Rotina de dores constantes nos dois joelhos, limitação das atividades do cotidiano, dos afazeres domésticos e a impossibilidade de andar pelas ruas da pequena cidade de Livramento, Cariri do Estado. Esse cenário passou a ser encarado de maneira permanente na vida da aposentada Maria Gicelda Brito Silva, após os 65 anos. O diagnóstico veio depois de uma série de exames que mostraram um quadro de artrose avançada nos joelhos. A doença, mais do que causar dores coloca o idoso na incerteza de continuar com seus hábitos diários comuns a qualquer pessoa.
A artrose ou ostoartrite é uma doença que ataca as articulações promovendo o desgaste da cartilagem que recobre as extremidades dos ossos, mas que também danifica outros componentes articulares como os ligamentos, e o líquido sinovial. “Pra me levantar da cama de manhã eu tenho que colocar os pés no chão e aguardar um pouco até sentir firmeza para pisar com cautela. Sinto instabilidade, dor e uma espécie de cansaço nos joelhos”, relatou a aposentada.
"Pra me levantar da cama de manhã eu tenho que colocar os pés no chão e aguardar um pouco até sentir firmeza para pisar com cautela."
Maria Gicelda Brito Silva
Conforme a Sociedade Brasileira de Reumatologia, no conjunto das doenças agrupadas sob a designação de “reumatismos”, a osteoartrite é a mais frequente, chegando a representar cerca de 30 a 40% das consultas em ambulatórios de Reumatologia.
Além disso, dados da Previdência Social no Brasil indica que ela é responsável por 7,5% de todos os afastamentos do trabalho; é a segunda doença entre as que justificam o auxílio-inicial, com 7,5% do total; é a segunda também em relação ao auxílio-doença com 10,5% e é a quarta a determinar aposentadoria (6,2%).
Maria Gicelda tem convivido com a doença há pelo menos 15 anos. Logo que diagnosticada com a enfermidade, foi orientada pelos médicos a fazer exames que indicassem os locais atingidos. “Felizmente ela não atingiu o meu quadril, mas os joelhos já estavam em uma fase bem adiantada da artrose. O médico ao olhar os exames identificou que o desgaste já era total das cartilagens e havia rompimento de ligamentos”, frisou Gicelda.
Com as dores intensas, ela se viu obrigada a encarar uma cirurgia para colocação de uma prótese total do joelho esquerdo, em maio do ano passado. O procedimento aliviou as dores, todavia, ela precisará passar por outra intervenção para implante no direito. “Não sei se tenho coragem. A cirurgia é simples, mas a recuperação e todo o processo de fisioterapia é muito doloroso. Estou analisando ainda se farei”, relatou.
Formas de prevenção e a importância da atividade física
De acordo com o ortopedista e traumatologista Márcio Tadeu Raulino, a artrose pode ser causada pelo próprio desgaste da cartilagem ou ser consequência de outras doenças, como a obesidade, a gota e a diabetes. “Ela não tem cura, mas existem várias formas de tratamento que podem beneficiar os pacientes. Vale salientar que o diagnóstico e o tratamento precoce são fundamentais para retardar a sua progressão”.
Estima-se que a doença atinja 9,6% dos homens e 18% das mulheres acima dos 60 anos. Entretanto, pode afetar pacientes mais jovens. “Ela pode acometer uma pessoa mais jovem em decorrência de traumas de alta energia, sequela de infecções ou formas graves de doenças auto imunes”, destacou. A Sociedade Brasileira de Reumatologia destaca que a artrose atinge as mulheres prevalecendo na região de mãos e joelhos. Já nos homens, a incidência ocorre com maior frequência no fêmur e a bacia.
Estilo de vida e exercícios
Porém, o médico afirmou que existem formas de prevenção e que algumas medidas são fundamentais para evitar o sofrimento com dores nas articulações, a exemplo de tratar o sobrepeso, manter uma boa alimentação, incorporar exercícios que auxiliam o fortalecimento muscular, entre outros.
Aliás, a prática de atividades físicas é vista como fundamental, considerando que consegue melhorar o desempenho funcional das juntas, diminuem a necessidade do uso de medicamentos, e tem ainda influência sobre o estado geral do paciente.
“Temos ainda que destacar que existem várias formas de tratamento. Dependendo da gravidade da doença, ele pode ser feito com uso de medicações por via oral ou infiltrações, fisioterapia, exercícios e nos casos mais graves a cirurgia poderá ser indicada”.
Para o ortopedista, hábitos alimentares ou estilo de vida inadequado podem piorar a doença. “Dessa forma é importante evitar alimentos pró-inflamatórios, como é o caso de alimentos industrializados, frituras, comidas rápidas e alimentos ricos em açúcar. Excesso de peso e esforços repetitivos também favorecem o desenvolvimento da artrose”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 18 de março de 2023.