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Há 125 anos morria o cearense que foi um místico rebelde e líder espiritual do Arraial de Canudos, no Sertão da Bahia

'LENDA E HISTÓRIA' A morte de Antônio Conselheiro

publicado: 22/09/2022 00h00, última modificação: 22/09/2022 10h14
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Única foto conhecida de Antônio Conselheiro, feita duas semanas após sua morte - Foto: Imagem: Domínio Público

tags: Antônio Conselheiro , Guerra de Canudos

da Redação*

 

Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, nasceu em 13 de março de 1830, em Nova Vila de Campo Maior (hoje, cidade de Quixeramobim), Província do Ceará, na época do Brasil Império. Há 125 anos, ele morria aos 67 anos, em 22 de setembro de 1897, em Canudos, na Província da Bahia, já no período da chamada Primeira República brasileira.

Ele se autodenominava de “o peregrino” e foi um líder religioso. Figura carismática, Antônio Conselheiro adquiriu uma dimensão messiânica ao liderar o Arraial de Canudos, um pequeno vilarejo no Sertão baiano, que atraiu milhares de sertanejos, entre camponeses, indígenas e escravos recém-libertos, e que foi destruído pelo Exército da República na chamada Guerra de Canudos.

A imprensa dos primeiros anos da República e muitos historiadores retrataram Antônio Conselheiro como “um louco, fanático religioso e contrarrevolucionário monarquista perigoso”. Todavia, no dia 14 de maio de 2019, a Lei 13.829 incluiu Antônio Conselheiro no ‘Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria’.

Desde o início da vida, os pais de Conselheiro queriam que ele seguisse a carreira sacerdotal, já que entrar para o clero era naquela época uma das poucas possibilidades que os pobres tinham para ascender socialmente. Com a morte de sua mãe, em 1834, a meta de transformar Antônio Vicente em padre tem seu fim. Em 1855 morre o pai de Antônio e, aos 25 anos de idade, ele abandona os estudos e assume o comércio da família. Malogram de vez quaisquer sonhos sacerdotais.

Em 1857, Antônio casa-se com Brasilina Laurentina de Lima, jovem filha de um tio seu. No ano seguinte, o jovem casal muda-se para Sobral (CE), onde Antônio Vicente passa a viver como professor do primário, dando aulas para os filhos dos comerciantes e fazendeiros da região, e mais tarde como advogado prático, defendendo clientes em troca de pequena remuneração.
Em 1861, ele flagra a sua mulher em traição conjugal com um sargento de polícia, em sua residência na Vila do Ipu Grande. Envergonhado, humilhado e abatido, abandona o Ipu e vai procurar abrigo nos sertões dos cariris, já naquela época um polo de atração para penitentes e flagelados, iniciando aí uma vida de peregrinações pelos sertões do Nordeste.

Já famoso como “homem santo” e peregrino, Antônio Conselheiro é preso em 1876 nos sertões da Bahia, pois corre o boato de que ele teria matado mãe e esposa. É levado para o Ceará, onde se conclui que não há nenhum indício contra a sua pessoa: sua mãe havia morrido quando ele tinha seis anos. Antônio Conselheiro é posto em liberdade e retorna à Bahia.

Cresce a notoriedade da figura de Antônio Conselheiro entre os sertanejos pobres; para eles, Antônio Conselheiro, ou o “Bom Jesus”, como também passa a ser chamado, seria uma figura santa, um profeta enviado por Deus para socorrê-los. Com o fim da escravidão, em 1888, muitos ex-escravos, libertos e expulsos das fazendas onde trabalhavam sem ter então nenhum meio de subsistência, partem em busca de Conselheiro.

Em 1893, cansado de tanto peregrinar pelos sertões e então sendo um “fora da lei”, Conselheiro decide se fixar à margem norte do Rio Vaza-Barris, num pequeno arraial chamado Canudos. Nasce ali uma experiência extraordinária: em Belo Monte (como a rebatizou Antônio Conselheiro, apesar de encontrar-se em um vale cercado de colinas), os desabrigados do Sertão e as vítimas da seca eram recebidos de braços abertos pelo peregrino, era uma comunidade onde todos tinham acesso à terra e ao trabalho sem sofrer as agruras dos capatazes das fazendas tradicionais.

Em 1896 ocorre o episódio que desencadearia a Guerra de Canudos: em 24 de novembro daquele ano, é enviada a primeira expedição militar contra Canudos, sob comando do tenente Pires Ferreira. Mas a tropa é surpreendida pelos fiéis de Antônio Conselheiro, durante a madrugada, em Uauá. Após um combate corpo a corpo são contados mais de cento e cinquenta cadáveres de conselheiristas. Do lado do exército morreram oito militares e dois guias.

Em 5 de abril de 1897 tem início a quarta e última expedição contra Canudos; desta vez o cerco foi implacável; até muitos dos que se rendiam foram mortos; eliminar Canudos e seus habitantes tornou-se uma questão de honra para o Exército. Em 5 de outubro de 1897 são mortos os últimos defensores de Canudos, e o Exército inicia a contagem das casas do arraial. No dia seguinte o cadáver de Antônio Conselheiro é encontrado enterrado no Santuário de Canudos, sua cabeça é cortada e levada até a Faculdade de Medicina de Salvador para ser examinada pelo médico Nina Rodrigues, pois para a ciência da época, “a loucura, a demência e o fanatismo” deveriam estar estampados nos traços de seu rosto e crânio.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 22 de setembro de 2022.