas por onde quer que vão. O estudante contou que presenciou uma pessoa que estava passeando com o cachorro e, quando o animal fez necessidades, o dono não limpou. “Isso foi horrível, porque mostra que você não tem zelo com o seu próprio animal e com o lugar que você está. Então é bem ruim”, lamentou o estudante. Everton sugeriu que, mesmo com os pontos de sacolinha presentes na orla, a prefeitura também poderia colocá-los em outros lugares, como em praças, parques, calçadas, além de placas de conscientização e mais projetos nesse sentido para abrir os olhos das pessoas.

Maria Orleane disse que se uma pessoa tem um animal, então ela deve entender que é preciso uma mudança de costumes, e o primeiro passo para isso é a higienização para cooperar com a limpeza da cidade e evitar constrangimentos para a população. “As pessoas têm que ser mais educadas, andar sempre com o saquinho, e parar de fingir que não viu quando o cachorro faz xixi ou cocô nas calçadas”, cobrou. A funcionária pública disse ainda que a presença de pontos de saquinhos nas praias melhorou bastante, mas que ainda falta ser feito muita coisa.

Contaminação pode acontecer sem contato direto com as fezes Rayssa e Elias observaram que o recolhimento de fezes de animais é mais comum na Orla do que em ruas de bairros de João Pessoa

Rayssa Rossana e o marido Elias Arno dizem que o mesmo cuidado adotado por donos de animais na Orla, deveria também ser buscado pelos proprietários de animais nos bairros, ou seja, recolher os resíduos fecais em sacos plásticos.

Imagine ir a uma lanchonete, comer o prato favorito, e alguns dias depois descobrir que adquiriu uma doença transmitida por fezes de animais. Essa situação pode parecer não ter algum sentido, mas, de acordo com a professora de Veterinária da Universidade Federal de Sergipe, especializada em Patologia Animal, Clarice Macêdo Pessoa, “esses dois pontos podem estar totalmente relacionados de acordo com a situação”. Ela explicou que ao pousar nos dejetos dos animais, as moscas podem transmitir bactérias aos alimentos de restaurantes ou lanchonetes próximos às fezes dos bichinhos, e, a partir disso, algumas doenças podem ser adquiridas pelas pessoas. Os riscos de deixar o cocô de cachorro nas ruas aumenta a incidência das zoonoses, que são doenças transmitidas dos animais para o homem e vice-versa.

As verminoses são as doenças mais comuns, dentre elas estão duas, a do gênero toxocara e a ancylostoma. Esses vermes ficam no intestino dos cães, que quando defecam expelem um deles, a partir disso se um animal ou uma pessoa entra em contato com essas fezes, pode adquirir doenças causadas por essas verminoses. No caso da ancylostoma, a larva dele pode causar o bicho geográfico, as lombrigas, que ficam debaixo da pele. Esse verme é muito comum em quem brinca descalço em campos de areia, por isso as crianças são alvos mais propícios a adquirir essas doenças, pois ficam mais expostos em lugares como parques e praias, segundo adverte a veterinária Clarice Macêdo. “A verminose pode entrar no corpo humano ou do animal, através do contato oral ou físico”, explicou.

No gênero toxocara, apesar de também estar presente no intestino dos cães e ser adquirido por via oral e pelo contato físico, existe algo que o diferencia do gênero ancylostoma. De acordo com a veterinária Clarice Macêdo, a toxocara ao vagar no corpo, humano ou animal, se localiza mais nos órgãos internos, nas vísceras, e, enquanto procura um lugar ideal para se desenvolver, vai gerando lesões por onde passa. “Como o corpo humano não é o ideal para o verme, ele fica procurando um lugar ideal. Existem alguns casos de pessoas que ficaram cegas, porque as larvas migraram por dentro do olho”, acrescentou. Além deles, também tem a giárdia, que é um protozoário que esta associada à diarreia, que os animais também podem adquirir. “Os animais que estiverem com o parasita, por fora podem parecer estar bem, mas na verdade não estão”, alertou a veterinária.

Uma doença advinda das fezes dos animais que também é bem comum é a Parvovirose, de acordo com a especialista em clínica e cirurgia de pequenos animais do Petshop Saúde Animal, em Jacumã, Bárbara Menezes Lins. A especialista explicou que esta doença é causada por um vírus e a transmissão ocorre por meio feco-oral (por água ou alimentos contaminados pelas fezes), e que quando uma pessoa ou animal porta a enfermidade, ela é bem séria e difícil de ser tratada.

“A ingestão das fezes é o que causa essa doença, acontece muito quando o cachorro pisa nas fezes e por ter o costume de lamber as patas acaba adquirindo facilmente o vírus”, enfatizou Bárbara Menezes. A veterinária comentou que nas pessoas também ocorre por meio da ingestão, no caso, por exemplo, se o alimento estiver contaminado ou as mãos mal lavadas. Além dessa, existe um micróbio chamado Alavamideas, mais conhecido como verme de cachorro. Este precisa estar em um ambiente favorável, por exemplo, em areia, e por isso também é bem comum contagiar crianças.

Com relação a importância do recolhimento das fezes dos animais pelos proprietários, a especialista Bárbara Menezes frisou que, além de tirar o riscos dos outros animais, o dono pode evitar doenças no próprio bichinho, que pode manifestar pelas suas próprias fezes. “O animal que adquire a doença através da sua própria sujeira é o que chamamos de ‘reinfestado’”, acrescentou a especialista.

Com relação aos condomínios, além da consciência dos donos dos animais, as equipes de higienização precisam estar atentas para eliminar qualquer tipo de resquício de contaminação. Para isso, a higiene deve ser redobrada para que a limpeza possa reduzir ao máximo a incidência de doenças, já que elimina contágios com ações adequadas, como lavagem e produtos higienizadores apropriados, segundo informações do artigo do especialista em condomínios da GS Terceirização, Amilton Saraiva. Ele afirma que para locais de grande circulação, que é o caso dos condomínios, é recomendável a contratação de serviços profissionais, nos quais as pessoas encarregadas da limpeza tenham o conhecimento sobre a melhor forma de higienização geral – incluindo resquícios de fezes de animais - e qual a frequência ideal para o serviço.

Para tanto, o mais indicado é a contratação de empresas especializadas que trabalham com a terceirização do serviço e oferecem trabalhos de limpeza para pequenos, médios e grandes condomínios, tanto residenciais como comerciais.