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Diabetes afeta 320 mil paraibanos

publicado: 09/04/2024 08h33, última modificação: 09/04/2024 08h33
Enfermidade do tipo 2 é a mais frequente na sociedade e representa cerca de 90% de todos os casos
João Modesto - crédito arquivo pessoal.jpg

Endocrinologista e professor da Universidade Federal da Paraíba, João Modesto também integra a Sociedade Brasileira de Diabetes | Fotos: Arquivo Pessoal

por Anderson Lima*

Diabetes é uma doença silenciosa que pode acometer milhares de pessoas em todo o mundo. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a doença é uma condição crônica caracterizada pela incapacidade do corpo em produzir insulina ou de utilizar a insulina produzida pelo próprio corpo humano. Ela está classificada em tipo 1 e 2, diabetes gestacional e o pré-diabético.

O médico endocrinologista, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Diretor do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB), João Modesto Filho, explica que a diabetes se caracteriza pelo aumento acima da faixa normal da glicose no sangue, ou seja, a glicemia. “Os valores normais da glicemia em jejum situam-se entre 70 e 99 miligramas por decilitros (mg/dL). O diagnóstico da doença acontece quando esse valor é igual ou superior a 126 mg/dL. Valores compreendidos entre 100 e 125 mg/dL dão o diagnóstico de pré-diabetes.”

O médico ressalta, ainda, que a insulina é um hormônio secretado pelo pâncreas e que controla nossa glicose sanguínea. Quando a insulina, por algum motivo, é  produzida em quantidade insuficiente ou quando sua ação hormonal está prejudicada, o resultado será a elevação da glicemia, o que resultará em pré-diabetes, que poderá chegar ao estágio de diabetes. João Modesto Filho estima que na Paraíba existam cerca de 320 mil diabéticos, sendo a maior parte em João Pessoa, que seria em torno de 80 mil portadores.

O tipo 2 da diabetes é o mais frequente na sociedade e representa cerca de 90% de todos os casos, segundo o médico endocrinologista João Modesto. ”O tipo 2, embora possa surgir em qualquer idade, afeta mais pessoas a partir dos 30 e 40 anos de idade, tem forte componente genético e uma íntima relação com excesso de peso, isto é, a obesidade ou o sobrepeso, e o sedentarismo. Portanto, essa está relacionado com o estilo de vida, além de ter fortes ligações com hipertensão arterial, dislipidemias, que é o excesso de gorduras no sangue, além do tabagismo”, completou.

Já o tipo 1 ocorre, normalmente, em crianças e adolescentes, com um quadro que tem um início rápido e dramático, aponta o endocrinologista. “O quadro é bem definido pelo excesso de urina, sede excessiva e perda rápida de peso.  Antes da descoberta da insulina, em 1922, o portador do tipo 1 sobrevivia dias, poucas semanas ou alguns meses. A insulina mudou radicalmente a história natural desse tipo de diabetes, ou seja, seu uso é obrigatório para essa população. Para o Tipo 2 existem medicações orais e injetáveis com resultados cada vez mais promissores. Ultimamente nota-se crescimento do diabetes gestacional, que acomete as mulheres nesse período específico da vida e que poderá tornar a doença nessas pessoas definitiva mais adiante.”

"Os valores normais da glicemia em jejum situam-se entre 70 e 99 miligramas por decilitros (mg/dL)"
- João Modesto Filho

Referente à prevenção da doença, o endocrinologista João Modesto, ressalta que estudos mostram uma íntima relação entre o aumento de peso e a diabetes, em uma curva temporal, que mostrou um significativo incremento a partir de 1970.“O aumento da ingestão de alimentos industrializados processados e ultraprocessados resulta no aumento de pessoas em sobrepeso e da obesidade, o que, majoritariamente, determina o aumento da incidência e a prevalência da diabetes tipo 2. Então, vê-se, desse modo, a importância da mudança do estilo de vida, que pode até reverter a fase de pré-diabetes para uma normalidade glicêmica. Uma vez que a pessoa tem a doença, crônica e não curável atualmente, o controle da glicose sanguínea e de outros fatores de risco como excesso de peso, hipertensão arterial, dislipidemias, sedentarismo precisam ser controlados para uma vivência saudável.”

Rotina de exames

Para quem já convive com a doença, o endocrinologista João Modesto recomenda ter o conhecimento e aprender a conviver com ela.“É preciso seguir o tratamento à risca e cumprir a rotina de exames e visitas as equipes de saúde para, só assim, ter um bom controle da doença e, consequentemente, uma melhor expectativa de vida, além disso, é preciso de doses diárias de felicidade, para ter uma qualidade de vida a altura do que merece.”

O médico também se mostrou preocupado com a prevenção contra a doença, ele pontuou que é preciso ter ações de caráter educativo, da educação alimentar, como também a distribuição de medicamentos, além da constituição de equipes multidisciplinares, entre outros. “Afinal, uma pessoa com diabetes não controlada pode determinar o aparecimento de complicações crônicas severas, como cardiovasculares, neurológicas, renais e oftalmológicas. A principal causa de morte do portador estão relacionadas a problemas cardiovasculares, como infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC).”

Perda de peso pode ser um dos indicativos

A estudante universitária, Bruna Evelyn de Carvalho, de 22 anos, teve o seu diagnóstico de diabetes aos 12 anos, e com um histórico familiar: o seu bisavô é diabético.“Eu estava na escola quando comecei a passar mal, sentia frio, uma queimação na garganta, que depois eu compreendi que é um sinal que a glicose está alta e em duas semanas eu perdi 15 quilos e todo mundo achou estranho. Então, comecei a fazer exames, a investigar a minha tireoide junto ao endócrino e minha glicose se apresentou alterada. Em pouco tempo eu já estava tomando insulina.” 

Bruna Evelyn, de 22 anos de idade, teve o seu diagnóstico de diabetes aos 12 anos

Os desafios enfrentados por Bruna foram diversos, principalmente ligados à alimentação. “Muito do que eu como, eu tive que parar de comer e me regrar quanto a isso. Hoje eu faço um tratamento agora que é da contagem de carboidratos, onde eu preciso medir a minha glicemia e fazer uma conta dos carboidratos que eu vou comer, para que não suba a minha glicemia. Mas, a maior parte do meu tratamento, por uns oito anos, foi seguir uma tabelinha do médico, que é algo mais antigo”, explicou a estudante.

Além disso, Bruna destaca também que o objetivo do diabético é controlar a hemoglobina glicada. “Isso é através de um exame, onde é mostrado uma porcentagem, por exemplo, nos últimos três meses a glicose estava muita alta, então o exame vai está alterado. O ideal é que ela fique entre 6% e 7%, a minha já chegou a 13%. E aí quando a glicose fica alta por muito tempo no seu sangue, você entra em cetoacidose. O seu sangue fica ácido e os seus órgãos trabalham mais. Aí você tem uma sobrecapa, você passa muito mal. Isso pode levar à morte. Eu já me internei por cetoacidose umas quatro vezes.”

Ao longo desses 10 anos vivendo com a doença, Bruna reconhece os sinais quando a sua glicose está elevada e baixa. “Quando minha glicose está elevada, experimento uma série de sintomas desconfortáveis, como dor de cabeça, enjoo e uma sensação de agonia, além de uma sensação de gosto metálico na garganta. Vou ao banheiro com mais frequência e sinto dor nas costas. Os sinais de glicose alta são bastante evidentes para mim. Da mesma forma, quando minha glicose está baixa, começo a tremer e tenho dificuldade para falar. Além disso, minha capacidade de raciocínio diminui quando ela está alta, enquanto que, quando está baixa, minha mente fica muito ativa, mas preciso ter cuidado ao falar. Às vezes, tenho que agir rapidamente para evitar desmaios devido aos tremores intensos. No entanto, é possível conviver com esses desafios com tranquilidade.”

Monitoramento

Bruna contou que não faz o uso de dispositivos ou aplicativos para monitorar a sua glicose ou outras métricas relacionadas à diabetes.“Eu aprendi a calcular o que eu posso comer, de acordo com a minha taxa glicêmica, isso acaba sendo mais eficaz para mim, do que os aplicativos. É útil saber a quantidade de comida que estou consumindo, o que facilita o cálculo. Com o tempo, aprendi algumas dicas, como saber que uma colher de sopa de determinado alimento contém certa quantidade de carboidratos. Às vezes, precisamos fazer estimativas quando não temos acesso às tabelas de carboidratos, mas com o tempo vamos nos adaptando e aprendendo a calcular com mais precisão.”

Às vezes, tenho que agir rapidamente para evitar desmaios devido aos tremores intensos
- Bruna Evelyn

Durante esse tempo, influenciado pela diabetes, Bruna desenvolveu outras doenças, como a dislipidemia, que é o colesterol alto, a espondilite anquilosante, que é uma inflamação na região do quadril, onde as articulações estão desgastadas e isso acaba afetando o seu sistema nervoso. Além disso, ela toma remédio para a prevenção de ataques cardiovasculares. Ela ressalta, ainda, que consegue todos os seus medicamentos através do Sistema Único de Saúde (SUS).

“A diabetes afeta o seu corpo inteiro, por isso é muito importante manter a sua glicemia controlada, para que isso não afete outras coisas. Hoje em dia eu consigo conviver muito bem com a diabetes, eu não tenho vergonha de tomar insulina na frente das pessoas, sempre tomo nos horários corretos e sigo as recomendações médicas. É como usar óculos, todo dia sei que preciso colocá-lo para enxergar bem e todo dia preciso da minha insulina para estar bem”, completou Bruna Evelyn de Carvalho.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 09 de abril de 2024.