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Histórias de superação marcam famílias de crianças com câncer na PB

publicado: 13/02/2017 21h30, última modificação: 14/02/2017 06h43
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A Casa da Criança com Câncer, em JP, fornece assistência às mães e às crianças acometidas pela doença - Foto: Marcos Russo

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Rachel Almeida - Especial para A União

Ficar na expectativa sobre o que o médico tem a dizer da saúde do filho, que já não está bem há semanas, parece uma eternidade para muitas mães que sabem que um diagnóstico pode mudar completamente a vida da família. Depois de passar por tantos profissionais que não sabem ao certo o que há de errado, chega o dia em que um deles diz o inesperado: “Seu filho tem câncer”. Apesar do medo do desconhecido, nasce uma coragem de lutar e uma esperança que nem mesmo elas sabiam que carregavam consigo.

Na Paraíba, houve um aumento de 34,1% nos casos de óbitos de crianças com câncer, na faixa etária de cinco a 14 anos, e de 2015 para 2016, respectivamente, 161 e 216 mortes. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES), foram registrados 55 casos de óbitos de câncer em 2016, na faixa etária de zero a 19 anos, sendo 11 ocorridos em João Pessoa.

Miguel enfrenta o tratamento para se curar da leucemia há dois anosPular, brincar e explorar o mundo ao seu redor é o sonho de todas as crianças, inclusive de Miguel, porém, ao ser diagnosticado com Leucemia, aos dois anos, sua liberdade teve que ser limitada ao pequeno espaço entre as paredes de sua casa. Solange Andréa dos Santos, mãe de Miguel, mora em Casserengue, município do interior da Paraíba, e sempre sonhou em visitar João Pessoa, mas acabou realizando seu desejo de uma forma triste e inesperada. Ela comentou que tudo começou quando o filho começou a sentir dores nas pernas, ficar pálido de uma hora para outra e apresentar algumas marcas no corpo.

Depois de ser encaminhado para um médico em Campina Grande, que afirmou ter 90% de chance dele ter câncer, foi necessário que Miguel se submetesse a um Mielograma (exame de medula óssea). “No outro dia me chamaram numa sala e disseram que ele estava com suspeita de leucemia, que era câncer, mas que eu não me preocupasse, pois o câncer tinha cura. Mas para mim câncer já significava morte e eu só pensava ‘eu vou perder meu filho’ “, lamentou Solange. Ela comentou que foi muito difícil se sentir impotente durante dois anos de tratamento, ao ver Miguel tomar tantas injeções, sendo privado de se divertir como as “crianças saudáveis”. Hoje, faltando apenas sete semanas para o término da medicação, o estado do menino está bem melhor. Solange optou por realizar o tratamento no Hospital Napoleão Laureano, na capital, e o médico sugeriu que ela se hospedasse na Casa da Criança com Câncer, onde ela afirmou ter obtido todo o apoio necessário. “Até aqui já está dando tudo certo, graças a Deus, e estamos na contagem regressiva para o término. Só tenho a agradecer pela Casa por todo apoio e atenção”, disse.

Mesmo sem ter nenhum histórico de câncer na família, Maria José da Silva foi surpreendida ao descobrir que sua filha do meio, Katlen, tinha Leucemia. Dores no joelho e febre, foram os primeiros sintomas até o momento em que ela não conseguia mais andar. Depois de ter levado sua filha para vários médicos que não sabiam as causas das dores, um deles a encaminhou para o Hospital Arlinda Marques, em João Pessoa, obrigando ela a deixar sua cidade natal, o município de São José de Itaipu.

“No Arlinda, Katlen tomou quatro Mesopacio em duas semanas, e nada de passar a dor, ela ficava chorando de dia e de noite e não comia”, relata Maria José. Ao ser transferida para o HU, Katlen fez o Mielograma, que constatou que ela tinha câncer. “Quando o médico falou eu não acreditei, pois na minha família ninguém teve câncer”, lamentou.

Era uma segunda-feira, quando Katlen recebeu alta, e até então era necessário ir apenas no dia seguinte para tomar a última medicação, mas na terça- feira, no entanto, quando Maria José estava saindo do hospital com Katlen, a recepcionista lhe chama e informa que o médico precisa lhe dizer algo importante.

“Quando eu voltei, ele disse que a doença da minha filha tinha voltado, na hora eu não acreditei. Depois de dois anos e sete meses de tratamento tivemos que começar da estaca zero. Pensar em ter que passar por tudo aquilo de novo me deixou sem reação”, desabafa Maria José. A pequena fez mais um ano de tratamento e, atualmente com seis anos, Katlen precisa de um transplante de medula óssea, mas já conseguiu seis doadores compatíveis.

Para Maria José, o mais difícil de todo o processo era quando Katlen perguntava porque o cabelo dela estava caindo e se ele nunca iria nascer novamente, além do preconceito que muitas pessoas tinham com a doença. “Apesar de tudo eles mostram que a gente tem força e coragem que nunca imaginávamos ter. Com eles na frente nós estamos dispostas a tudo”, afirmou Maria José. As duas moram atualmente na Casa da Criança com Câncer, que possui 98 crianças, onde Maria José participa de oficinas profissionalizantes em culinária e salão de beleza, e Katlen faz atividades educativas. Na casa são oferecidos produtos de higiene pessoal e seis alimentações gratuitas.

Leucemias atacam mais as crianças e adolescentes

O câncer infantil corresponde a um grupo de várias doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais e que pode ocorrer em qualquer local do organismo. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são as leucemias (que afeta os glóbulos brancos), os do sistema nervoso central e linfomas (sistema linfático). O câncer infantil já foi uma sentença de morte, mas hoje essa situação é diferente, e a prova disso está na história de três mães da Casa da Criança com Câncer que, após ter passado por todo esse processo, sentem-se aliviadas pela melhora dos pequenos.

Os cânceres infantis são muitas vezes o resultado de alterações no DNA das células que ocorrem muito cedo, às vezes até antes do nascimento. Ao contrário de muitos cânceres em adultos, o câncer infantil não está ligado ao estilo de vida e a fatores de risco ambientais, de acordo com Vanja Lemos, enfermeira do Núcleo de Doenças e Agravos Não Transmissíveis da Secretaria de Estado da Saúde. Com algumas exceções, os cânceres infantis tendem a responder melhor a tratamentos como a quimioterapia.

Adequação

O organismo de uma criança também tende a lidar melhor com a quimioterapia do que o organismo de um adulto. Entretanto, os tratamentos, como quimioterapia e radioterapia, podem causar efeitos colaterais a longo prazo, de modo que as crianças possam precisar de uma atenção especial para o resto da vida. Na Paraíba, a criança com câncer pode ser tratada nos seguintes centros: Hospital Napoleão Laureano, em João Pessoa; e Hospital Universitário Alcides Carneiro, em Campina Grande. “O ideal é que a criança possa ser tratada em centros especializados de atendimento infantil”, aconselhou Vanja.

Normalmente, os cânceres em crianças não têm uma ligação genética determinada, a não ser a Retinoblastoma, que é um câncer presente na retina do olho. Mas, a grande maioria dos tumores em crianças não possui nenhuma ligação genética comprovada, o que se tem definido são apenas quais os tipos de alterações em cada tipo de câncer, como por exemplo, a leucemia apresenta alterações no DNA, de acordo com a oncologista pediatra, Virgínia Almeida.

“Infelizmente mesmo com todos os avanços no serviço público brasileiro nós ainda damos o diagnóstico muito tardiamente. A maioria dos pacientes quando chegam para serem atendidos já tem metástase, quando o tumor se espalha para outros órgãos do corpo, e isso piora muito a chance de cura”, explicou Virgínia. Ela informou que a melhor coisa para se alcançar um bom resultado é fazer o tratamento de forma correta, pois dependendo do tipo do câncer pode ser incluído a quimioterapia (remédio no sangue), radioterapia (radiação ingerida em uma máquina) e cirurgia a fim de retirar o tumor.