Louis Braille tinha apenas 15 anos quando, a partir da união de algumas técnicas de leitura para cegos e códigos para soldados de guerra, apresentou o que seria o sistema de leitura e escrita mais utilizado em todo mundo pelas pessoas cegas, o Braille. Cego desde os três anos de idade, Louis Braille esperou quase 30 anos até que o método fosse oficializado, o que só aconteceu em 1854, dois anos após a sua morte.
Em reconhecimento ao trabalho de Louis Braille, a Organização das Nações Unidas (ONU) oficializou 4 de janeiro como o Dia Mundial do Braille, em homenagem ao aniversário do criador do sistema. A data chama a atenção sobre a conscientização do Braille como meio de comunicação para pessoas cegas ou com baixa visão e o objetivo da data é reconhecimento da promoção dos direitos humanos e liberdades fundamentais, considerando o acesso à linguagem escrita como um pré-requisito essencial para a plena realização dos direitos humanos para cegos e deficientes visuais.
Porém, de acordo com um estudo realizado pela Universidade de Brasília em 2015, 74% das pessoas cegas no país ainda não são alfabetizadas, incluindo as que não sabem ler em Braille, ou outro método, e os que não possuem certificação escolar. Exceção à regra, Otto de Sousa se graduou em Rádio e TV pela Universidade Federal da Paraíba e atualmente é o revisor de Braille da Empresa Paraibana de Comunicação, EPC.
“O Braille sempre foi minha ferramenta principal de leitura e escrita, inclusive na minha vida acadêmica, nas escolas também, e agora trabalho aqui com esse sistema”, diz Otto, que realiza a revisão da edição mensal em Braille, do Jornal A União. Além desse trabalho, Otto também foi responsável pela revisão da obra Fogo Morto, de José Lins do Rego, lançada em 2023.
Beto Pessoa, revisor de texto na Funad e cego desde o nascimento, considera que o aprendizado de Braille é um ponto de partida para uma boa leitura e escrita, mas representa muito além. “O Braille é essencial para a vida! Mesmo com as tecnologias existentes, que permitem as transcrições, é com o Braille que fazemos nossa própria leitura, conseguimos dar nossa interpretação às obras literárias e conseguimos guardar nossas emoções”, disse Beto, que começou a cursar jornalismo na UFPB, mas preferiu se dedicar ao trabalho com a música.
Coordenadora da Imprensa Braille do Jornal A União, Hanna Pachu concorda que as ferramentas tecnológicas ajudam, mas não substituem o aprendizado em Braille. “Na verdade, essas ferramentas vem para somar, mas Braille sempre será o método de leitura e escrita principal e mais importante. A tecnologia é facilitadora, mas se a pessoa não tiver o acesso ao Braille, ele não vai saber escrever corretamente, gramaticalmente falando”, afirma.
Sobre o trabalho da Imprensa Braille do Jornal A União, Hanna comemora um 2023 significativo na execução de novos projetos. “Conseguimos lançar o Cartão de Vacinação em Braille e estamos na fase de testes para expandir para o restante do Estado. Fizemos a transcrição do livro Fogo Morto, de José Lins do Rego, sendo o primeiro livro em Braille que o Museu José Lins recebeu, e ainda o disponibilizamos para outras três instituições do Estado. Além disso, transcrevemos também o folder do Museu e disponibilizamos impressos em Braille”, finalizou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 04 de janeiro de 2024.