Lucas Campos
Especial para A União
Quando pensamos no HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) ou na Aids (Síndrome da imunodeficiência adquirida) automaticamente os associamos com pessoas jovens ou de meia idade. Esquecemos, entretanto, que o vírus não faz distinção por idade. Idosos também podem ter uma vida sexualmente ativa, tornando-se, consequentemente, suscetíveis ao contágio do vírus e da doença.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, este ano, 14 idosos já foram diagnosticados com HIV, mas nenhum caso de Aids na terceira idade foi detectado. Muito embora o número pareça pequeno, ele ainda representa um alerta, especialmente se levarmos em conta os dados dos anos anteriores. Em 2017, 21 pessoas acima dos 60 anos foram diagnosticadas com HIV e 11 foram diagnosticadas com Aids; em 2016, foram 18 pessoas diagnosticadas com HIV e 22 com Aids.
Esses dados, por sinal, surpreendem os idosos que habitam em um abrigo localizado na Torre. Dona Alcinda de Lucena afirma que esta é uma situação lamentável. “São pessoas em que as outras já confiam, porque é mais idosa, tem mais experiência e mais sapiência, mas isso cai por terra completamente mediante essa informação”, explica seu posicionamento. Ela brinca dizendo que muitos acreditam que os idosos não praticam mais relações sexuais, mas que nada muda neles além do cabelo branco. Ela acredita que todos devem se conscientizar, porque é muito errado transmitir o vírus para outras pessoas.
Muito embora ache a informação estranha a um primeiro momento, seu Getúlio de Araújo acredita entender o motivo pelo qual a doença se propague entre os idosos. “Muitas vezes o idoso fica sozinho depois que a mulher morre, então ele fica se aventurando e acaba chegando nessa situação”, esclarece. Ele pontua que, para muita gente, é um choque saber desses dados porque se espera que o idoso seja uma pessoa bem mais reservada. Assim, como Dona Alcinda, Getúlio recomenda que as pessoas tomem cuidado e usem preservativos.
Secretaria
De acordo com Joanna Ramalho, chefe do núcleo de IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis)/Aids, o perfil do idoso com HIV é bastante claro: “São idosos sexualmente ativos com perfil vulnerável de não uso de preservativos durante as relações”, esclarece. Ela acrescenta que a secretaria costuma fazer as campanhas sempre tentando incluir o idoso, porque há fotos deles nos encartes e ações específicas com o objetivo de estimular a disseminação de informações para esse público.
Joanna também afirma que a distribuição de preservativos também acontece para pessoas na terceira idade e que os municípios possuem orientação específica para que haja adesão por parte dos idosos, o que muitas vezes não é fácil. “Ofertamos testes rápidos em ações de rua ou quando os profissionais estão atendendo os idosos essa temática sobre as ISTs são abordadas e as consequências do não uso do preservativo poderá trazer para vida daquele idoso”, conclui sobre ações focadas no idoso.
Ao ser questionado sobre haver alguma dificuldade para diagnosticar o HIV no idoso, o médico e infectologista Fernando Chagas afirma que não há, porque o acesso aos exames o idoso tem. “A dificuldade maior é captar esse idoso, muitas vezes, por ser idoso, os agentes de saúde não solicitam o exame ou ele não vai buscar”, esclarece. Ele acredita que a sociedade ainda tem uma falsa ideia de que o idoso não pode contrair o vírus HIV porque essas pessoas não costumam praticar relações sexuais.
“Hoje em dia, nós vemos que o HIV está presente em todas as idades. Para você ter uma ideia, eu tenho um paciente de 84 anos, mas ele contraiu o vírus aos 80”, exemplifica. Ele esclarece que, falando do homem, existem medicações que solucionam a problemática da disfunção erétil e a idosa, consequentemente, também pode se tornar ativa sexualmente.
Sobre o vírus propriamente dito, Fernando Chagas explica que ele possui um tropismo, ou seja, uma grande atração por células cerebrais. “Um dos locais em que ele fica é no cérebro, logo, no idoso ou paciente na idade senil e que tem uma perda das células neurológicas, ele pode sofrer sim com a presença do vírus”, explica. Ele ainda acrescenta que o vírus pode diminuir ainda mais uma imunidade que já é debilitada. Portanto, o vírus no idoso pode ter consequências mais grave, como o surgimento de doenças cardíacas, esclerose, osteoporose e até AVCs.
Pensando no coquetel de medicamentos que combatem o HIV, o médico explica que houve uma mudança na forma de medicar e que, portanto, os efeitos colaterais não costumam ser mais tão frequentes. “O esquema básico atualmente são três drogas divididas entre dois comprimidos, você só toma dois comprimidos por dia e os efeitos colaterais caem bastante, muitos pacientes não sentem nada”, pontua. O problema dos medicamentos com o idoso é que eles já costumam tomar muitas outras substâncias e estas podem interagir com o medicamento do HIV, causando reações adversas.
Fernando lamenta o fato de que ainda haja muito preconceito, não apenas com o idoso, mas com todos os soropositivos. “Ainda há uma rotulagem muito grande. O idoso sofre muito com isso, porque no meio dele, entre outros idosos que não se atualizaram ou que tem a questão da tradição, da cultura que associa muito o HIV com a promiscuidade e isso realmente, no idoso, tem um impacto muito maior”, conclui o médico.
Exame
Todos os idosos devem fazer os exames de HIV, em especial aqueles que possuem vida sexualmente ativa ou possuem doenças ou sintomas de doenças originárias de imunidade baixa.
Onde os idosos podem procurar ajuda
Prevenção: Todas as Unidades de Saúde da Família (USF) do Estado disponibilizam preservativos e lubrificantes a fim de manter o sexo seguro.
Diagnóstico: Todas as USF disponibilizam testes rápidos, assim como os Centros de Testagem e Aconselhamento como nos SAE, a exemplo do Hospital Clementino Fraga.
Tratamento: Toda população tem direito a receber o tratamento gratuito para o HIV, disponíveis nos hospitais de referência, como:João Pessoa: Hospital Clementino Fraga e Hospital Universitário Lauro Wanderley. Campina Grande: Hospital Universitário Alcides Carneiro.