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E-book registra baixo crescimento entre os leitores de todo o Brasil

publicado: 26/06/2016 12h51, última modificação: 26/06/2016 12h51
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Kindle, da gigante Amazon, é o mais popular entre os e-readers - Foto: Divulgação/Amazon

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Jadson Falcão
- Especial para A União

No Brasil se lê muito pouco, e isso não é novidade para ninguém. O hábito de ler entre os brasileiros é tão raro que as estatísticas chegam a ser vergonhosas, e o país figura nas pesquisas muitas posições abaixo de países como o Egito e a Tailândia, e até de nossos vizinhos sul-americanos, Argentina e Venezuela.

Se a situação dos livros no geral é ruim, quando se fala em leitura de e-books a situação é ainda pior. Entre os leitores brasileiros, apenas 34% já leram um livro digital, que pode ser lido através do computador, do smartphone ou de um leitor digital, também chamado de e-reader. 

Os leitores digitais são dispositivos criados especificamente para a leitura. Diferentemente dos computadores e tablets, onde a tela tem brilho e por isso acaba cansando a visão do usuário, eles contam com tela antirreflexo e sensível ao toque, o que torna a leitura mais confortável e dá ao leitor a sensação de estar lendo um livro impresso no papel. 

Os e-readers contam ainda com diversas funcionalidades úteis como o dicionário e os marcadores de páginas digitais. A bateria que dura por semanas, a grande capacidade de armazenamento - com um dispositivo que tenha 4GB o usuário pode armazenar mais de 3.000 mil exemplares - e o peso menor que o de um livro, também são vantagens encontradas nesses dispositivos.

O estudante universitário Matheus Lima é usuário do Kindle - e-reader produzido pela gigante do varejo norte-americana Amazon - há pouco mais de um ano e se diz bastante satisfeito com o desempenho do leitor digital. Para ele, a tela do e-reader é ideal pois não reflete na luz, o que facilita a leitura. Matheus destaca ainda a longa duração da bateria e a grande capacidade de armazenamento como fatores positivos no aparelho. “A fácil portabilidade tanto pelo peso como pelo tamanho também foram fatores que pesaram na hora da aquisição”, explicou o estudante.

Matheus contou ainda que prefere o e-reader aos tablets ou computadores porque, pela multiplicidade de operações que os outros dispositivos possuem, possivelmente se distrairia no momento da leitura. “Prefiro um aparelho específico para uma atividade específica”, afirmou ele.

Dentre os leitores de e-books no país, 56% já leu um livro digital pelo celular ou smartphone, 49% já leu no computador, 18% já leu no tablet ou iPad, e apenas 4% já leu através dos leitores digitais como Kindle, Kobo e Lev.

O professor Marcos Nicolau diz que a pouca leitura dos livros digitais se deve à tradiçãoImersão diferente

O professor de Mídias Digitais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e estudioso do e-book, Marcos Nicolau, explicou que a pouca leitura dos livros digitais no Brasil se dá por conta da tradição que já existe há mais de 500 anos com o livro em formato impresso. Segundo ele, “quando lemos um livro impresso, mergulhamos no livro com um grau de abstração próprio ao texto impresso e bem adaptado à nossa cognição. Enquanto isso, o livro digital exige uma imersão diferente e isso requer um tempo de adaptação que vai acompanhar várias gerações”, afirmou o pesquisador.

O professor ressaltou que é importante esclarecer que o livro digital não vem para substituir o livro impresso, mas sim para ampliar e democratizar o acesso a informação por todo o mundo. Ele salientou algumas das facilidades que o e-book traz consigo como o fato de estar disponível ao leitor 24 horas por dia, e o fato de ser possível acessá-lo em qualquer hora e qualquer lugar através de um leitor digital, de um computador, de um tablet ou de um smartphone. 

O livro digital fica nos arquivos de nossos gadgets ou mesmo em nuvem, e a qualquer momento e durante anos, basta procurar pelo tema, pelo seu titulo ou pelo autor, e o encontramos disponível para leitura; nele, marcamos trechos de nosso interesse, copiamos partes e compartilhamos ele inteiro ou em partes com qualquer pessoa que também tenha acesso à internet. Hoje existe uma enorme produção de obras que são disponibilizadas gratuitamente para toda a sociedade”, explicou.

Ainda segundo Marcos Nicolau, o baixo uso dos leitores digitais como o Kindle e o Kobo no país se dá pelo fato de que estes dispositivos são produtos da indústria editorial, que tenta manter o antigo e lucrativo modelo de negócio de entregar o livro digital a apenas uma única pessoa que possui o dispositivo de leitura. “Esse negócio dificulta ao máximo o compartilhamento de obras. Ao mesmo tempo em que o leitor digital ainda é um artefato estranho nas mãos dos leitores, quem usa tablet e smartphone não quer carregar mais outro aparelho nas mãos. No Japão, por exemplo, os usuários têm, no mesmo aparelho - o smartphone -, tudo o que precisam, inclusive romances. Ainda estamos em fase de transição para uma cultura da participação em que até os livros digitais farão parte do compartilhamento em um modelo de negócio novo”, explicou ele.

Marcos Nicolau participa na UFPB de um projeto que tem o propósito de pesquisar, produzir e compartilhar livros digitais, abertos e de livre acesso à sociedade. O projeto “Para Ler o Digital” foi criado em 2010, e já disponibiliza cerca de 70 livros digitais - em sua maioria obras acadêmicas -, que podem ser lidos, baixados e compartilhados livremente. “A partir de um processo de experimentação, fomos do simples livro disponibilizado como cópia na internet anos atrás, até um modelo de livro que pode ser lido tanto no computador quanto no tablet, com um tamanho de letra apropriado e menos cansativo”, explicou Nicolau sobre o projeto. 

O professor explicou ainda sobre o experimento inovador que desenvolveu durante o projeto, e que foi realizado com o romance paradidático “Mendigos de Deus”, de sua própria autoria. “Nesse experimento, disponibilizamos um sistema em que o aluno tem acesso aos capítulos do livro, pode entrar na parte de exercícios de português e literatura, e ainda encontra um sistema de chat, no qual pode discutir a obra com os colegas, com o professor ou mesmo com o autor”, contou ele.

O Projeto “Para Ler o Digital” - que deve migrar para um site maior no próximo mês - ganhou o premio Expocom, do Intercom - evento promovido pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - no ano de 2012, como uma obra digital de formato inovador. Clique neste link para acessar a página do projeto, chamada de eLivre.

Retratos da leitura

De acordo com a 4ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, - realizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Ibope Inteligência entre novembro e dezembro do ano passado - a média de leitura do brasileiro é de 4,96 livros por ano, sendo apenas 2,43 até o fim. O número é um pouco maior que o registrado na última pesquisa em 2011, quando a média de livros lidos por ano era de quatro por habitante. 

A pesquisa entrevistou 5012 pessoas de todo o país com o objetivo de indicar e analisar o comportamento do leitor brasileiro, e constatou também que 56% dos brasileiros são leitores assíduos, ou seja, haviam lido por inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos 3 meses anteriores ao estudo.

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