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Espaços públicos se transformam em 'academias' ao ar livre

publicado: 31/10/2018 09h04, última modificação: 31/10/2018 09h04
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Atletas praticam crossfit em uma praça no bairro de Água Fria - Foto: Ortilo Antonio

tags: praças , espaços públicos , parque parahyba , academia , crossfit , corrida


Felipe Gesteira

e Mariana Lira - Especial para A União

Máquinas, espelhos, música compartilhada em alto volume, e a constante sensação de estar preso. Frequentar uma academia de ginástica tradicional pode até funcionar como uma terapia, mas, para quem não se adapta a estes locais, o ato de praticar exercícios físicos pode se tornar uma tortura. Dois grupos de João Pessoa conseguiram romper a barreira do espaço físico para transformar ambientes urbanos em centros de treinamento e bem-estar. 

O professor de Educação Física Targino Franco, 35, identificou no Parque Parahyba um excelente espaço para implantar sua assessoria de corrida. Com 1.400 metros de distância na pista de cooper e boa infraestrutura, o parque virou ponto de encontro para os treinos regulares do projeto Corre Parahyba, coordenado por Targino.

Ele conta que o objetivo também é atrair o público do bairro, já que outras assessorias de corrida funcionam nas orlas de Manaíra, Tambaú e Cabo Branco. A maior parte de seus alunos se matricula no projeto em busca de perder peso, ou apenas manter a saúde em dia, mas ele também prepara atletas para provas mais difíceis. “Quero tirar meus alunos da zona de conforto”, afirma Targino Franco.

O professor recomenda a corrida de rua para qualquer pessoa entre 10 e 80 anos de idade, e aponta como pontos fortes no esporte o baixo custo inicial e a perda de peso, perceptível logo de início. Os treinos acontecem todas as segundas, terças e quintas, em dois horários: 18h e 19h30.

Sobre a infraestrutura do Parque Parahyba, Targino elogia, mas cobra manutenção. “O piso é muito bom, a estrutura é boa, mas falta quem cuide. Começou bem, agora é preciso que alguém olhe para o parque”, alerta. 

A arquiteta e urbanista Carolina Guarita, 35, que também corre no projeto, destaca o benefício social na ocupação do espaço público. “Pode-se dizer que o Parque transformou um vazio urbano que era sinônimo de insegurança dentro do bairro para um ponto de encontro, lazer e apropriação do espaço público. Tornou o espaço um ponto de referência na cidade, permitindo a realização de diversas atividades para todas as idades”, ressalta.

Mudança de vida 

Otacília Machado já perdeu mais de 9kg com a prática da corrida de ruaMarcelo Silva não praticava corrida. Morador do bairro do Bessa, acorda todos os dias de madrugada, às 4h, dirige 4h por dia, trabalha até as 16h na região metropolitana do Recife, em Pernambuco, e ainda precisa de tempo para se dedicar à família e a uma pós-graduação. Hoje em dia, mesmo com a agenda cheia, não deixa de correr. “Acordo melhor, durmo melhor”, revela o eletricitário de 45 anos, que caminhava esporadicamente e decidiu mudar a rotina de exercícios físicos de tanto que o cardiologista pegou no seu pé.

O sobrepeso e a sombra da hipertensão batiam à porta de Marcelo. Ele conta que no início quase teve “um troço” na primeira meia volta que tentou dar em torno do Parque Parahyba. Agora, as voltas se tornaram uma benéfica rotina. “Comecei pesando 109 kg, em poucos meses perdi 5 kg, quero perder mais”, conta. 

A comerciária Otacília Machado sofria com dificuldade para dormir. Há quase um ano no projeto Corre Parahyba, já perdeu mais de 9 kg, e, mais importante, ganhou qualidade de vida. “Sempre tive dificuldade para dormir, dormia muito tarde. Hoje consigo ter um sono profundo, fico mais relaxada”, comemora Otacília. 

A primeira etapa do Parque Linear Parahyba, onde funciona o projeto Corre Parahyba, recebeu investimento de R$ 3 milhões do Governo do Estado. Foram mais de R$ 7 milhões investidos até a conclusão das duas etapas, em março desse ano.

Um sonho coletivo vira centro de treinamento 

A prática do esporte transformou um local público que era torpe e despovoado no bairro de Água Fria, em João Pessoa, em um ambiente agradável e útil, que hoje beneficia a vizinhança de diversas maneiras. Por iniciativa de João Lívio, educador físico, treinamentos funcionais proporcionaram melhorias não só à estrutura do lugar, mas também à harmonia.

João Lívio Ramalho, 28, atualmente ministra aulas e faz o acompanhamento de exercícios funcionais. Os treinos são em uma área pública, na rua Praia de Itapuã. Atualmente acontecem de segunda a sexta, em três horários: 18h30, 19h30 e 20h30. O projeto deu tão certo, que em breve se concretizará na abertura de um centro de treinamento, chamado CT249.

Começou com o investimento em materiais para o treino funcional, inicialmente para uso próprio, mas que em um futuro próximo seriam as ferramentas propulsoras para sua carreira profissional. Surgiu a oportunidade de dar aulas particulares, como personal trainer, e João aproveitou. Os treinos com o primeiro aluno eram executados na academia de um prédio, mas também utilizavam uma praça, localizada em Manaíra. "Eu levava meu material dentro do carro, levava caixas, barras, pesos... todo o material para a praça, onde aconteciam os treinos", conta o educador físico.

A partir da ideia de aproveitar um espaço público para a realização dos treinos, João iniciou treinamentos fixos de funcional, que aconteciam aos sábado pela manhã, na praça João Monteiro da Franca, também conhecida como praça dos motoristas, em Jaguaribe. Esses treinos eram usufruídos pelos alunos das aulas personalizadas. A rotina foi interrompida quando João Lívio começou a trabalhar em uma academia especializada em Crossfit, que o deixou sem horários compatíveis com os dos alunos.

O educador físico propôs aos alunos montar uma turma para treinar em um campinho de futebol, em frente a sua casa. A turma foi formada e aos poucos foi crescendo a ponto de precisar dividir-se em horários. Conforme João, antes dos treinos, a área era escura e geralmente era propícia para a ocupação de usuários de drogas. Quando o projeto começou a dar certo, o profissional, juntamente com a turma, investiu em melhorias para o lugar, como iluminação e aparelhos para realização dos exercícios.

Com o sucesso dos treinos, veio a oportunidade de abrir a própria academia, localizada em frente ao campo, em Água Fria. O CT249 começou a ser construído em setembro de 2017 e tem inauguração prevista para o segundo semestre deste ano. A academia vai oferecer treinamento funcional de alta intensidade, além de serviços de nutrição e fisioterapia. Todavia, o profissional de educação física conta que mesmo após abertura do centro, continuará utilizando a área pública para treinos. (Mariana Lira)

Reportagem publicada na edição impressa do jornal A União de 8.7.2018.