A situação hídrica da Paraíba apresenta um quadro de tranquilidade se observado sob a perspectiva macro, mas ainda existem casos que demandam atenção em algumas regiões do estado. Nos principais centros urbanos, como na Região Metropolitana de João Pessoa e em Campina Grande e suas cidades vizinhas, o abastecimento segue estável devido aos reservatórios que abastecem esses municípios estarem com volumes bons para manter o serviço de fornecimento de água.
Além disso, o bom regime de chuvas nessas regiões faz com que a realidade seja de conforto. Por outro lado, por conta de um ciclo considerado normal pelos especialistas da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa), alguns açudes do Sertão e do Seridó já estão secos ou com pouco volume, o que inspira mais atenção dos órgãos estaduais.
Dos 137 reservatórios que são monitorados, minuto a minuto, pela Aesa, e que são responsáveis por armazenar a água que visa garantir o direito da segurança hídrica dos cidadãos paraibanos, 41 estão na categoria de “Situação crítica”. Desses, quatro já secaram completamente: Jeremias (Desterro), Sabonete (Teixeira), Bastiana (Teixeira) e São José III (São José dos Cordeiros).
Embora algumas barragens estejam com baixos volumes ou secos, isso não quer dizer que esses municípios estejam atravessando algum tipo de crise ou colapso no abastecimento. É o que explica Alexandre Magno, gerente de hidrometeorologia e eventos extremos da Aesa.
“O sistema de abastecimento do estado tem muitas adutoras também, que pode transportar água da área A para a área B, de modo que amplia o abastecimento de uma região. Não é porque o açude que fica em uma cidade está totalmente seco, por exemplo, que esse município está sem abastecimento ou passando por racionamento. E o trabalho tem continuado, nesse sentido, para que a gente possa ter uma malha na Paraíba que supra 100% desse abastecimento”, comentou.
Por outro lado, muitos reservatórios estão em níveis de normalidade ou até melhor do que isso. São 38 barragens que estão funcionando perfeitamente, com bons volumes, sendo 21 na categoria “Favorável”, que é quando o volume supera os 70%, e quatro na categoria “Vertendo”, que é quando o açude fica “sangrando”, ou seja, com mais água do que comporta.
Dois deles são as principais barragens que abastecem os maiores centros urbanos da Paraíba, o da Região Metropolitana de João Pessoa, que é abastecido pelo Gramame/Mamuaba, e o da região de Campina Grande, que é abastecido pelo Açude Epitácio Pessoa (Boqueirão). O reservatório que fica em Conde está com 97% da sua capacidade por conta das chuvas que caíram no meio deste ano, na Zona Litorânea do estado.

- Barragem de Gramame/Mamuaba abastece os municípios da Região Metropolitana de João Pessoa | Foto: Divulgação/Secom-PB
O Epitácio Pessoa está com pouco menos de 50% do seu volume, está na categoria de “Em observação”, mas vem atendendo Campina Grande e cidades vizinhas com relativa tranquilidade. A obra da transposição do Rio São Francisco tem sido fundamental para que a barragem consiga manter bons níveis para o abastecimento da região.
“Neste ano, a ampliação de ações de transposição e nossos investimentos recentes em infraestrutura hídrica ajudaram bastante. Esse conjunto de ações e de sistemas tem garantido, até aqui, tranquilidade para a maioria dos municípios paraibanos”, analisa Alexandre Magno.
Sertão deve receber chuvas nos próximos meses
Apesar do cenário macro do estado ser substancialmente confortável, reservatórios no Seridó e no Sertão da Paraíba estão em condições mais vulneráveis. Isso tem a ver, segundo a Aesa, com ciclos naturais de chuva na região do semiárido brasileiro. Os especialistas explicam que esse comportamento é típico no segundo semestre de cada ano, quando a estiagem acentua-se e o calor provoca maior evaporação.
Além disso, reservatórios de menor porte, comuns no Seridó e no Sertão, têm uma inferior capacidade de armazenamento em relação a outras barragens do estado e sofrem mais rapidamente com o esvaziamento quando a recarga natural não acontece.
Apesar desse quadro atual, que inspira cuidados e uma observação mais atenta, a expectativa para os próximos meses é positiva. O especialista da Aesa aponta que há uma perspectiva também natural de retomada das chuvas na região semiárida do estado, impulsionada pelos padrões climáticos típicos do início do período chuvoso no local. Caso esse cenário se confirme, os açudes devem voltar a receber recarga significativa, permitindo elevar o volume armazenado e reduzindo o risco de dificuldades de abastecimento na região.
“É um ciclo natural que estamos atravessando nessas regiões. Os reservatórios estão baixando e isso dura em torno de seis meses. Depois temos um período chuvoso de quatro meses, em que acontece a recarga. Quanto mais para o Semiárido, maior esse tempo de estiagem, quanto mais para o Litoral, menor. No Sertão, o período mais chuvoso é concentrado de fevereiro a maio”, explicou Alexandre Magno.
Patos e cidades vizinhas são exceção e têm rodízio
A cidade de Patos e alguns municípios vizinhos, no Sertão da Paraíba, formam a única região do estado que está passando por um racionamento de água neste momento. Desde 17 de novembro, a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) decidiu implantar o sistema de rodízio no abastecimento. A medida deve-se à situação crítica das barragens que abastecem a maior e mais populosa cidade do Sertão paraibano.
O reservatório da Farinha conta, atualmente, com apenas 2,07% de seu volume total, comprometendo o fornecimento de água de mais da metade da população de Patos e de outras 15 cidades que recebem águas pelo sistema adutor Coremas-Sabugi. A situação é semelhante na barragem de Capoeira, que fica no município de Santa Teresinha, e atualmente conta com menos de 8% de sua capacidade total. Os dois açudes, de acordo com métricas da Aesa, integram a categoria “Situação crítica”.
O Açude Jatobá, o mais antigo da cidade, também está com pouco mais de 10% da sua capacidade, fazendo parte da categoria “Atenção”. A barragem acumula apenas 14,27% de seus 2,5 milhões de metros cúbicos.
Segundo o plano de contingência elaborado pela Cagepa, o rodízio funcionará de forma setorizada, garantindo o abastecimento dos bairros em ciclos de cinco dias com água para dois dias sem água durante a semana. O objetivo é que toda a população seja atendida de maneira equilibrada, inclusive nas áreas mais altas do município.
“A Cagepa está trabalhando incansavelmente para minimizar os impactos desse período de escassez na região, agindo sempre com a máxima responsabilidade e transparência. O Governo do Estado, por meio dos órgãos competentes, está realizando o monitoramento climático constante e avaliando as previsões de chuva para que possamos normalizar a situação do abastecimento o quanto antes”, afirmou o presidente da Cagepa, Marcus Vinícius Neves.
O gerente regional da Cagepa na região, Jônatas Raulino, reforçou o apelo à população para o uso consciente da água durante o período. “Infelizmente, esta é a realidade atual dos mananciais que atendem não somente a Patos, mas também várias cidades vizinhas. Pedimos, portanto, a compreensão e colaboração de toda a população nesse momento. É fundamental que cada morador faça a sua parte”, comentou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de dezembro de 2025.
