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Jogos estimulam a memória do idoso

publicado: 13/03/2023 13h44, última modificação: 13/03/2023 13h44
Manter o cérebro ativo com atividades cognitivas possibilita adiar o aparecimento de doenças como as demências
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Jogos no celular e tablets podem ser utilizados diariamente, mas tempo de tela requer atenção e deve ser com moderação. Foto: Marcos Russo
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Geriatra Renata Brito ressalta benefícios. Foto: Arquivo pessoal
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Vitória e Paula fazem oficina de memorização. Foto: Marcos Russo
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Yara de Lima mantém a memória ativa. Foto: Marcos Russo
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por Michelle Farias*

Lembrar a letra de uma música ou o nome de alguém não é tarefa das mais simples com o avanço da idade. Aquela conta que foi esquecida de pagar ou a confusão em recordar datas também indicam que algo já não funciona como antes. Além de instrumento para assistir a vídeos ou enviar mensagens no grupo da família, o celular pode ser um importante aliado para manter a memória dos idosos ativa.

De acordo com a médica geriatra Renata Brito Marcondes, sudoku, paciência, quebra-cabeça, candy crush, jogo dos sete erros, caça-palavras e tetris são exemplos de jogos que os idosos podem recorrer para exercitar a memória de forma simples e sem sair de casa.

Ela explica que o envelhecimento normal ou fisiológico é marcado pelo declínio de várias habilidades, como as capacidades cognitivas. Cognição é a capacidade do cérebro processar as informações que recebe do ambiente e dar uma resposta. Ela envolve o pensamento, o raciocínio, o processamento e o armazenamento dessas informações.
“É natural que algumas habilidades cognitivas sofram mudanças com o envelhecimento, principalmente a velocidade de processamento. Então, a memória não fica ruim, mas ela tende a ficar mais lenta. Algumas doenças podem trazer prejuízos mais sérios a essas habilidades”, destacou.

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Yara de Lima mantém a memória ativa. Foto: Marcos Russo

A terapeuta ocupacional Tuany Lima reforça que a diminuição na velocidade e na qualidade de formar novas memórias pode gerar um prejuízo no desempenho funcional do idoso. Ela cita como exemplos esquecer de pagar contas ou tomar medicações. “Por isso não devemos negligenciar as atividades que mantêm a mente ativa”, frisou. Os jogos e aplicativos para os idosos são ferramentas poderosas para estimular a capacidade cognitiva. Eles podem exercitar a memória trabalhando regiões responsáveis por reter lembranças, melhorar a agilidade, o raciocínio e o aprendizado, além de resgatar e enriquecer o vocabulário. Também melhoram a atenção, a concentração, a capacidade de cálculo e a tomada de decisões.

Mantendo o cérebro ativo através de atividades cognitivas, é possível adiar ou retardar o aparecimento de sintomas de doenças como demências. A geriatra explica que o cérebro funciona como um músculo: quanto mais você o exercita, melhor ele fica.

“Essa é a intervenção com as evidências mais consistentes na melhora das funções cognitivas, da interação social e da qualidade de vida. Sendo um grande aliado na prevenção das demências, depressão, melhorando inclusive grau de independência e autonomia dos idosos”, disse a médica.

A terapeuta ocupacional acrescente que a mente precisa de estímulos para ser fortalecida. Com base nisso, todos os exercícios que sejam desafiadores para o cérebro podem ser benéficos. Leitura, jogos de raciocínio, atividades manuais como pintura e bordado, aprender a tocar um instrumento ou aprender uma nova língua e a atividade física são aliados da memória.

“Sem esquecer da socialização, pois estudos apontam que o engajamento social demonstra grandes benefícios à saúde mental e funcional, bem como melhora do humor e qualidade de vida dos idosos”, afirmou Tuany Lima.

Jogos no celular podem ser utilizados diariamente, mas tempo de tela requer atenção. Os jogos no celular e tablets podem ser utilizados diariamente por pessoas idosas, no entanto, é necessário ter moderação em relação ao tempo de exposição a telas. A médica geriatra Renata Brito Marcondes recomenda evitar o uso pelo menos uma hora antes de dormir, além disso, os idosos não devem substituir outras atividades benéficas para a saúde, como a prática de exercícios físicos.

“É importante ficar atento à postura da cabeça e região da coluna cervical no momento do uso, e usar dispositivos como óculos e aparelhos auditivos quando estiver jogando”, lembrou a médica.

A terapeuta ocupacional Tuany Lima acrescenta que é importante avaliar se o idoso tem interesse nesse tipo de tecnologia, já que alguns preferem não usar devido à falta de familiaridade. Para os idosos que já estão conectados é necessário avaliar alguns fatores de acessibilidade, como brilho da tela, tamanho da fonte e altura do volume do som.
“Precisamos também escolher jogos e aplicativos que estejam de acordo com o nível cognitivo do idoso, pois se for algo que imponha dificuldade além de sua capacidade adaptativa pode gerar frustração e o abandono daquela atividade”, alertou.

Centro de Referência Municipal oferece oficinas de memorização

Aos 75 anos, a professora Yara Maria de Lima afirma não ter problemas com esquecimentos ou falha na memória. Ela atribui o desempenho da sua mente aos exercícios que iniciou há alguns anos para manter a memória ativa. Sudoku e caça palavras estão entre os jogos que ela mantém no celular e recorre sempre que precisa se distrair um pouco.

Mas o xodó da professora é o aplicativo que ela carinhosamente chama de ‘Meu Tom’. Nele, um gatinho precisa de cuidados para atividades diárias como tomar banho, comer e ir ao banheiro. “Na nossa idade são muitas as limitações, dessa forma eu tento sempre fazer algo. Exercitando minha mente eu também consigo me distrair, me divertir”, afirmou.

A professorsa diz orgulhosa que não usa qualquer medicação controlada. Ela lembra o período que enfrentou o câncer, há 15 anos. “A quimio provocava em mim muita insônia, mas ao invés de recorrer aos remédios eu fazia palavras cruzadas, sudoku”, contou.

Em João Pessoa, o Centro de Referência Municipal do Idoso oferece oficinas de memorização, com turmas pela manhã e à tarde. São 60 idosos em cada turma e entre eles estão a educadora física Paula Ferreira, de 73 anos, e assistente social Maria das Vitórias, de 71 anos. As duas afirmam que os resultados alcançados com os exercícios praticados em sala de aula são indiscutíveis.

A psicóloga Virginia Silvestre explica que durante a oficina os idosos fazem exercícios utilizando palavras cruzadas, sudoku, jogo dos 7 erros, quebra cabeça e numerox. “A gente também faz um momento de interação, onde todos se apresentam e podem compartilhar histórias. Isso tem ajudado muito, já que alguns idosos que estão conosco apresentam depressão e ansiedade”, explicou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 11 de março de 2023.