As áreas do Semiárido do país cresceram a uma taxa média superior a 75 mil metros quadrados no período entre 1960 e 2020. Essa é a constatação de um estudo do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). As áreas classificadas como semiáridas se concentram na região Nordeste, exceto Maranhão, e no Norte de Minas Gerais. Esse diagnóstico será utilizado na elaboração do Plano Nacional de Combate à Desertificação. Segundo o Instituto Nacional do Semiárido (Insa), a Paraíba é o estado brasileiro mais afetado, em termos proporcionais, pela desertificação.
Ao todo, 28 municípios enfrentam essa problemática de degradação de terras no estado: Frei Martinho, Juazeirinho, Barra de São Miguel, São Mamede, Picuí, Taperoá, Caraúbas, Patos, Baraúna, Santo André, Congo, Santa Teresinha, Nova Palmeira, Gurjão, Camalaú, Cacimba de Areia, Pedra Lavrada, Parari, São João do Tigre, Tenório, Cubati, São José dos Carneiros, São José do Sabugi, Coxixola, Seridó, Serra Branca, Santa Luzia e Várzea, conforme o Insa. “Especialmente a região do Semiárido paraibano, que é vulnerável devido a características climáticas específicas, baixa precipitação pluviométrica e elevadas taxas de evaporação. No cenário nacional, a desertificação atinge a região semiárida dos estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Ceará e Bahia, onde estão presentes os Núcleos de Desertificação”, informou o coordenador de Pesquisa do Insa, Emmanuel Moreira Pereira.
Conforme explicou, tem-se projetado uma intensificação da desertificação no Semiárido brasileiro, com destaque para a Paraíba devido ao aumento da temperatura, diminuição da precipitação e de chuvas, intervenção do homem no ambiente, tais como o desmatamento e exploração intensiva em áreas agropecuárias. “Além disso, há uma tendência à amplificação dos períodos de seca e a diminuição da ocorrência de dias chuvosos. Estes fenômenos podem se exacerbar nos próximos anos, o que justifica a importância da adoção de medidas que preservem os recursos hídricos, ajudem a recuperar a vegetação nativa e, ao mesmo tempo, cuidem dos atores locais”, disse.
Ele alertou que os efeitos da desertificação nessas regiões, além dos impactos ambientais gerados, resultam na perda de produtividade do solo, impacta a economia local e a vida das pessoas que dependem da agricultura. "Por isto é importante investir em tecnologias e práticas que ajudem a recuperar a fertilidade do solo e a preservar os recursos hídricos, além de buscar alternativas econômicas para as comunidades afetadas", considerou.
O estudo do Cemaden/Inpe constatou que há uma tendência de aumento da aridez em todo o país, com exceção da região Sul e do Litoral dos estados de Rio de Janeiro e São Paulo. Estas variações se devem principalmente ao aumento da evapotranspiração associada com aumento da temperatura, que tem sido observada em grande parte do país. Já no caso da região Sul, a diminuição está associada com o aumento da chuva.
As áreas classificadas como semiáridas se concentram na região Nordeste (exceto Maranhão) e no Norte de Minas Gerais. Com relação às áreas subúmidas secas, além da região Nordeste e Norte de Minas Gerais, foram identificadas ocorrências no Norte do Rio de Janeiro e no Mato Grosso do Sul. Na pesquisa também foi identificado que no último período considerado, 1990-2020, observou-se o aparecimento de uma área definida como árida no Norte da Bahia, que nunca fora observada no país nas décadas anteriores.
Insa promove ações para amenizar impacto no solo por falta de chuvas
O Insa informou que tem promovido ações para combater a desertificação com a articulação, estruturação e dinamização de uma nova sistemática de pesquisa em rede, desenvolvida mediante o estabelecimento de parceria com outras instituições sediadas dentro e fora da região.
O coordenador de pesquisa do órgão informou que essa questão tem sido tratada por meio de iniciativas como o estímulo ao desenvolvimento rural sustentável e parcerias com Organizações Não-Governamentais, sindicatos rurais, associações de agricultores e cooperativa, buscando sempre o envolvimento das comunidades locais, valendo-se das tecnologias desenvolvidas internamente, às quais podem auxiliar significativamente no combate à desertificação da região e incentiva a produção familiar.
Também têm sido desenvolvidas tecnologias sustentáveis para o Semiárido brasileiro, principalmente, no aspecto de difusão de sistemas de tratamento e reúso de água de forma difusa, em escala familiar, escolar ou comunitária, segundo Emmanuel Moreira Pereira. Esses sistemas permitem o cultivo de espécies arbóreas nativas em áreas degradadas com elevado potencial para recuperação de áreas em situação de desertificação.
Neste sentido, o reúso de água serve como uma alternativa fundamental que é a irrigação das espécies que devem ser implantadas nas áreas desertificadas até seu estabelecimento. Assim, promovendo o território mais resiliente, sustentável e inclusivo no Semiárido brasileiro.
A promoção do desenvolvimento sustentável por meio de pesquisas, como aquelas que buscam integrar a captação de água de chuva, o reúso do esgoto gerado e o aproveitamento de energia solar, conservação de espécies vegetais e animais nativos são vertentes exploradas nas pesquisas realizadas por algumas das áreas do instituto que tem contribuído para o desenvolvimento sustentável da Paraíba e do Semiárido brasileiro.
Governo da Paraíba tem realizado ações de desenvolvimento local
O Governo do Estado vem desenvolvendo ações para o combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca, a exemplo do programa Água Doce para distribuição com as populações locais por meio de sistemas de dessalinização. Foram implantados 101 sistemas de dessalinização em 44 municípios, somando um investimento do Governo do Estado em torno de R$ 14,6 milhões.
Além disso, o Governo conta ainda com o Programa PB Rural Sustentável (Procase), com perfuração e instalação de poços, kits de irrigação, sistemas de energia solar em cooperativas, dessalinizadores, assistência técnica e de gestão, distribuição de mudas frutíferas.
Os paraibanos também contam com o Garantia Safra, o projeto Nascente Viva. Criado pela Superintendência de Desenvolvimento e Meio Ambiente (Sudema) e pela Secretaria da Infraestrutura e dos Recursos Hídricos (Seirhma-PB) em 2019 e lançado em 2022 o projeto tem o objetivo de promover a recuperação das nascentes e das matas ciliares no alto e médio curso do Rio Paraíba. O projeto tem a missão de recuperar as nascentes e áreas de proteção permanente do Rio Paraíba, mas também a de proporcionar ações de mobilização social, sensibilização e educação ambiental junto a proprietários de terras, lideranças comunitárias e moradores dos municípios beneficiados.
Em média, deve atuar na recuperação de 202 nascentes, totalizando uma área de 633,15 hectares, incluída aí a mata ciliar do alto e médio curso do Rio Paraíba. Um total de 24 municípios devem ser beneficiados diretamente com as ações, em uma extensão de mais de 334 km ao longo do Rio Paraíba.
O estado também conta com o projeto de integração do Rio São Francisco com as bacias do Nordeste Setentrional (Pisf), a construção da adutora Acauã-Araçagi, zoneamento pedoclimático da área do canal das vertentes litorâneas da Paraíba (Zona PB), construção do sistema adutor Transparaíba (ramal Curimataú), sistema adutor Transparaíba (ramal Cariri), entre outros programas.
Conclusão de Estudo
Há uma tendência ao aumento da aridez em todo o país, exceto na região Sul. Este fator se deve principalmente ao aumento da evaporação associada com aumento da temperatura – aquecimento global
- Observa-se um efeito de expansão das áreas do Semiárido do país, a uma taxa média superior a 75 mil quilômetros quadrados a cada década considerada. Se for incluída a área classificada como subúmida seca esta taxa é da ordem de 65 mil quilômetros quadrados a cada década.
- Estas diferenças se devem ao fato de que a região subúmida seca mostrou redução nos períodos 1970-2000 e 1980-2010, concomitante com o aumento da área semiárida, mas mostrou tendência de aumento no período 1990-2020 sugerindo um aumento de aceleração do processo em períodos mais recentes.
- As áreas classificadas como semiáridas se concentram na região Nordeste (exceto Maranhão) e Norte de Minas Gerais. Com relação as áreas subúmidas secas, além da região Nordeste e Norte de Minas Gerais, foram identificadas ocorrências no Norte do Rio de Janeiro e no Mato Grosso do Sul.
- No último período considerado, 1990-2020, observou-se o aparecimento de áreas definidas como áridas no centro da região Nordeste
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 10 de dezembro de 2023.