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Profissionais passam, praticamente, a morar nas casas das famílias, numa troca de confiança e responsabilidade

Diversidade 60+ Cuidadores de idosos: Tarefa requer paciência e atenção

publicado: 27/08/2022 00h00, última modificação: 01/09/2022 09h30
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Os cuidadores são de grande importância na terceira idade, já que são peças fundamentais no acolhimento e bem-estar do idoso - Foto: Foto: Pixabay

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por Lucilene Meireles*

Muitas famílias, em determinados momentos, passam a necessitar dos trabalhos de um cuidador, seja para tomar conta de idosos, acompanhar pessoas com deficiência ou pacientes em convalescença. Esses profissionais passam, praticamente, a morar em seus ambientes de trabalho – as casas das famílias – numa troca de confiança, intimidade e responsabilidades. Essa presença nova altera, de certo modo, a rotina da família, mudando os hábitos de seus membros.

Fabrício Oliveira, psicólogo e terapeuta exclusivo de pessoas idosas, diz que, na maioria das vezes, os cuidadores são parentes próximos, filhos ou filhas que não casaram, ou que voltaram para morar com seus pais e, por isso, as relações são muito afetuosas.

Por outro lado, quando o cuidador é um funcionário contratado para essa função, as relações são um pouco difíceis no início em razão da grande responsabilidade do cuidador com a pessoa idosa da família. “A família, torna-se vigilante daquele processo até começar a confiar totalmente no cuidador. Essas relações tendem a crescer e melhorar com o tempo e, assim, o cuidador torna-se um membro importante da família”, comentou.

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Os cuidadores são de grande importância na terceira idade, já que são peças fundamentais no acolhimento e bem-estar do idoso

Esse processo de confiança mútua, conforme Fabrício Oliveira, vai sendo construído se o cuidador, além de ser um excelente profissional, tem amor à profissão, empatia com a pessoa idosa, zelo pela atividade que exerce e demonstre à família seu merecimento na função.

“Sabemos que não é uma tarefa fácil, requer cuidados e muita atenção. Mas, uma das características primordiais para ser um cuidador é a paciência. A pessoa idosa, em sua fragilidade, muitas vezes fica agressiva, repete suas histórias de vida, quer atenção, quer se sentir cuidada. Esses pontos estão presentes na maioria dos idosos. Então, o cuidador precisa ser paciente, calmo e empático com a situação”, ensinou.

Mestre em Gerontologia, Fabrício Oliveira ressaltou que o cuidador é de grande importância nessa etapa da vida, ou seja, na terceira idade, e os define como peças fundamentais nesse acolhimento. “Isso traz um benefício riquíssimo à saúde mental da pessoa idosa. É um momento de nossa vida em que estamos vulneráveis, e esse comprometimento do profissional com humanismo só faz bem, é positivo para ambos e para a família, que lhe deu essa tarefa de grande importância, cuidar de seu ente querido”, constatou.

Ele afirmou que o profissional que se dedica em cuidar das pessoas acima dos 60 anos tende a ser mais humano, ter respeito com o próximo, ser mais flexível com o outro, tem mais empatia, entre outros benefícios sociais e mentais. O psicólogo lembrou que os filhos dos cuidadores precisam ter educação e respeito, abolindo preconceitos, julgamentos pela idade e comportamentos que denigram os idosos.

“Esses filhos entendem que seus pais trazem seus sustentos ao cuidar do outro com idades avançadas e que isso é digno e merece todo o respeito e admiração. Enfim, o que mais me toca é que, com a educação, mudamos o mundo, mudamos esses olhares com os mais velhos, acabamos o preconceito, pois eles serão futuros cuidadores de nós quando envelhecermos”, acrescentou.

Lei foi vetada
O Plenário do Senado aprovou, em 2019, o projeto de lei que regulamenta a profissão de cuidador de idosos, crianças e pessoas com deficiência ou doenças raras - PLC 11/2016, que, segundo Fabrício de Oliveira, foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro.

“Essa atitude, tanto traz insegurança para o profissional que não tem um sindicato que cuida da categoria, quanto para as famílias que contratam qualquer pessoa por falta de uma Lei regulamentadora”, observou.

De um lado, conforme observou, os cuidadores ficam sem piso salarial e sem proteção das Leis trabalhistas na função, do outro, famílias que contratam cuidadores e acabam abusando, lhe empenhando outras funções domésticas que não cabem na sua atividade contratual.

“Quando uma função é regulamentada pelas leis protetoras, o mercado se amplia para a demanda, com cursos e capacitação para futuros profissionais com qualidade e proteção trabalhistas. Muito triste esse cenário diante de tantos cuidadores em um Brasil onde cresce o envelhecimento dia após dia”, lamentou o psicólogo.

“Minha relação com o paciente é de amor, carinho e humanização”
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Rejane Félix trabalha como cuidadora de idosos há quatro anos

Há quatro anos, Rejane Félix iniciou seu trabalho como cuidadora de idosos e, desde então, constatou que essa seria sua missão de vida. “Minha relação com o paciente é, acima de tudo, de amor, carinho e humanização. Nisso se resume todo o meu trabalho com o paciente. Em relação à família, existe o respeito e compreensão, pois eles sempre vão querer o bem-estar do seu ente querido”, disse.

Ela cuidou de um idoso durante quatro anos e relata que foi uma experiência única. “Foi com ele que descobri o meu propósito de vida. Era uma relação de amor verdadeiro de ambas as partes. Não fui eu que escolhi cuidar dele. Ele me escolheu. Infelizmente, faleceu em fevereiro deste ano. Fiquei muito triste, mas com coração cheio de gratidão, pois tinha feito o meu melhor por ele”, declarou. Atualmente, ela é cuidadora de uma senhora. “É a pessoa mais linda da minha vida, uma princesa. Eu amo cuidar dela”.

Rejane afirmou que foi preciso fazer algumas mudanças em casa. “Tivemos que passar por um processo de adaptação, envolvendo filhos e marido, dividir as tarefas enquanto trabalho. Não é fácil, mas por mais que sejam pequenos – oito e quatro anos - compreendem meu trabalho. A maior mudança é com minha ausência que pesa um pouco na rotina diária. Mas, meu marido dá o suporte necessário”, comentou.

Ela afirmou que seu trabalho de cuidadora vai muito além do olhar para o idoso, e disse que o cuidar envolve vários pilares que são colocados em prática no dia a dia, passando confiança e tendo autonomia no que é feito, sempre dando o melhor.

Por sua experiência, Rejane Félix diz que, para ser cuidador, é preciso gostar de pessoas idosas, ter amor e carinho por elas. Também é importante passar por um curso de cuidador de idoso, amar a área, conhecer o processo do envelhecimento. A prática também é importante, entre outros aspectos, como ter um perfil de ética e profissionalismo, e conhecimento teórico e técnico no processo do envelhecimento.

A cuidadora explicou ainda que é preciso muito cuidado na hora de contratar um profissional para cuidar de um idoso. Ela diz que uma forma segura é sempre por indicação, verificar experiência. Um Home Care e até mesmo o Instagram podem ser ferramentas que ajudam na hora da contratação.


Aprendendo a envelhecer
O trabalho do cuidador é muito gratificante, conforme avaliação da cuidadora Rejane Félix, mas para ela falta ainda valorização e reconhecimento. Ela afirmou que é preciso compreender que o processo de envelhecimento é inevitável e, por isso, esse trabalho também tem lhe ensinado muito. “Aprendi a envelhecer cuidando do ente querido de alguém”.

A cuidadora também garante que muita coisa mudou no seu pensamento em relação ao cuidado com outro ser humano, independentemente se é idoso, se é uma pessoa convalescente. “Todos os dias me coloco no lugar daquele paciente que está ali precisando de cuidados de forma humanizada, independentemente de ser idoso ou ter uma patologia. A palavra cuidar por si só já diz, é cuidar. Cuidar do próximo como eu gostaria de ser cuidado quando for preciso”, observou.

Para atuar como cuidadora, Rejane Félix realizou alguns cursos na área de saúde, fez também curso de cuidadora de idoso, com duração de um ano. Ela concluiu ainda especialização em AVC e diz que uma cuidadora com excelência não para de estudar, continua sempre se capacitando.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 27 de agosto de 2022.