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Feira de CG lutou dez anos para ser reconhecida como patrimônio

publicado: 08/10/2017 00h05, última modificação: 07/10/2017 02h43
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A batalha pelo registro como Patrimônio Imaterial brasileiro ocorre desde 17 de setembro de 2007 - Foto: Cláudio Góes

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Thamara Duarte
Especial para A União

Todas às vezes, eles fazem tudo sempre igual. Mas, nem por isso, a cena passa desapercebida no cotidiano do cidadão de Campina Grande ou de alguém que visite a cidade da Serra da Borborema. O sol ainda nem bem aparece e já estão sendo instaladas as barracas ou banquinhos, onde se espalham os produtos que levamos à mesa - frutas, legumes, carnes diversas e derivados do leite -, além de utensílios como chapéus e roupas, confeccionados em couro e tecido. “A Feira de Campina tem de tudo”, reiteram os consumidores e feirantes. Assim, durante a exposição dos pequenos comerciantes, os consumidores se deixam levar pela diversidade, atraindo os olhos, o paladar e, principalmente, o prazer de encontrar alimentos frescos e saudáveis. Milhares de pessoas - de todas as idades e classes sociais - tentam negociar um preço mais baixo, que caiba no bolso e que permita manter as finanças em dia. Significativo espaço público de convergência e de convívio democrático, a Feira de Campina Grande foi, agora, reconhecida como Patrimônio Imaterial do Brasil.

O registro da manifestação artístico-cultural aconteceu no último dia 27 de outubro, através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Durante a reunião decisória, os 23 conselheiros que integram a Câmara do Iphan decidiram pela unanimidade da aprovação do Registro Imaterial.

Mas, o que levou a Feira de Campina Grande a conseguir o Registro enquanto uma das mais importantes manifestações artístico-cultural do Brasil? Como se deu o trâmite do Processo? Que caminhos foram seguidos até a decisão final do Iphan? Segundo o relatório assinado pelo conselheiro Ulpiano T. Bezerra de Menezes, o Processo de nº 01450.012500/200-33 é antigo e remonta a 17 de setembro de 2007, tendo a Prefeitura Municipal de Campina Grande como proponente. Posteriormente, a ideia foi reiteirada pela Secretaria de Cultura do Estado e apoiada pela Associação de Feirantes, através de mais de duas mil assinaturas de associados.

No entanto, aconteceram alguns entraves, que levaram o Iphan a estudar e analisar o processo por 10 anos. Logo em seguida ao pedido, foi anunciado, pela PMCG, que haveria uma requalificação da Feira de Campina Grande. No entanto, o projeto não chegou a ser colocado em prática,”pois desfigurava muitos de seus atributos essenciais e desrespeitava os interesses legítimos dos feirantes e de frequentadores habituais”, descreve o relatório do Iphan.

Segundo o documento, somente em 2013 é que se deu prosseguimento ao Processo. Na época, a decisão do Iphan incorporou as “manifestações culturais” à Feira como um todo complexo, integrado num lugar e espaço de convergência e criou, ainda, o Dossiê de Registro, no qual “foram anexados ao Processo documentos audiovisuais (CDs, DVDs e fotografias), listagem de publicações, comprovantes de anuência dos interessados e resguardo dos direitos autorais”. Na documentação constava uma pesquisa de campo, bibliográfica e arquivística, coordenada pela historiadora Giovanna Fonseca Araújo, com a participação de pesquisadores e estagiários universitários, além de elementos que foram coletados durante a Oficina de Projeto Participativo - Qual a sua ideia para a Feira de Campina Grande -, que havia sido desenvolvida pelo arquiteto Marcus Vinícius Dantas de Queiroz.

Ao longo dos anos seguintes, em diversas ocasiões, os técnicos do Iphan se uniram ao Iphaep - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba. A ideia era elaborar, em conjunto,conceitos da feira enquanto espaço público de convergência e pelo fato, também, do bem patrimonial está localizado nos arredores do Centro Histórico de Campina Grande, área tombada pelo Instituto estadual desde 2010. “Muitas propostas de nossos arquitetos foram avaliadas nesse momento de pesquisas e levantamentos sobre a importância da Feira campinense, enquanto patrimônio cultural imaterial”, lembra a diretora executiva do Iphaep, Cassandra Figueiredo. “Vem daí nossa felicidade em perceber nossa presença nesse processo, durante o período de estudos, e de termos sido convidados para acompanhar a aprovação do Relatório do Iphan, que permitiu o Registro da Feira de Campina Grande enquanto Patrimônio Imaterial do Brasil”.