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Imperiosas palmeiras e os fungos

publicado: 26/06/2023 10h02, última modificação: 26/06/2023 10h02
No ano passado, 54 exemplares sofreram ataques externos e 13 morreram. Semam tem realizado monitoramento
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Problema tem sido causado por um fungo conhecido como “broca”, que provoca a quebra do “pescoço” da espécie. Semam promete novos plantios para recompor o quantitativo - Foto: Marco Russo
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"Estamos atentos à saúde desses vegetais para evitar ataques de fungos" Anderson Fontes - Foto: Arquivo pessoal
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"A adoção de palmeiras em áreas públicas traz benefícios à cidade" Bia Campelo - Foto: Arquivo pessoal
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Foto: Marco Russo
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Foto: Marco Russo
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por Alexsandra Tavares*

A variedade de flores, árvores, arbustos, enfim, de plantas, é grande em vários cantos de João Pessoa. Entre as espécies vegetais que se destacam estão as palmeiras-imperiais, que podem ser vistas em pontos turísticos como o Parque Solon de Lucena (Lagoa). De aparência imponente, elas chamam a atenção pela beleza e importância ambiental. Mas, quem transita pelo centro da cidade pode perceber duas dessas palmeiras sem as folhagens e uma já cortada. Segundo o engenheiro agrônomo e diretor de Controle Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de João Pessoa (Semam), Anderson Fontes, somente no último ano, 54 palmeiras-imperiais ficaram doentes e, desse total, 13 morreram.

Os três exemplares observados no centro da cidade, especificamente na Avenida Presidente Getúlio Vargas, foram atacados pelo fungo causador da doença chamada broca, que provoca a quebra do “pescoço” da planta. “Infelizmente, elas foram atacadas por fungo, ficaram totalmente secas e não tivemos condições de salvá-las. Mas, já estamos providenciando a retirada delas. Posteriormente, novos plantios serão feitos para substituí-las”, explicou Anderson. 

As palmeiras-imperiais vistas na cidade são da espécie Roystonea oleracea e, de acordo com Anderson, de uma forma geral, a saúde dessas plantas é considerada “boa”. Ele disse que, diariamente, essa espécie recebe acompanhamento da equipe da Divisão de Arborização e Reflorestamento da Semam. Os profissionais observam o comportamento, analisam a estrutura, fazem o diagnóstico fitossanitário e a limpeza. Sempre que é necessário, é feito o devido tratamento.

“Estamos com um olhar atento à saúde desses lindos vegetais da família das palmáceas para que não tenham infestação, sobretudo, dos fundos. Podemos dizer, porém, que a saúde delas está, relativamente boa”, salientou.  Ele acrescentou que avançadas técnicas são utilizadas no acompanhamento e cuidado dessa vegetação.

Segundo ele, as palmeiras-imperiais, são indivíduos que já fazem parte da história e paisagem da cidade. A chegada das Roystonea oleracea a João Pessoa data do processo de urbanização da cidade, na década de 1930, época em que houve uma melhor definição paisagística da colocação das plantas ornamentais na capital. No entorno do anel interno da Lagoa, por exemplo, elas são refletidas no espelho d’água e, segundo Anderson, disciplinam a área de convivência do parque. “É como se fosse o limite entre o espelho d’água com as outras ilhas, que têm outras espécies arbustivas, herbáceas e ornamentais. Pelo seu tamanho, ela impõe ao cidadão, ao visitante, esse ordenamento do local”, contou o engenheiro agrônomo. 

Diversidade

A capital apresenta uma diversidade arbórea. Dados da Semam mostram que existem 105 espécies diferentes de um total de 300 mil árvores. João Pessoa também mantém 31,47% de vegetação arbórea.

João Pessoa tem mais de 700 registros de exemplares da planta, diz Semam

As palmeiras-imperiais podem alcançar de 30 a 40 metros de altura e a folha apresenta de três a cinco metros de comprimento. O tronco, de formato cilíndrico, é acinzentado, e alcança até 60 centímetros de diâmetro na parte mais grossa. De acordo com o engenheiro agrônomo e diretor de Controle Ambiental da Semam, Anderson Fontes, existem, cadastradas na secretaria, mais de 700 palmeiras-imperiais espalhadas pela capital. 

Uma grande concentração delas pode ser vista facilmente no anel interno da Lagoa, cartão-postal da cidade. Mas, também há unidades dessa espécie em algumas praças, calçadas, no Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica) e ruas como a Avenida Presidente Getúlio Vargas. 

Originárias das Antilhas, essas plantas chegaram ao Brasil na época do império. A arquiteta e paisagista, Bia Campelo,  contou que a primeira palmeira-imperial foi plantada em terras brasileiras, pelo próprio Rei D. João 6º,  no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em 1809.  Todas as palmeiras-imperiais cultivadas no país são descendentes desta primeira muda, denominada Palma Mater. Desde então, o uso da espécie se popularizou nas cidades brasileiras, sendo muito utilizada em espaços públicos. 
“É uma espécie de palmeira conhecida pela sua resistência e longevidade, porém, alguns fatores podem comprometer a sua vida útil, como as formigas saúva e besouros, que atacam principalmente as folhagens, impedindo a geração de novas folhas. Também é sensível a fungos, que podem afetar a passagem dos nutrientes pelo caule e comprometer a estabilidade das suas raízes”, afirmou Bia.

De acordo com ela, a adoção da planta em áreas públicas traz inúmeros benefícios, tanto para a população, quanto para a flora local. Bia frisou que é de senso comum que o uso de vegetação auxilia na purificação do ar e na criação de microclimas, tornando os espaços mais agradáveis e com sensação maior de bem-estar. 

“Além disso, são essenciais para o embelezamento de qualquer cenário, inclusive o urbano, com as palmeiras-imperiais atuando diretamente nesse quesito. O seu porte alto e esbelto é capaz de trazer a sensação de imponência e verticalização a grandes áreas urbanas, sendo impossível não se destacar na paisagem e não contemplá-las”.
A arquiteta acrescentou que, por serem adotadas, costumeiramente, em áreas de grande importância cultural e turística das cidades, as palmeiras-imperiais acabam se tornando peça turística e histórica por estarem ligadas muitas vezes à origem desses lugares. “Portanto, nisso cabe a importância da sua preservação, pois ao mesmo tempo em que estamos preservando essas palmeiras, estamos cuidando da nossa história”.

Espécie pode viver 120 anos no centro urbano

Uma palmeira-imperial plantada em área urbana, com todas as condições fitossanitárias, pode viver até 120 anos. A informação é da Prefeitura de João Pessoa. Essa longevidade pode ser alcançada, mesmo a planta sofrendo todas as interferências provocadas pelo homem, principalmente, em relação à poluição atmosférica causada pelos automóveis.
Uma curiosidade citada pelo engenheiro agrônomo, Anderson Fontes, é que no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, a Bica, há um conjunto de cerca de 10 palmeiras-imperiais plantadas bem próximas umas das outras. “É o menor espaço de agrupamento de palmeiras-imperiais por metro quadrado visto no Brasil. Hoje, não é possível fazer um plantio direcionado igual a esse”, afirmou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 25 de junho de 2023.