As doenças que acometem ossos e articulações costumam atingir mais as pessoas idosas, devido ao desgaste ósseo que ocorre, naturalmente, com o passar dos anos. Problemas como osteoartroses, osteoartrites, osteoporose e sarcopenia podem ser mais frequentes nesse período da vida e, com a chegada do inverno, que traz temperaturas mais baixas, as dores e o incômodo causados por essas doenças ainda podem se agravar, gerando maior desconforto do que em outras épocas do ano.
A aposentada Maria do Socorro Carvalho, de 72 anos, foi diagnosticada, em 2014, com artrite reumatoide, uma doença inflamatória crônica que pode afetar várias articulações. Ela conta que sentia muitas dores nos joelhos, além de os braços, ombros e mãos, e, por isso, procurou um médico, fazendo uma variedade de exames e visitando diversos profissionais, de diferentes áreas, até conseguir o diagnóstico.
Causas
Dores podem piorar no frio por causa de retrações musculares e alterações circulatórias articulares, gerando espasmo das paredes dos vasos sanguíneos
Para tratar a artrite reumatoide, Maria do Socorro precisou fazer duas cirurgias, além da colocação de uma prótese e da realização de sessões de fisioterapia. Ela afirma que, após todos esses procedimentos, as dores nos joelhos foram amenizadas. “A dor que eu sentia antes da cirurgia era uma dor quase insuportável, não sei como conseguia aguentar, porque estavam muito estragados os meus joelhos. Agora, não; quando trabalho em casa, fazendo as coisas, dá uma dorzinha e fico cansada, mas me sento um pouco, descanso, e pronto, continuo fazendo meus trabalhos”, comenta Maria do Socorro, acrescentando que o tratamento da doença inclui remédios de uso contínuo, entre os quais está um imunobiológico que ela recebe por meio do Centro Especializado de Dispensação de Medicamentos Excepcionais (Cedmex).
A idosa reconhece, porém, que as dores causadas pela artrite se intensificam em períodos de baixa temperatura: “Aumenta o frio, aí aumentam também as dorzinhas nos joelhos, aparecem dores a mais. Não sei o que tem a ver a frieza com essas coisas, mas acontece, realmente”. Por isso, para minimizar o impacto do clima, Maria do Socorro adota cuidados especiais durante o inverno. “No frio, eu procuro me aquecer bastante, ponho meia, agasalho, só me banho com água quente e continuo tomando os remédios”, revela.
Atividades profissionais exercem forte influência sobre desgastes
As atividades profissionais desempenhadas ao longo da vida também são fatores de influência na ocorrência desses problemas, já que, como observa Sérgio Paredes, um trabalhador da construção civil, por exemplo, tende a sofrer maior desgaste das articulações do que alguém que atua sentado, em um escritório.
“Os desgastes serão proporcionais às atividades profissionais, ao estilo de vida. Então, isso tudo acarretará degenerações: os desgastes que teremos nas articulações, o osso ficar mais fraco, o músculo ficar mais fraco. Como é um sistema global, um interfere no outro”, afirma o ortopedista.
João Borges explica que, em decorrência desse processo degenerativo das doenças ósseas, pode haver, ainda, limitações de movimentos do paciente, o que aumenta o risco de quedas, fraturas e outros problemas, como úlceras de decúbito, incontinência urinária, broncopneumonia, trombose venosa profunda e embolia pulmonar.
Ambos os especialistas indicam, como opções para tratamento das doenças, as práticas de fisioterapia, acupuntura, hidroterapia e massagens, além do uso de analgésicos, anti-inflamatórios e suplementações, como colágenos, desde que siga indicação e acompanhamento médico.
Sérgio faz, porém, um adendo importante: “Em caráter de tratamento, tomar um remédio para o sintoma não resolve o problema; a causa só é tratada com a mudança de estilo de vida, interferindo na inflamação das articulações”. Ainda segundo o ortopedista, deve-se recorrer a intervenções cirúrgicas apenas em último caso, quando tiverem se esgotado todas as demais possibilidades de tratamento do problema.
Exercícios físicos e alimentação saudável são aliados contra problemas
Aquecedor e compressas ajudam no alívio
O médico geriatra e gerontologista João Borges da Silva explica que as dores articulares podem piorar no frio por causa de retrações musculares e alterações circulatórias articulares, gerando espasmo das paredes dos vasos. Isso pode causar certo grau de isquemia das superfícies das articulações, ou seja, a redução do fluxo de sangue e a oxigenação inadequada dessas áreas, potencializando os incômodos.
"Aumenta o frio, aí aumentam também as dorzinhas nos joelhos, aparecem dores a mais"
- Maria do Socorro Carvalho
Segundo o médico ortopedista Sérgio Paredes, que trabalha na área de medicina da dor, o frio também ajuda a intensificar substâncias inflamatórias. “Quando os padrões mais frios ocorrem, eles precipitam a cristalização de algumas substâncias inflamatórias nas articulações, e essas regiões sinalizam mais dor. Então, a recomendação é sempre se agasalhar bem, usando roupas de frio próprias para isso, com tecidos que retêm calor. Não adianta ser uma roupa longa, mas que não seja de frio; o paciente tem que comprar trajes de inverno”, orienta.
Para ajudar no alívio das dores, o ortopedista ainda indica outras medidas, como o uso de aquecedores, que elevam a temperatura de ambientes domésticos, além do preparo de compressas, chás e outras bebidas quentes, sobretudo à noite. Sérgio também recomenda, a pessoas que residam em lugares mais frios e tenham condições de se mudar (por ocasião de aposentadoria ou transferência de trabalho, por exemplo), que optem por viver em locais de temperaturas mais altas, pois estas auxiliam na minimização dos incômodos articulares.
Estilo de vida é fator-chave para prevenção e tratamento, diz médico
A melhor forma de prevenir e tratar doenças ósseas, de acordo com o ortopedista Sérgio Paredes, é adotar um estilo de vida mais saudável, cuidando da alimentação, prezando a qualidade do sono e buscando a prática regular de atividades físicas. “Sem sombra de dúvidas, se você dorme mal e não tem um sono de qualidade, que permita fazer a reparação adequada, isso vai impactar o seu processo de envelhecimento. Porque sono, alimentação e exercícios vão remover as partes tóxicas que estão dentro das nossas articulações e que podem degradar ou deteriorar a situação mais rápido”, ressalta.
"Os cuidados passam por reduzir o peso e investir no fortalecimento da musculatura que sustenta as articulações"
- João Borges
O geriatra João Borges reforça a importância de hábitos de vida mais saudáveis para o tratamento desses problemas, e frisa que o processo de cuidado com o bem-estar deve ser mantido durante toda a vida. “Ele começa desde tenra idade, com uma alimentação saudável, que se inicia com o uso de leite materno, no primeiro ano de vida, e que deve continuar, com uma dieta rica de cálcio, proteína e sais minerais, associado ao banho de sol e à atividade física regular, para fortalecer ossos e músculos e manter a mobilidade articular”, conta.
Nesse sentido, o especialista alerta sobre a necessidade de se evitar o excesso de peso, além da realização de atividades de impacto, prevenindo que, a longo prazo, haja desgaste dos discos e das cartilagens articulares. “Os principais cuidados passam por reduzir o peso corpóreo, evitar excesso de carga e investir no fortalecimento da musculatura de sustentação das principais articulações de carga, principalmente dos joelhos e das musculaturas abdominal e paravertebral, para a sustentação da coluna lombar”, detalha João, acrescentando que a atenção diária à postura, incluindo sentar-se e deitar-se corretamente, é outro hábito valioso para evitar doenças ósseas.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de julho de 2024.