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Jardinagem traz qualidade de vida

publicado: 13/05/2024 09h52, última modificação: 14/05/2024 11h24
Atividade melhora capacidade cognitiva e coordenação motora, além de diminuir ansiedade e risco de depressão
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Maria José dos Santos herdou a paixão por plantas da mãe adotiva; aos 75 anos, ela coleciona espécies - e quer mais | Fotos: Leonardo Ariel
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Goreth Campos começou a se dedicar ao jardim da casa depois de aposentada; quando viaja, ela pede ajuda ao zelador
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por Sara Gomes*

Muitas pessoas quando chegam à velhice ou se aposentam sentem falta de atividades para preencher o tempo livre. A jardinagem é uma excelente prática terapêutica que pode ajudar nesse processo de transição. Além de trazer muitos benefícios à saúde da pessoa idosa, ameniza a sensação térmica do ambiente, tornando-o também mais aconchegante.

O cuidado das plantas traz inúmeros benefícios à pessoa idosa: melhora a capacidade cognitiva e a coordenação motora, diminui o sedentarismo e ajuda na prevenção de doenças como depressão e ansiedade. Segundo pesquisas científicas, a prática ajuda a liberar hormônios que ocasionam bem-estar, como endorfina, serotonina, oxitocina e dopamina. Alguns países reservam áreas de jardinagem nos hospitais, pois o cuidado com as plantas se tornou uma terapia complementar.

Natural de Campina Grande, Maria José dos Santos, 75 anos, começou a gostar de plantas por influência de Maria Ivolita Lucas, uma senhora que a adotou depois da morte de sua mãe. “Ela tinha um jardim imenso, foi quem me ensinou tudo que sei sobre plantas. Ela morreu com quase 100 anos”, conta.

O jardim de Maria José possui muita diversidade de espécies, de pequeno a grande porte: pau-brasil, limão siciliano, tamarindo, mamão, romã, avencas, costela de adão, lírios, papoula, jasmim-manga,azaléia, begônia maculata, gardênia, patchouli, mastruz, cactos, colônia, entre outras espécies.

Além de ser um hábito prazeroso, o cuidado com as plantas ameniza a sensação térmica de sua casa. “Minha casa é virada para o sol, então as árvores de grande porte acabam melhorando o conforto térmico, a exemplo do pau-brasil, que plantei há mais de 30 anos”, declarou.

As plantas são a terapia diária de Maria José, dando sentido a sua vida. “Quando estou cuidando das minhas ‘filhas’, muitas vezes, não vejo a hora passar. Elas sentem o amor depositado e agradecem dando flores. Mesmo o jardim não tendo mais espaço, meu coração é que nem o de mãe, quando vejo uma espécie que me agrada. Estou tentando conseguir um bugari”, disse.

Cuidado é terapêutico, e plantas também podem ser amuletos

Com um jardim organizado e minimalista, Goreth Campos, 70 anos, começou a se dedicar ao cultivo de plantas depois que se aposentou. Antes, quem amava essa prática eram seus ex-maridos. No cantinho dela, é possível encontrar suculentas, cactos, boca de leão, bougainville, comigo-ninguém-pode, jiboia, babosa, parreira de uva verde, flor do deserto, roseiras, além de hortaliças, como alecrim, manjericão e hortelã. Por ser uma pessoa mística, Goreth Campos acredita no poder das plantas como amuleto de proteção, a exemplo da arruda e espada de São Jorge. “Essas plantas afastam o mau olhado e as energias negativas, mas também procuro equilibrar o ambiente colocando plantas como copo-de-leite e alecrim. Essa última transmite um sentimento de bom ânimo e confiança. Já o copo-de-leite é a planta indicada para o meu signo”, explica.  Outra planta que Goreth gosta de ter em casa são girassóis, pois elas “representam positividade e mostram o caminho a seguir”. “O girassol sempre segue a trajetória do sol, movendo suas flores em direção à luz. Logo, traduz o conceito de procurar sempre o lado positivo da vida”, completa.

Crença
Idosa acredita no poder das plantas para equilibrar ambiente e afastar o mau olhado e as energias negativas. Ela também dedica espaço no jardim à “planta do signo”

Como ama viajar, Goreth paga o zelador do condomínio para cuidar de suas plantas, enquanto estiver fora. Além disso, uma vez por mês, um jardineiro faz a manutenção. “Faço viagens em excursão, mas também visito a minha filha em outro estado. Quando estou em João Pessoa, faço questão de cuidar de minhas ‘meninas’. Certa vez, meu neto me escutou conversando com as plantas e disse: ‘vovó a senhora tá ficando doida?’ Aí expliquei que quando a gente conversa, as plantas ficam mais bonitas”, disse.

Para o psicólogo e gerontólogo Fabrício Oliveira, o cultivo de plantas é uma excelente prática terapêutica, pois incentiva a pessoa idosa a um compromisso diário. “Apesar de não parecer um exercício físico, a jardinagem estimula a mobilidade do corpo, como também melhora a cognição, estimulando a concentração, memória e organização. Além de promover o bem-estar, o compromisso diário com as plantas traz funcionalidade ao idoso”, declarou.

Saiba mais

Goreth Campos começou a se dedicar ao jardim da casa depois de aposentada; quando viaja, ela pede ajuda ao zelador

Cultivar plantas ornamentais é possível em qualquer espaço. Basta ter o conhecimento necessário sobre a necessidade de sol, água e luz, além do porte da planta e sistema radicular, observando suas peculiaridades.

O coordenador da Feira de Flores de Holambra, Tarcísio Almeida, explica que a maioria das pessoas idosas adquirem o hábito de cuidar de plantas ornamentais na infância. No entanto, se o apreço pela atividade surgiu apenas na velhice, algumas espécies são de manutenção mais fácil: cactos, suculentas, jiboia, antúrio, lírio-da-paz e ervas medicinais.

Se a pessoa tiver espaço no ambiente, Tarcísio Almeida sugere o cultivo de rosas, bromélias, folhagens e alguns “pés de fruta”, como pitanga e acerola.

Em relação a plantas que serão consumidas, como “pés de fruta” e hortaliças, o especialista orienta a utilização de adubos orgânicos, a exemplo do pó de rocha (MB-4), um composto mineral.

“Esse fertilizante tem vários nutrientes, a exemplo de ferro, cálcio, magnésio e potássio. A gente indica fertilizantes orgânicos, que além de serem totalmente naturais equilibram o PH do solo”, recomenda.

Se a pessoa idosa cria animais, Tarcísio Almeida orienta a evitar o cultivo de comigo-ninguém-pode, jiboia e cacto orelha de Mickey.

Para evitar irritação na pele, a pessoa deve manusear as plantas com luvas e equipamentos de proteção.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 maio de 2024.