Tanto a dor persistente nas articulações como a quebra de um osso podem ser sintomas de diferentes doenças, pertencentes a um conjunto de tumores: os cânceres ósseos. Quando se trata desse tema, é importante que o diagnóstico seja realizado de forma precoce. Uma pesquisa realizada junto a hospitais de câncer da Paraíba constatou que, entre 2010 e 2020, a taxa de sobrevida em cinco anos dos pacientes com osteossarcoma, um dos tipos mais comuns de câncer nos ossos, foi de 90%. Além disso, a pesquisa também mostrou que o estado tem uma média de tempo de atendimento de nove meses, menor que a média nacional, que é de 16 meses.
"Amputações não são consideradas derrotas, mas sim um dos tipos de tratamento"
- André Siqueira
Os dados são da dissertação de Mestrado do ortopedista oncológico André Siqueira, defendida em 2023 na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). De acordo com o médico, o osteossarcoma atinge com maior frequência pessoas entre 10 e 35 anos de idade, mas também pode se desenvolver em idosos, dos 60 aos 80 anos. Além do osteossarcoma, contudo, há outras formas possíveis de câncer ósseo. No geral, André explica que os cânceres podem ser primários, desenvolvendo-se diretamente nos ossos, ou secundários, derivados de tumores vindos de outros órgãos, principalmente da mama, da próstata, do pulmão e do rim.
O ortopedista oncológico detalha os sintomas aos quais as pessoas devem estar atentas e a forma como é feito o diagnóstico. “A gente sempre avisa à população que qualquer dor em articulação que persiste, mesmo após tratamento, precisa ser investigada. Nesses casos, a primeira coisa a se fazer é a radiografia da área. Na maioria das vezes, a própria radiografia já identifica que tem uma lesão ali, então a gente envia para um oncologista ortopédico, que toma a decisão sobre quais são os exames melhores. Outro sinal comum dos cânceres ósseos é o aumento de volume na região da dor. Já o terceiro sintoma mais frequente é quebrar o osso”, alerta André Siqueira.
Conforme afirma André Siqueira, o osso em que há maior incidência de câncer é a coluna. Na sequência, joelho, ombro e quadril são as regiões mais atingidas. O médico relata que o tratamento costuma ser feito por meio de três técnicas: quimioterapia, conduzida por uma equipe multidisciplinar; radioterapia, indicada em alguns tipos de câncer, e cirurgia. Essas intervenções cirúrgicas podem resultar tanto no salvamento como na amputação dos membros com a doença. Apesar dessa segunda possibilidade, a realização da cirurgia é fundamental, como defende o ortopedista e mestre pela UFPB.
“A gente faz todo tipo de técnica possível para salvar a perna, o braço ou o quadril da pessoa, seja usando prótese, seja transplantando o osso, seja por meio da técnica japonesa de congelar o osso e colocar de volta. Tudo isso já foi realizado aqui na Paraíba. Caso a gente não consiga salvar, a gente faz as amputações, que não são consideradas uma derrota, mas sim um dos tipos de tratamento. Isso porque as próteses feitas hoje em dia são muito avançadas, então o paciente consegue retornar quase totalmente às atividades normais”, esclarece André.
Origem da doença
De acordo com André Siqueira, ainda não é possível determinar se o desenvolvimento dos cânceres ósseos primários está ligado a fatores como condições genéticas, congênitas ou alimentação. Já os cânceres secundários, que derivam de outros tumores, podem ser prevenidos se a doença for combatida na origem.
“A Medicina não consegue explicar a origem de cânceres primários. No caso do osteossarcoma, por exemplo, a gente ainda está estudando os padrões de ocorrência de mutação dos genes e a destruição dos cromossomos, na faixa de idade entre 10 e 35 anos. Já para os cânceres secundários, a gente recomenda as medidas gerais de prevenção, como não fumar, fazer a prevenção do câncer de mama e de próstata e sempre realizar os check-ups corretos para cada tipo de idade”, afirma o ortopedista oncológico.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 10 de abril de 2024.