Um locutor que esbanjava alto astral e alegria diante do público ao qual se dirigia nas rádios pela qual passou como a Tabajara, Arapuan e Correio. É assim que amigos e parentes descrevem Sérgio Fernando Silva Mangabeira, o Fernando Gabeira, que nasceu em São Paulo, tinha parentes em Pernambuco e no Rio de Janeiro, mas escolheu a Paraíba para morar. No estado, constituiu família, deslanchou na carreira e alegrou pessoas de várias idades.
Uma das pessoas que trabalhou com Gabeira foi a jornalista Edilane Araújo. Segundo ela, o profissional foi “um dos melhores locutores de FM que já apareceu na Paraíba” e um pioneiro em programas ao vivo. A convivência entre os dois se estabeleceu nos estúdios da Rádio Arapuan FM, que iniciava sua trajetória em João Pessoa, substituindo a programação gravada com locutores de Recife por programas ao vivo.
“Então dispensaram os locutores de Recife, que faziam os programas gravados. Foi quando comecei no rádio, toda tarde, ao vivo, e Gabeira trabalhava pela manhã. “Esse cara, em pouco tempo, se tornou líder de audiência, porque era muito bom. Tinha uma capacidade de improviso incrível, um repertório muito bom, e conhecia muito de música, as que eram sucesso e tocavam na Arapuan que, naquele tempo, tinha uma programação bem diferente do que apresenta hoje. Para mim, a marca dele era a alegria, o improviso, ele era brincalhão e cativante. As pessoas gostavam muito de Gabeira”, declara Edilane.
Além de colega de trabalho, os dois se tornaram amigos, tanto que Edilane foi convidada para ser madrinha de um dos três filhos de Gabeira. “Nosso ritmo de vida era bem diferente e era uma amizade assim, onde quer que ele estivesse, eu sempre torcia por ele, e ele por mim. Quando a gente se encontrava era uma festa, não tinha essa proximidade toda, mas a gente se gostava bastante”.
Edilane Araújo revela que, apesar das inúmeras qualidades, o colega era meio desorganizado com as finanças e também cuidava pouco da saúde, mas deixou um legado imenso de “vivacidade, espontaneidade e alegria, sendo um dos locutores pioneiros nos programas de rádio ao vivo”.
A jornalista conta que, pela grande audiência, Fernando Gabeira era considerado “o dono das manhãs” na Arapuan, enquanto ela ficava na parte da tarde e à noite veio Bertrand Freire e depois Aldo Schueler, que se tornou o “rei da noite” com o programa ‘Momentos Arapuan’. Ela ainda cita, entre os integrantes da equipe da época, a presença do radialista Dado Belo, que hoje atua num programa de reggae na Rádio Tabajara.
Ao falar das impressões que tinha de Fernando Gabeira, Dado Belo afirma que ele tinha “uma vibe totalmente cheia de alto astral, de energia positiva e um talento comunicativo muito grande”. “Acho que ele nasceu para o rádio mesmo”, acrescenta. Depois, no Sistema Correio de Comunicação, Dado trabalhou em um programa e Gabeira em outro, no ‘Show das Praias’ e na programação matinal. “A energia dele era fulminante e foram anos nessa direção”, diz, destacando também que o colega era descuidado com a saúde e em relação a dinheiro, pois gostava da vida boêmia e nem sempre cumpria os compromissos de trabalho.
“Mas como profissional do rádio, creio que ele era completo. Poucos tinham tamanho talento para envolver o radiouvinte. Isso fez com que ele se tornasse um profissional muito querido no mercado de João Pessoa, e teve uma ascensão meteórica na cidade”, recorda Belo.
Segundo ele, na Tabajara, Gabeira foi locutor e coordenador artístico de programação, na época do governo de Cássio Cunha Lima (PSDB). Além do talento para a comunicação radiofônica, ele ainda era um impressionante imitador de personalidades. “Ele imitava inúmeros personagens locais e nacionais. Era muito criativo. Quando imitava o estilista Clodovil, era perfeito, nunca vi uma coisa daquela”, recorda Belo.
Morte repentina de “o dono das manhãs”
No mês de maio de 2013, Fernando Gabeira passou mal próximo da casa onde morava, na Praia do Poço, em Cabedelo. Levado para o Hospital de Trauma Senador Humberto Lucena, na capital, foi diagnosticado com aneurisma cerebral, permanecendo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por cerca de um dia, quando foi anunciada a morte cerebral do radialista, que tinha 49 anos.
Uma matéria divulgada na época pelo Jornal A União informava que o enterro foi realizado no dia 22 de maio, no Parque das Acácias, em João Pessoa, local onde também ocorreu o velório.
Atualmente, o filho mais velho de Gabeira, Raiandrey Magno, 35 anos, é ator e modelo. Ele diz que a morte do pai pegou todo mundo de surpresa. “Do nada, meu pai teve um mal súbito, pensei que era uma convulsão e ele ia voltar do hospital. Mas, infelizmente, não foi isso que aconteceu”.
Para ele, Fernando Gabeira foi um exemplo de dedicação à família e um ser humano que disseminava alegria. “Sempre se esforçava para não faltar nada em casa e para estar perto da gente. Sou modelo e faço comerciais, e quando comecei a carreira, ainda pequeno, ele foi quem me incentivou. Eu era tímido, tinha vergonha de falar em frente às câmeras, então ele dizia: ‘Veja como seu pai faz’”, recorda Raiandrey.
Dos três filhos de Gabeira, todos homens, um faleceu e hoje Raiandrey convive com a mãe e um irmão caçula. Casado e pai do pequeno Artur (recém-nascido), ele diz que tem a figura de Gabeira como um homem dedicado e amoroso. “Ainda sinto muita saudade dele. Nos dias de folga, ele costumava levar a família para Recife, onde viviam meus avós. Eram viagens inesquecíveis”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 7 de maio de 2023.