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Fernando Morais visita A União

publicado: 05/12/2025 09h22, última modificação: 05/12/2025 09h22
Vinda do jornalista foi motivada pela curiosidade acerca de registros do arquivo do jornal sobre a Revolta de Princesa
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Escritor e jornalista foi recebido pela diretora-presidente da Empresa Paraibana de Comunicação, jornalista Naná Garcez | Foto: Carlos Rodrigo

por Carolina Oliveira*

O escritor e jornalista Fernando Morais esteve, ontem (04), na sede do jornal A União, em João Pessoa. Motivada pela curiosidade sobre os registros guardados no arquivo do suplemento diário e pelos fatos ocorridos na região, na década de 1930, principalmente a Revolta de Princesa, a visita marca os passos iniciais de pesquisa para um projeto que Morais pretende realizar sobre o período. “O bom da história de Princesa é que ela não é fechada em si. Passa pela história de Anaíde Beiriz, que foi uma líder feminista dos anos 30, pela história da família Pessoa, e passa, obrigatoriamente, pela Revolução de 30”, afirma.

O escritor conta que, desde que passou a ter conhecimento sobre o conflito armado liderado, pelo coronel José Pereira contra João Pessoa, acontecido em Princesa Isabel, no Sertão paraibano — o que aconteceu quando ele começou o trabalho de campo para escrever  “Chatô: O rei do Brasil”—, nutre uma curiosidade sobre os eventos e a vontade de trabalhar com o tema. “Eu namoro a história de Princesa já há algumas décadas, aquilo ficou rodeando a minha memória. Era uma história tão boa que eu dizia o seguinte: como isso nunca foi transformado num grande livro, num filme, numa série?”, indaga.

A mais recente obra ainda não publicada de Morais, e segundo volume do esboço biográfico sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi encerrada nesta quarta-feira (3), na capital paraibana. “Eu já estava um dia atrasado na entrega do livro, o editor esperando. Fui para o apartamento, abri o notebook e fiz o parágrafo final que já estava pronto na minha cabeça. Posso dizer que compartilho com os pessoenses o alívio, a satisfação de ter colocado o ponto final, ontem às 15h, 16h da tarde”, contou Fernando.   

Além dos projetos para o futuro, o autor de “Lula — Volume 1”  falou sobre sua trajetória com as letras  e a tarefa de conciliar escrita e ativismo político. “Eu não sou só escritor, sou ativista político. Essa atividade paralela acaba me trazendo problemas, porque atrasa o livro. Então o Lula, toda vez que ele me via em algum ato público, que ele estava no palanque, ele não tinha nenhuma cerimônia em dizer, ‘estou vendo o Fernando Morais ali, no meio do povo, o que ele está fazendo aqui que ele não está em casa terminando esse livro?’. Além da cobrança da editora, tinha a cobrança do personagem”, relata.

No segundo volume, que começa a partir do tempo das Diretas Já, Fernando Morais convida os leitores a acompanhar o percurso eleitoral vivido pelo político no período pós-redemocratização. “E aí tem peculiaridades, porque ele não lida bem com derrotas. Lula chega a pensar em não se candidatar, mas, aí, as pessoas estimulam, amigos, companheiros, o pessoal do sindicato. E ele vence a eleição. Meu livro termina na Avenida Paulista, na noite de 27 de outubro de 2002, quando a televisão acaba de anunciar que está eleito pelo voto livre, direto, secreto, o primeiro operário da história da República brasileira”.

Conhecido pelos registros literários de não-ficção que contemplam personalidades e momentos da história brasileira —  e para além do país, a exemplo de “A Ilha”, “Corações Sujos” e “Os Últimos Soldados da Guerra Fria” —, Morais conta que a curiosidade jornalística e descritiva são também fatores marcantes de sua escrita. “Eu, fundamentalmente, busco personagens através dos quais seja possível recontar a história do Brasil, ou um pedaço da história do Brasil, de uma ótica que não foi utilizada pelo mundo acadêmico. O olhar do repórter vê coisas que um historiador, uma historiadora, não vê. [São] traços a mais para compor um personagem da minha história”, avalia.

Com uma passagem pela política, tendo atuado no Poder Executivo como deputado estadual, além de ter sido secretário de Cultura e de Educação no estado de São Paulo, Fernando Morais mantém-se politizado, seja no ativismo, seja pela sua forma de se colocar publicamente. O autor, contudo, ressalta que antes de ser uma pessoa de esquerda, ele se centra na postura de um jornalista que olha para o personagem. “Não como eu gostaria que ele fosse, mas como ele era. O mais próximo possível do que eu consegui reconstituir, do perfil dele, da história dele, da trajetória dele. Então eu não deixo as minhas convicções comprometerem os meus trabalhos”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 5 de dezembro de 2025.