Na sua estreia, ontem, o FliParaíba trouxe as primeiras ações do evento logo pela manhã, com o Encontro de Realizadores de Festas e Festivais de Literatura da Paraíba, que discutiu projetos que corroboram a divulgação do segmento. À tarde, livreiros de todas as regiões do estado inauguraram a feira literária. Essas e outras ações têm como palco o Centro Cultural São Francisco, no Centro da capital.
O encontro com os organizadores das feiras literárias contou com mais de 20 realizadores e foi mediado pelo Secretário de Estado da Cultura, Pedro Santos. Na ocasião, foi debatida a Lei Estadual no 13.234, de 13 de maio de 2024, que trata do Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (Pelllb), e que propõe a democratização do acesso aos livros no ensino público da Paraíba, a partir dos seus cinco eixos.
Stellio Mendes, curador da Feira Literária Internacional de Campina Grande (Flic), afirmou que essa reunião coroa o trabalho da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), que tem beneficiado o interior do estado com suas ações relacionadas à pasta. “As feiras literárias têm muita necessidade de atenção, pois a literatura, por si só, é uma arte muito solitária. Os encontros deste segmento sempre reúnem menos pessoas do que os de outras expressões da arte. Essa é a oportunidade de organizarmos um movimento”, sugeriu.
Pedro Santos celebrou a iniciativa do FliParaíba, revelando não saber que existiam tantos festivais literários no estado. Essa conversa inicial, segundo o gestor, foi bastante produtiva. “Serviu para entendermos como está esse panorama. Existem eventos desse tipo em toda a Paraíba, de vários tipos, com várias características. E é do interesse do Governo do Estado e da Secult dialogar com essa efervescência de encontros literários”, asseverou.
Estandes reúnem editoras
Também foi inaugurada ontem a feira literária do FliParaíba, com mais de 10 estandes, situados na entrada do Centro Cultural São Francisco. Participam da empreitada editoras locais e livreiros tradicionais do estado, que trouxeram parte de seus catálogos ou estoques para apreciação do público do festival. Eles permanecem em exposição até amanhã, dia do encerramento.
A Academia de Cordel do Vale do Paraíba (ACVPB) ocupa um dos estandes: estão à venda mais de 70 títulos, entre antologias e os tradicionais livretos, cujos preços variam de R$ 5 a R$ 40. Representando a ACVPB estavam os escritores Arnaldo Mendes Leite, Bento Junior, Mané Gostoso Neto e Robson Jampa. “É maravilhoso poder estar aqui. Quanto mais você traz elementos de fora para miscigenar a coisa, mais a nossa literatura tende a melhorar. E para um poeta popular, como eu, também é muito importante esse contato com o público”, disse Arnaldo.
Ricardo Oliveira, à frente da Editora Leevro, trouxe dois de seus lançamentos para a FliParaíba, o seu romance “Verde Gás”, lançando em edição expandida; e uma nova edição do livro “O Menino que Queria Jogar Futebol”, de Phelipe Caldas, que, por sua vez inspirou o filme “Inexplicável”, dirigido por Fabrício Bittar. “A gente vive num cenário muito bom, de muita renovação e a gente precisa ocupar os espaços que temos com novos autores. Minha editora tem apenas seis meses, precisamos valorizar o nosso trabalho”, informou.
A Editora A União também tem espaço no FliParaíba, com 200 títulos selecionados. A nova aquisição do catálogo da editora terá lançamento oficial durante o festival, na próxima sexta-feira, às 18h: “O Rasga Rua”, de Paulo Vieira de Melo (confira a entrevista com o autor na página 9 desta edição). “Estamos na vanguarda, considerando que esta é a primeira edição do evento, que a propósito, é organizado pela Empresa Paraibana de Comunicação (EPC)”, comentou Eduardo Augusto, gerente da Livraria A União.
Exposição fotográfica aborda diferentes “versões” de Camões
O conhecido rosto de Luís Vaz de Camões, homenageado desta primeira edição da FliParaíba em razão dos 500 anos de seu nascimento, ganhou novos traços pelo artista visual português João Francisco Vilhena: a exposição “O Rosto de Camões” traz fotos de modelos falantes da língua portuguesa, vestidos como o autor. Foram selecionadas 10 pessoas de países diferentes, plurais também quanto ao gênero, fenótipo e condição social. Já disponível no claustro do Centro Cultural São Francisco, a vernissage dessa mostra está marcada para hoje, às 17h.
As fotos se inspiram em uma pintura de Camões, de autoria de Fernão Gomes, datada do século 16. Ele fez mistério quanto à nacionalidade específica de cada pessoa fotografada, mas confidenciou que escolheu residentes no Brasil, em Portugal e em outros países lusófonos da Ásia e da África, como Cabo Verde e Timor-Leste. “Nós, portugueses, temos uma relação de paternidade com Camões. Inclusive, somos o único país que celebra a data de seu nascimento, 10 de junho”, citou.
Até amanhã, o FliParaíba disponibilizará visitas guiadas pela exposição, em dois horários: às 9h e às 17h horas. Em tom carinhoso e ufanista, o próprio Vilhena revela a sua admiração por Camões, dizendo que gostaria de ter vivido, a seu lado, ou como ele mesmo, toda a sua trajetória como poeta e como militar. “Ele é a ‘cola’ que nos une em nossas diferenças e também nos aproxima. Seja um brasileiro, um português ou um cabo-verdiano, se nos juntarmos para falar de comida, futebol ou sexo, todos nós nos faremos entender”, finalizou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 29 de novembro de 2024.