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festival cultural de monteiro

Evento reuniu cerca de 12 mil pessoas

publicado: 23/04/2024 09h46, última modificação: 23/04/2024 11h13
A homenageada deste ano foi a rainha do pífano Zabé da Loca, em comemoração ao seu centenário de nascimento
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Evento durou dois dias e atraiu cerca de 12 mil pessoas com manifestações artísticas diversas, incluindo apresentação de banda de pífanos, shows e artesanato
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Complexo Zabé da Loca fica no Sítio Tungão, em Monteiro, e inclui a gruta onde a pifeira viveu por mais de 20 anos | Fotos: Evandro Pereira
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Uma das peculiaridades de Zabé da Loca foi morar por mais de 35 anos em uma gruta, onde criou os filhos e repassou a arte de tocar pífano - Foto: Divulgação/Youtube
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Casa e Memorial de Zabé da Loca
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Ricardo Peixoto e Christiane Leal, secretária de Cultura de Monteiro
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Mercado Público de Monteiro
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Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, em Monteiro
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por Sara Gomes*

Cerca de 12 mil pessoas prestigiaram o 130 Festival de Cultura Popular na cidade de Monteiro, no Cariri paraibano. A homenageada deste ano foi Zabé da Loca, em comemoração ao centenário de nascimento da rainha do pífano. O evento, realizado nos dias 19 e 20 de abril, foi organizado pela Prefeitura de Monteiro, em parceria com o Governo da Paraíba e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-PB).

Na programação, os visitantes puderam conhecer alguns pontos turísticos da cidade mas o Festival buscou retomar algumas manifestações culturais, a exemplo de bandas de pífano, danças folclóricas, repentistas e emboladores, além de shows musicais (20) como Samba do Coco Irmãs Lopes de Arcoverde, Marquinhos da Serrinha e a cantora Lucy Alves, encerrando o evento. “Não podemos deixar a tradição cultural ser esquecida. O festival é também uma oportunidade de divulgar a rota cultural turística de Monteiro”,disse Anna Lorena Nóbrega, prefeita de Monteiro.

O Complexo Zabé da Loca fica a 15 km da cidade, localizado no Sítio Tungão. A gruta é a loca onde a pifeira viveu por mais de 20 anos. No Complexo existe também o restaurante rural, onde ocorrem apresentações de bandas de forró e pífano e, na frente, o Memorial Zabé da Loca, onde é possível encontrar objetos pessoais, fotografias e mobília.

Um destaque na programação é a exposição fotográfica de Ricardo Peixoto, que compartilhou 10 anos de convivência com Zabé da Loca, a partir de 1996. Tudo começou quando soube da existência da pifeira por intermédio do músico Rivers Douglas Soares, integrante e idealizador do grupo Pife Perfumado, que atua em Monteiro. Além de Zabé da Loca, Ricardo Peixoto conviveu com beiçola, mestre Livino e outros membros da comunidade. “A música sempre foi um universo muito forte para eles. Eu me vi encantado com tanta arte, abundância de sons e movimentos, além do cenário encantador do Cariri paraibano”, disse. Desse contato resultou o projeto intitulado Da Idade da Pedra, que retrata a trajetória da instrumentista. “O projeto foi fluindo naturalmente. Quando divulguei as fotos, outros artistas se encantaram com Zabé, a exemplo do poeta Lúcio Lins; e as obras do artista plástico Nai Gomes”, disse.

Entre tantos ensinamentos, Zabé ensinou o mundo sobre simplicidade. “ Ela veio ao mundo para mostrar sua arte e ensinar às pessoas que não precisa de muita riqueza para ser feliz. Mesmo na sua simplicidade, vícios e virtudes, ela era a representação da cultura brasileira produzida na Paraíba”, analisou o fotógrafo. O Museu Arnaldo Lafayette, vinculado à Secretaria de Cultura e Turismo, será o guardião dessas memórias.

Na sexta-feira (19), o grupo Tambores da Terra, vinculado à Escola dos Sonhos, fez uma apresentação de maracatu, a convite do grupo de pífano. Eles conheceram a gruta que viveu Zabé da Loca. A gestora da escola, Leila Sarmento, comenta a importância de manter a tradição cultural.”A educação só faz sentido se ela fortalecer a cultura de um território. Um povo sem memória é um povo sem história. Quando subimos para conhecer a gruta onde Zabé morou compreendi a energia sagrada daquele lugar. Por isso, a manutenção da memória é tão importante”, declarou.

O Mercado público é parada obrigatória para quem conhece uma nova cidade. É possível saborear comidas regionais, encontrar utensílios domésticos na “Feira de Mangaio”, lembrancinhas e comprar sandálias e acessórios de couro a um preço justo. De acordo com a Secretária de Cultura e Turismo, Christhiane Leal, o mercado possui características tradicionais, mas também inovou com grafitagem, inspirada na diversidade cultural. “No mercado você pode tomar um caldo de cana e comer um bode com cuscuz. Mas também se encantar com o grafitte feito por @wilisgrafitt retratando a renda renascença, Zabé, Flávio José e outros artistas da terra”, disse.

No último final de semana, a Empresa Paraibana de Turismo (PBTur) e da Secretaria.de Estado de Turismo e Desenvolvimento Econômico (Setde) organizaram uma Fampress com jornalistas e guias de turismo para participar do evento em homenagem à rainha do pífano.

Prédio histórico abriga o Centro de Referência da Renda

Casa abriga trabalhos das mulheres do circuito da renascença, no Cariri paraibano
Casa abriga trabalhos das mulheres do circuito da renascença, no Cariri paraibano

O Centro de Referência da Renda Renascença (Crença), prédio histórico na cidade de Monteiro, é considerado uma vitrine da produção de renda na região do Cariri paraibano. Cinco municípios compõem o circuito da renascença na Paraíba: Monteiro, Camalaú, Zabelê, São João do Tigre e São Sebastião do Umbuzeiro, que somam quase três mil rendeiras na região do Cariri, sendo que apenas 300 são organizadas.

O artesanato da renda renascença é uma atividade familiar passada de geração para geração, que representa a união de mãos firmes e talentosas, construindo moda, economia criativa e memórias, em cada ponto dado.

De acordo com a prefeita de Monteiro, Anna Lorena, as gestões municipais do Cariri paraibano têm trabalhado para que essas mulheres saiam do anonimato e obtenham o cadastro de artesão. “O número ainda é camuflado tendo em vista a informalidade, mas estas artesãs criaram seus filhos e construíram suas casas com o dinheiro da renda renascença”, declarou.

 A gestão do Crença é compartilhada entre Governo da Paraíba, Prefeitura de Monteiro e o Sebrae-PB. Desde a inauguração do prédio (novembro de 2021) até dezembro de 2023 foram arrecadados 500 mil reais, segundo a gestora do Crença, Elissandra Sobral. “Uma agência de viagem organiza caravanas pelo menos três vezes ao ano, atraindo turistas de todo o país. A nossa renda mensal é de 10 a 15 mil por mês”, afirmou.

A renda renascença ganhou ainda mais visibilidade quando o design de moda, Ronaldo Fraga, desenvolveu a coleção Somos Todos Paraíba em parceria com as rendeiras do Cariri Paraibano, inspirado na obra do artista plástico Flávio Tavares, retratando como ninguém a cultura do estado em seu cotidiano. Com essa referência, pássaros, peixes, frutas e flores ganharam vida a cada ponto dado na renda. A coleção foi resultado da oficina de renda renascença ministrada em novembro de 2019.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 23 de abril de 2024.