O auditório 411 do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPB esteve lotado de estudantes do Ensino Médio na manhã de ontem para prestigiar um projeto que envolve o SUS, a Universidade Federal e, adivinhe, videogames! O jogo eletrônico e as mídias digitais têm impactado profundamente no comportamento de crianças, adolescentes e jovens brasileiros nos últimos anos e, pensando nisso, o Departamento de Mídias Digitais (Demid) da UFPB e o Laboratório de Pesquisa em Mídia, Entretenimento e Sociedade (Lens-UFPB), em parceria com a equipe SuperSUS da Fiocruz-PE e o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFPE, criaram o projeto “Jogando Com Ciência: cultura, educação e saúde”.
Durante todo o dia, a UFPB sediou o evento, que contou com palestras e atividades práticas abertas ao público, a exemplo de uma Game Jam, com exposição de jogos desenvolvidos por seus realizadores. Um dos destaques foi a palestra do professor espanhol Victor Navarro, PhD em Game Studies, que debateu sobre temas como videogames, animação e filosofia em jogos.
Thiago Falcão, professor doutor do Demid e especialista em Game Studies, já vinha procurando, desde o ano passado, desenvolver articulações para um projeto que permitisse levar os estudos da Pós-Graduação para a comunidade externa. “Tentei alguns contatos que não foram bem-sucedidos no âmbito do Governo Federal e, no meio disso tudo, eu conversei com o professor Marcelo de Vasconcellos, da Fiocruz, e ele me apresentou à Islândia, pesquisadora líder do SuperSUS, jogo de divulgação científica que a Fiocruz vem desenvolvendo ao longo dos anos. Desenhamos esse projeto no qual fazemos o uso instrumental de jogos, mas também pensando a cultura, que não está apenas na juventude, mas estratificada em todas as camadas da sociedade. Todo mundo joga; todo mundo conhece e a gente quer extrair dessa cultura o que for significativo - no caso do Jogando Com Ciência, com o objetivo de avançar a agenda de divulgação científica da saúde, especificamente”, explicou Thiago.
- Além da interação entre alunos, a universidade promoveu várias palestras e atividades práticas abertas ao público
Islândia Carvalho, da Fiocruz de Pernambuco, disse que o projeto é fruto de uma parceria bem-sucedida: “Estamos iniciando na Paraíba um projeto de colaboração e integração entre várias unidades da Fiocruz e instituições parceiras. Nossa primeira parceria é a UFPB por meio do curso de Mídias Digitais. Começa aqui, mas vai ser expandido para o Nordeste. Hoje começa a ideia de uma ciência cidadã que vai para as escolas para pensar ciência, educação e cultura como uma oportunidade de estratégias de intervenção nas escolas”, afirmou Islândia.
Esteve presente também no evento o Superintendente do Ministério da Saúde em Pernambuco, Rosano Carvalho, que considera muito importante o fortalecimento dos laços entre Pernambuco e Paraíba na retomada de programas do SUS: “É um momento extremamente importante a retomada da ciência com o seu protagonismo na relação com a sociedade, articulando com cultura, o que também acho um aspecto fundamental. Nós, do Ministério, vemos esse momento como extremamente satisfatório, pois significa que a gente pode estar dialogando permanentemente com quem mais precisa da atenção à saúde. E ela tem que ser feita assim mesmo: de várias mãos, com várias visões, uma construção coletiva, mas, acima de tudo, garantindo acesso e qualidade para a população”, comentou Rosano entusiasmado.
O conjunto de jogos SuperSUS têm como proposta levar conteúdos educativos acerca do SUS para os estudantes. O SuperSUS Cidadão visa explicar para a juventude quais as atribuições do SUS. Diante da onda de negacionismo ainda presente na sociedade, o SuperSUS Vacina discute a importância da vacina para a população. Já o SuperSUS ACS trata do papel da Atenção Primária à Saúde, em especial, dos Agentes de Saúde; e o SuperSUS Covid fala das ações do SUS durante a pandemia de Covid.
“Pensando nos sanitaristas de 2050, nosso objetivo é sensibilizar a juventude. Porque daqui a 25 anos, quem vai defender o SUS, dar proteção, e quem vai fortalecer a segurança social? É o povo jovem de agora! Então a gente visa ocupar esses espaços para que esses estudantes possam continuar defendendo o Sistema Único de Saúde. A gente quer que esse conhecimento do jogo digital possa levar eles para o território, para que venham fazer a transformação social”, frisou Islândia. Kelly Costa, professora de Itapissuma (PE), concordou com Islândia nesse ponto: “Eles [os estudantes] precisam saber dos seus direitos, precisam saber das garantias, das oportunidades”.
Apesar dos efeitos negativos que rondam os jogos e redes sociais que os atravessam, tais como o vício ou a masculinidade tóxica entre a comunidade de jogadores, o Jogando Com Ciência colabora, ao mesmo tempo, para demonstrar que o preconceito em torno dos videogames como algo nocivo à sociedade é extremamente limitado. Para Falcão, é muito fácil reduzir a influência dos jogos a essa visão, pois ela já está bem consolidada socialmente: “Essa impressão não corresponde à dimensão real da coisa. Tem muita pesquisa que aponta para as benesses que os jogos em geral oferecem ao convívio social. Você vai encontrar muita coisa sobre o uso de jogo e educação, desenvolvimento de jogos, criação de comunidades fortes, sobre como os jogos ajudam em terapias dessensibilizadoras”, esclareceu o especialista.
Entretenimento é vivido em sala de aula
A professora Kelly Costa trouxe para o evento 97 alunos. “É uma temática muito importante para eles o trabalho com jogos. É algo que a gente está vivenciando em sala de aula, porque existem encontros que a Fiocruz vai até a escola e existem oficinas que são feitas com os alunos dentro da escola, abordando essa temática, usando os jogos SuperSUS Cidadão, SuperSUS Covid. Eles jogam, debatem e discutem”. Kelly ressaltou que ali se encontravam meninos que nunca saíram de Pernambuco e estavam na Paraíba pela primeira vez.
Os jogos são incríveis e conscientizam muitos jovens para eles entenderem sobre assuntos importantes
- Natália Vitória
Natália Vitória, da Escola Regional de Ensino Médio Eurídice Cadaval, de Itapissuma, que nunca havia participado de uma ação educativa envolvendo jogos, contou que vai levar essa experiência para toda a vida. “Os jogos são incríveis e conscientizam muitos jovens para eles entenderem sobre assuntos importantes. Eu joguei dois deles: o SuperSUS Cidadão eu consegui zerar (concluir o jogo), só que o SuperSUS Covid é bem complicadinho; cheguei até a fase cinco”, contou Natália.
Trazer a cultura dos jogos para a sala de aula oferece um dinamismo único, aproximando os conhecimentos didáticos da ludicidade do jogar, o que constitui uma verdadeira inovação pedagógica por parte da escola. “A gente está melhorando a oratória dos meninos e isso está trazendo um resultado muito positivo para a escola. Um dos meninos disse que estava se sentindo muito especial. Os pais também ficam muito satisfeitos em ver que os filhos estão tendo oportunidades”, frisou Kelly.
Game Jam reúne acervo de jogos digitais e analógicos
O acervo de jogos digitais e analógicos do evento foram apresentados na tarde durante uma Game Jam com os títulos: “SuperSUS Cidadão”; “SupersSUS Vacina”; “SuperSUS ACS”; “SuperSUS Covid”; “Quem Deixou Isso Aqui?! De Novo!”; “Ciclo do Poder” e “Plataforma Fiocruz Jogos”. O Demid/UFPB participou com a criação do game “20 Levar”.
SuperSUS Cidadão, por exemplo, torna possível o jogador experimentar o Sistema Único de Saúde como personagem, enfatizando a conquista do direito à saúde e os desafios cotidianos do segmento. Cada fase do jogo apresenta serviços ou programas do SUS, estimulando o reconhecimento dos direitos do cidadão em termos de saúde pública.
Fases
Cada fase do jogo apresenta serviços ou programas do SUS, estimulando o reconhecimento dos direitos do cidadão em termos de saúde pública
Vestindo a camisa de uma Agente Comunitária de Saúde (ACS), SuperSUS ACS informa sobre como a Atenção Primária à Saúde (APS) funciona dentro do SUS. Já “Quem Deixou Isso Aqui?! De Novo!” traz o gênero de jogabilidade “point and click”, no qual o jogador deve clicar em objetos e produtos perigosos antes que a personagem Aninha os alcance, esclarecendo sobre a importância de manter remédios e produtos químicos longe das crianças.
Os interessados podem baixar os jogos para Android, iOS ou PC na Google Play Store, Apple Store e pelos navegadores da internet no computador. Na página oficial do evento é possível acessar os links para download dos títulos.
Vieram de Pernambuco, para prestigiar o evento, estudantes e professores das Escolas Regionais de Ensino Médio Eurídice Cadaval, de Itapissuma (PE), e Barão do Exu, também de Pernambuco.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 maio de 2024.