Um elemento que existe em abundância na natureza, que pode ser uma fonte energética sustentável e tem vários usos tanto na indústria, como pela população em geral. Esse é o hidrogênio verde, considerado por vários especialistas como o combustível do futuro.
“O hidrogênio pode ser gerado a partir de processos que não necessitam de insumos ou subprodutos nocivos ao meio ambiente. Além disso, a quantidade de fontes de hidrogênio na terra é praticamente inesgotável”, afirmou Germano Veras, coordenador do Programa de Pós-graduação em Química da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
Segundo ele, “qualquer setor que necessita de energia tem potencial para usar o hidrogênio”. Na indústria, esse elemento químico pode ser utilizado, por exemplo, na síntese de amônia, produto em que se costuma usar hoje em dia um tipo de hidrogênio formado em processos não sustentáveis, mas com a substituição pelo hidrogênio verde, poderia haver a redução de gases de efeito estufa. “As indústrias de síntese de ácido clorídrico, álcoois (incluindo metanol), fertilizantes, dentre muitas outras, também usam hidrogênio, e podem ser beneficiados pelo fornecimento de hidrogênio verde”, acrescentou Germano.
A química industrial, doutora em físico-química e professora do Centro de Energias Alternativas e Renováveis do Departamento de Energias Renováveis da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Sayonara Eliziário, também citou várias formas de adoção do hidrogênio verde no setor produtivo. Um exemplo seria na indústria de refino, utilizando-o para o refino do petróleo. Outro é na área do combustível sintético, que tem a mesma estrutura do fóssil, mas é fabricado a partir do hidrogênio verde e CO2 capturado. Ainda há a possibilidade de adotá-lo como fonte de aquecimento ou para cozimento, substituindo o gás natural. Também pode ser aplicado em siderúrgicas, na redução do ferro, para produção de aço verde, bem como na produção de energia elétrica (pouco comum no Brasil) e até na indústria alimentícia.
“As vantagens de se utilizar esse combustível no meio ambiente, quando se usa fontes renováveis, é emitir o mínimo possível de gases de efeito estufa, principalmente, o CO2 (dióxido de carbono). Quanto menos CO2 emitido, associado nesses processos, melhor para o meio ambiente”, destacou Sayonara.
Se imaginarmos um mundo onde o uso dessa oferta energética verde se tornasse popular e fosse adotada em massa pelas pessoas e empreendedores, muitos benefícios poderiam ser alcançados, tanto para o planeta quanto para a saúde dos seres humanos. O professor Germano Veras frisou que, somente o fato de se reduzir a emissão de CO2 na atmosfera já seria o suficiente para ser benéfico à Terra, pois minimizaria o impacto de gases poluentes sobre a camada de ozônio. Isso, considerando que nenhuma substância nociva seria gerada no processo de síntese do hidrogênio.
Por isso, é importante ressaltar que para ser hidrogênio verde vale estar atento à forma de obtenção dele. “Para ser um combustível verde, não basta que não sejam gerados resíduos nocivos ao meio ambiente. É necessário que no processo completo, desde a captação até a destinação final, tenha o mínimo impacto ambiental”, frisou Germano.
E dentro desse sistema sustentável, é necessário planejar não só a produção do hidrogênio verde de forma ecologicamente correta, mas também o transporte, o aproveitamento sem desperdício, e também o armazenamento correto. “Um fator que impacta também a produção de hidrogênio verde está associado ao seu custo operacional, o que torna o produto mais caro do que o gerado por outras rotas de síntese. Entretanto, com o aumento da produção e a demanda crescente de cuidados com o meio ambiente, isto pode ser superado com o passar do tempo”, completou o professor.
Saiba mais
Para os seres humanos, a redução da emissão de CO2 no ambiente, obtida com o Hidrogênio verde, evitaria muitos danos à saúde. “Ar mais puro conseguiria diminuir, significativamente, problemas no sistema respiratório. Estamos falando de milhões de pessoas que sofrem de males associados à contaminação do ar. Veja o exemplo da China, que está conseguindo reduzir, absurdamente, a poluição de suas cidades industriais utilizando processos ambientalmente mais amigáveis. Este país, inclusive, é um dos que estão na ponta do uso de hidrogênio verde”, enfocou o professor Germano Veras.
Paraíba tem forte potencial para produção de energias limpas
Quando questionada sobre as potencialidades da Paraíba no processo de produção de hidrogênio verde e energia limpa, a química industrial, doutora em físico-química e professora do Departamento de Energias Renováveis da UFPB, Sayonara Eliziário, enfocou que os estados nordestinos já produzem energia renovável e podem ampliar ainda mais essa oferta.
“A Paraíba tem forte potencial em energia solar e tem crescido em produção de energia eólica. Além disso, possui grande quantidade de usinas de etanol”, destacou. Ela acrescentou que, na prática, teríamos um produto comercial muito interessante ‘made in Nordeste’. Atrelado a ele, a criação de empregos em todas as áreas correlacionadas”.
“No consumo, em si, esperamos que o custo de alimentos também caia com a inserção de um fertilizante mais brasileiro”, declarou.
E para estimular o uso dessa oferta energética verde em suas diversas aplicações, a Paraíba já conta com uma lei que dispõe sobre o uso sustentável do hidrogênio como fonte de energia limpa. Publicada no Diário Oficial do Estado desde 21 de junho do ano passado, a Política Estadual do hidrogênio Verde foi instituída pela lei no 12.345. Entre os objetivos da medida está a redução das emissões de gases de efeito estufa e a ampliação da matriz energética no Estado.
Alternativa Sustentável
O que é hidrogênio verde?
Muito se fala sobre o hidrogênio verde como uma alternativa sustentável para descarbonizar o planeta. Mas, como podemos defini-lo? “O hidrogênio verde é uma nomenclatura utilizada para identificar um tipo de hidrogênio que é produzido por meio de eletrólise, a quebra da água, utilizando uma energia que deve ser uma fonte renovável, normalmente energia eólica, mas pode ser biomassa”, declarou a doutora em Físico-química e professora Sayonara Eliziário.
De uma forma simples e resumida, o coordenador do Programa de Pós-graduação em Química da UEPB, Germano Veras, explicou que é possível separar esse elemento químico (H) que está presente na água “dando um choque nela”. “É a chamada eletrólise da água. A água contém dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, e ao fornecer uma corrente elétrica na água, os átomos podem se ‘soltas’ e formar os gases hidrogênio (H2) e oxigênio (O2)”.
A professora Sayonara explicou que, no mundo, há várias formas de se extrair o hidrogênio, mas muitas não são de forma sustentável. Dois desses métodos, comuns nas indústrias, são processos de gaseificação de carvão (produzido sobretudo na China) e o processo de reforma a vapor de metano, realizado com gás natural.
“Esses processos são obtidos por meio de fontes fósseis, então, não são processos limpos, mas são os mais comuns até os dias de hoje. Acontece que, com a atração energética, a ideia é que isso mude, e que a gente possa produzir através de fontes limpas, que é o caso da eletrólise, utilizando uma fonte de energia renovável, no caso solar, eólica ou biomassa”, frisou Sayonara.
Projetos aguardam recursos
A doutora em físico-química e professora do Centro de Energias Alternativas e Renováveis do Departamento de Energias Renováveis da UFPB, Sayonara Eliziário, declarou que a instituição desenvolve diversos projetos na área do hidrogênio verde, inclusive, em outros departamentos, como o de Engenharia de Materiais. Alguns desses estudos estão aguardando recursos da ordem de R$ 20 milhões anunciados pelo Banco do Nordeste, por meio do Edital do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fundeci) 01/2023.
Segundo Sayonara, a ideia do edital é apoiar soluções que estimulem o desenvolvimento científico, tecnológico e a inovação das cadeias produtivas de energias renováveis. “Um dos focos é o hidrogênio verde, e todas as atividades relacionadas à sua cadeia de valor.”
A professora acrescentou que, como a UFPB possui muitas pesquisas e produz diversas soluções para a área, os projetos poderão ser contemplados. Entre os estudos desenvolvidos na UFPB, relacionados ao hidrogênio verde, ela citou um voltado à certificação de hidrogênio a partir da biomassa.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 01 de outubro de 2023.