O saguão do 6º andar do Hotel Aram Beach & Convention, no bairro Tambaú, em João Pessoa, esteve lotado na manhã de ontem para a mesa-redonda “Panorama dos Comitês de Bacias Hidrográficas do Nordeste”, atividade inicial do I Encontro Regional de Comitês de Bacias Hidrográficas do Nordeste (10 Ercob Nordeste). Além do 10 Ercob, ocorre também no mesmo local o II Simpósio Paraibano de Recursos Hídricos. Os eventos são uma realização do Governo da Paraíba em parceria com o Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas do Brasil (FNCBH) e objetivam discutir a gestão dos recursos hídricos entre os estados nordestinos, tendo como primeiro estado anfitrião a Paraíba, justo por sua excelência na gestão das águas.
Maurício Marques Scalon, coordenador do Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas explicou que serão realizados cinco encontros regionais pelo país, previstos no regimento interno do Fórum Nacional. Maurício afirmou se tratar de uma iniciativa fundamental, principalmente devido à possibilidade de discussão a respeito da fundamentação e consolidação da política de recursos hídricos, sobretudo no que tange aos instrumentos de gestão. “A partir deste ano, nós teremos os encontros regionais durante o ano e o encontro nacional no ano subsequente. Daqui sairão muitas ideias importantes para a gente fundamentar a discussão da política lá no encontro nacional”, declarou Maurício.
Para Valdemir Duarte, coordenador-geral do evento, o debate possui uma importância significativa, dadas as discussões sobre os meios de preservação da água no semiárido brasileiro, na busca pela valorização do recurso e das formas de uso sustentável. “Nós estamos discutindo aqui os recursos hídricos. Vamos discutir questões voltadas para o uso múltiplo das águas. Como o tema é ‘Há água! Como Partilhar?’, nós vamos ver como a gente pode dividir a água que a gente tem de uma forma que a gente não passe por problemas como já passamos no passado de enfrentar reservatórios secos, cidades sem abastecimento e muitos outros danos”, explicou Valdemir.
Fernanda Estevão, professora Especialista em Geoambiência e Recursos Hídricos do Semiárido e integrante do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba há doze anos, considera o evento de extrema importância por conta da participação integrada entre os nove estados do Nordeste nesta iniciativa. Segundo Fernanda, o Nordeste é uma região dotada de muitos mitos a seu respeito, como a questão secular da seca, com a qual aprendemos a conviver. “O que a gente tanto procura é exatamente a segurança hídrica. A gente já teve várias crises, o açude já chegou a ficar pouco abastecido e foi um caos para todo mundo. Então, apesar da gente ter avançado, a gente precisa avançar muito ainda. Mas a gente está na luta e eu vejo que a Paraíba tem se destacado nessa busca”, destacou Fernanda.
Tiago Rodrigues da Costa, assentado da cidade de Estância, em Sergipe, é ribeirinho e tem a água como objeto de seu sustento há 22 anos. Já sentado para acompanhar a mesa-redonda, Tiago disse que já participa dos eventos nacionais há 6 anos e que se fez presente ao evento regional para somar-se a todos os nordestinos em prol do futuro dos filhos, netos e bisnetos. “A população é mal informada sobre o que é a água e a juventude não participa das discussões. Eu gostaria que a gente tivesse mais jovens ou que as coordenações nacionais, estaduais e municipais convidassem mais o jovem para participar”, opinou Tiago.
Questões
Debate possui uma importância significativa, dadas as discussões sobre os meios de preservação da água no semiárido brasileiro
Debate tem estudantes e técnicos ambientais
Do outro lado do auditório em que acontecia a mesa-redonda, diversos estudantes, técnicos e ambientalistas de todo o país apresentavam trabalhos científicos por meio de banners no 20 Simpósio Paraibano de Recursos Hídricos. É o caso das técnicas em Controle Ambiental pelo Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Andrielle de Sousa Silva e Fabrícia Bruna Araújo, coordenadas pela professora Mirella Motta. Elas estavam como expositoras do trabalho “Gestão integrada de águas costeiras: o rio Cuiá e a Praia do Arraial em João Pessoa”, fruto do trabalho de conclusão de curso de ambas, concentrado em discutir sobre a balneabilidade da Praia do Arraial, entre a Praia do Sol e a Praia do Jacarapé, que permaneceu durante muito tempo imprópria para banho.
“A gente tá muito feliz por a gente poder expor o nosso trabalho. É muito importante a gente falar sobre as praias, já que a população pode vir a ser contaminada se houver o contato direto com as águas dessa praia, podendo acabar contraindo doenças transmissíveis”, declarou Fabrícia.
Segundo Kátia de Medeiros, coordenadora de capacitações e eventos, haverá uma premiação por menção honrosa e certificação em decorrência de avaliação por parte de uma equipe julgadora. “Após a avaliação, teremos um parecer final e vamos premiar [os participantes] através de certificado e menção honrosa”, frisou Kátia.
Quase 700 pessoas fizeram inscrição
As expectativas de todos os envolvidos para os próximos dias do evento são as melhores possíveis, mesmo porque se trata do primeiro encontro regional. “A minha expectativa é ótima, até porque o pessoal do Sul e do Sudeste acham que a água é infinita. E o pessoal daqui valoriza a sua água e dá o valor que ela tem”, declarou Maurício Scalon.
"Espero que a gestão hídrica possa ser feita de forma descentralizada, participativa"
- Fernanda Estevão
Já Valdemir Duarte acredita que o evento já desponta como uma vitória, dado o número de participantes. “A expectativa era contar com 250 pessoas, e hoje temos mais 600 inscritos, quase 700 trabalhos apresentados, além da participação de todos os estados, até mesmo de outros estados de fora do Nordeste, como é o caso de Minas, Rio de Janeiro, São Paulo”, ressaltou Valdemir.
Fernanda Estevão afirma que todos devem aprender bastante com o evento e destaca a importância para a população diretamente ligada ao recurso nobre da água: “Espero que a gestão hídrica possa ser feita de forma descentralizada, participativa, e que a gente possa incluir principalmente os ribeirinhos, os agricultores, que é quem realmente estão nas bacias e que de fato vão fazer as políticas funcionarem para o desenvolvimento sustentável de que tanto se fala”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 28 de maio de 2024.