Com o envelhecimento natural e o surgimento de doenças sistêmicas (diabetes, hipertensão, obesidade, artrose), os pés tendem a ficar com a pele ressecada e fina, ossos salientes e as unhas grossas e afuniladas. Um pé mal cuidado é porta de entrada para infecções, por isso, a atenção com a saúde dos pés deve ser redobrada na terceira idade.
Os pés são a plataforma de apoio de todo o corpo, que contribuem para a estabilidade corporal e absorção do impacto durante a marcha. As doenças mais frequentes nos pés idosos, segundo a podóloga Luciana Cardoso, são dedos em garra, joanetes (osso proeminente), pés planos, calos com núcleo, sobreposição digital, fungos nas unhas, artroses, tendinite, unhas encravadas, alterações da circulação periférica, alterações do apoio plantar e da marcha. “Pessoas que pintaram excessivamente as unhas na vida adulta e não trataram, tendem a ter fungos. No caso de calos com núcleo, geralmente, são pessoas que utilizaram muito salto alto. Há idosos que têm os dedos dos pés sobrepostos. Isso ocorre por questões genéticas e porque a estrutura óssea tende a sofrer alteração. Além disso, a pele se torna mais fina na terceira idade, por isso, a hidratação com cremes específicos é importante”, ela detalhou.
A geriatra do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW/Ebserh), Manuela Toledo, explica que no envelhecer é comum adquirir sequelas do tempo de uso, de caminhada, do sobrepeso em que algum momento da vida adquiriu, dos sapatos inadequados, manipulação errada das unhas, ressecamento da pele. “Essas circunstâncias podem desencadear problemas nos pés”, disse.
Geralda Cavalcanti, 73 anos, é diabética e hipertensa. Devido à má circulação sanguínea e dificuldade de cicatrização, o pé dela tem facilidade de inflamação. Certa vez, iria precisar amputar o dedo, mas o tratamento adequado com a podóloga restaurou a lesão. Além do controle com a alimentação, Geralda faz higienização com a podóloga mensalmente, para evitar inflamações. “Sempre que tomo banho, minha filha enxuga os pés dedo por dedo. Passa hidratante e coloca meia limpa. Minha família tem muito cuidado comigo”, disse.
Manuela Toledo enfatiza que pessoas com pé diabético e neuropatas precisam de cuidado redobrado, pois o agravamento das doenças pode levar à morte. “O não tratamento em tempo hábil pode levar a quadros de dores crônicas, focos infecciosos e amputações. Afinal, não é todo mundo que está habilitado a cuidar dos pés”, disse.
Há lesões em pés diabéticos que não podem ser retiradas. “O diabético já tem problema de circulação sanguínea, então a gente só recomenda a retirada da lesão em um quadro infeccioso. Se a lesão não cicatrizar, corre o risco de amputação e necrose”, alertou a geriatra.
No Nordeste é muito comum evitar alguns alimentos quando se está com algum processo inflamatório no organismo, a exemplo de macaxeira, camarão ou carne de porco. No entanto, não há nenhuma comprovação científica. A geriatra recomenda dietas saudáveis que facilitem a circulação sanguínea. “Pacientes com diabetes devem evitar carboidratos em excesso, manter controlada a glicemia e a função renal. O controle das doenças vasculares é muito importante para prevenir doenças no pé”, disse.
Tratamento preventivo inclui higienização e escolha do calçado
É importante levar ao podólogo para o tratamento preventivo mensalmente. Além da higienização do pé, corte adequado das unhas, tratamento de rachaduras, o podólogo orienta qual tipo de calçado se adequa ao formato do pé do idoso. A podóloga Luciana Cardoso recomenda aos familiares examinarem com frequência os pés do seu idoso, para evitar complicações de doenças. “ Caso o familiar ou o próprio idoso identifique qualquer alteração como rachaduras no pé, alteração de sensibilidade, unha encravada ou calosidades é necessário fazer tratamento com o podólogo”, disse.
Os índices de amputação em pés diabéticos são elevados devido à manipulação inadequada. Se a diabetes do idoso estiver descompensada, a podóloga não realiza nenhum procedimento sem prescrição médica. “O podólogo atua na prevenção, mas há especialistas em pé diabético. Se eu receber um paciente, pela primeira vez, com uma inflamação expressiva, encravada ou sem sensibilidade, oriento o familiar a procurar um médico para controlar a infecção com antibiótico. Só faço o procedimento se a diabetes estiver controlada”, afirmou.
Na percepção de Luciana, os problemas nos pés são ocasionados pelo manuseio inadequado da unha por profissionais não capacitados. “Independente do fator idade, muitas manicures mexem em uma unha encravada, lesão ou calo sem a instrumentação nem esterilização adequada, muitas vezes, não fazem nem um curativo preventivo. O trabalho delas é cutilar e embelezar as unhas. Quando um paciente está com uma lesão, os podólogos acompanham o paciente até a cicatrização”, comparou.
Principais Cuidados
- Sapato confortável de preferência sem costura
- Meias limpas e sem costura
- Os cuidadores precisam verificar os pés diariamente observando se existe alguma alteração.
- Secar bem os pés e entre os dedos evitando fungos
- Cremes específicos para os pés evitando entre os dedos
- Controle de peso
- Fazer a higienização dos pés com profissionais capacitados
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 16 de dezembro de 2023.