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Fisioterapia geriátrica ajuda na reabilitação de quedas

publicado: 22/10/2022 00h00, última modificação: 17/04/2023 10h38
Especialista ressalta que as chances de recuperação através do tratamento são altas, melhorando a qualidade de vida
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Cada idoso exige uma avaliação para a escolha da conduta com técnicas e exercícios adequados - Foto: Arquivo pessoal

por Sara Gomes*

Sofrer uma queda é o principal medo da pessoa idosa. Dentre os fatores externos a queda representa um dos principais motivos de internações no Brasil, podendo desencadear várias complicações. Segundo o Ministério da Saúde, 70% dos acidentes com pessoas acima de 60 anos acontecem nas residências, no entanto, as quedas podem ser evitadas através de cuidado redobrado e algumas adaptações na arquitetura do ambiente familiar. Mas com a fisioterapia geriátrica, as chances de reverter o quadro são altas, melhorando a qualidade de vida do paciente.

 A fisioterapeuta Ana Luísa Melo, especializada em geriatria, atende idosos em domicílio, entre 90 e 101 anos. A maioria deles são totalmente independentes para as atividades básicas da vida diária, como por exemplo: ir ao banheiro, alimentar-se, tomar banho e cuidar da higiene pessoal e andar.

Os idosos que possuem a mobilidade preservada e massa magra adequada para a idade apresentam mais versatilidade, perspicácia, audácia, boa forma e bom humor além de uma vivacidade inspiradora.

 Ana Luísa explica que o objetivo da fisioterapia geriátrica é possibilitar qualidade de vida ao paciente, elaborando condutas adequadas para individualidade de cada idoso. “Alguns precisam de exercícios para aumentar a força, outros para melhorar o equilíbrio, tontura, capacidade cardiorrespiratória, para diminuírem as dores, tratar fraturas e reabilitação. Mas cada idoso exige uma avaliação para a escolha da conduta com técnicas e exercícios adequados focando sempre em suas principais queixas”, frisou.

"É impressionante como os idosos ficam mais motivados no tratamento. A força de vontade se sobrepõe ao medo"
Ana Luísa Melo

Idosos que apresentam déficit no equilíbrio, fraqueza muscular, episódios de tontura e insegurança ao caminhar são mais propícios a queda, no entanto fatores extrínsecos do ambiente também são determinantes: má iluminação, piso escorregadio, assentos de banheiro muito baixos, tapetes lisos pela casa, falta da barra de apoio no banheiro, calçados inapropriados, entre outros.

A idade avançada e as comorbidades são os principais fatores associados à mortalidade após a ocorrência de quedas, porém a fisioterapeuta afirma que a melhor forma de prevenir quedas e complicações é adquirir o quanto antes o hábito de se movimentar para fortalecer a musculatura. “Atividades como a fisioterapia geriátrica, musculação, pilates, dança, hidroterapia, hidroginástica são grandes aliados na prevenção de quedas e na contribuição para o bom funcionamento do corpo”, pontuou.

O idoso José Rodrigues 97 anos, sofreu quase dez quedas no último ano. Apesar desse histórico, seu condicionamento físico é tão bom que a reabilitação do idoso foi surpreendente. Ana Luísa costuma dizer que ele construiu uma poupança de saúde, tornando-se fonte de inspiração para pacientes que sofreram quedas. “Apesar de ter sofrido tantas quedas, os ossos dele são muito bons, pois não teve fraturas significativas. Ele sempre praticou atividade física e alimentação saudável, o que contribuiu significativamente para sua recuperação”, analisou.

Sempre que um paciente de Ana Luísa está desmotivado na recuperação após uma queda, ela conta a história dele. “É impressionante como os idosos ficam mais motivados no tratamento. A força de vontade se sobrepõe ao medo”, frisou.

Terezinha de Alencar, conhecida como Teté, sofreu uma tentativa de assalto próximo a sua residência por um usuário de drogas, levando uma queda. O episódio não provocou fraturas, mas a deixou com medo de sair de casa. Antes ela tinha uma vida independente e proativa, gostava de caminhar no fim de tarde e comprava pão sozinha. Pouco teve depois veio a pandemia.

Teresinha tinha 82 anos quando Ana Luísa começou atende-la pois a família estava preocupada com a postura anteriorizada(curvada). A fisioterapeuta explica que a falta de rotina em virtude do isolamento social fez com que a musculatura enfraquecesse, associado a outros fatores. “O equilíbrio dela ficou prejudicado pois só andava se apoiando nos móveis. Por ter ficado muito tempo isolada, acabou ficando sedentária também”, contou.

A conduta adotada pela especialista foi tratá-la de maneira global. “Elaborei exercícios que trabalhasse a parte cardiorrespiratória, equilíbrio e fortalecimento muscular. Mas também trabalhei a autoconfiança durante as sessões pois ela tinha muito medo de cair. Inclusive dona Teté chegou a fazer exercícios na academia”, contextualizou.

Aos poucos, Terezinha foi readquirindo a autonomia. “Eu e a família conseguimos fazer com que ela sentasse e levantasse sozinha. Trabalhei bastante seu emocional para que conseguisse andar na calçada em frente ao prédio. Essa foi uma grande conquista na fisioterapia pois resgatamos sua autoconfiança”, relembrou.

Perto de fazer 84 anos, Terezinha manifestou um quadro de edemas nas pernas. Quando a família foi investigar descobriu um tumor no fígado em estágio de metástase. Ela foi hospitalizada e um mês depois veio à óbito. “Apesar de tudo ter sido muito rápido, ela não sofreu. Me sinto realizada enquanto profissional por ter contribuído no resgate da autoconfiança de Teté através da fisioterapia”, concluiu emocionada.

A fisioterapeuta Ana Luisa Melo ressalta que tratar fraturas em idosos é bem mais minucioso do que um jovem adulto, por isso todo cuidado é pouco. “Os ossos já estão mais desgastados e são mais frágeis, dificultando o processo de reabilitação. Se o idoso se tiver comorbidade como diabetes a recuperação se torna ainda mais demorada”, frisou. Após sofrer uma queda, o emocional do idoso também deve ser levado em consideração pois o medo de cair novamente dificulta a reabilitação.

“Uma queda pode desencadear consequências significativas na saúde física e psicológica do idoso, fazendo que o medo de cair novamente ocasione perda de autonomia do paciente, repercutindo também na vida dos familiares”, concluiu.

*Texto revisado da edição impressa publicada dia 22 de outubro de 2022.