por Juliana Cavalcanti*
Os materiais perfurocortantes como agulhas, facas, vidros, lâminas de barbear, palitos de churrascos, etc representam um grande risco para os agentes de limpeza urbana durante o trabalho nas ruas de João Pessoa. A informação é da engenheira ambiental da Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (Emlur), Giovana Formiga, a qual alerta que os acidentes podem ser causados principalmente pelo armazenamento incorreto do lixo pela população.
“Estes materiais podem causar acidentes nos agentes de limpeza como cortes nas mãos, braços ou pernas, além de agulhas e seringas contamiadas caso tenham sido utilizada por portadores de algum agente infeccioso”, informou.
Ela destaca que, muitas vezes, as pessoas não percebem que, ao descartar os resíduos de forma aleatória, estão colocando em perigo a saúde e a integridade dos agentes de limpeza. Por isso, a engenheira reforça a importância do descarte correto de materiais perfurocortantes para evitar risco à saúde desses trabalhadores. Giovana lembra que o vidro é um dos itens mais perigosos, mas o material médico-hospitalar é outro exemplo que precisa de cuidados especiais.
Assim, a recomendação é que os materiais de tratamento de saúde não sejam descartados com os resíduos domiciliares. “A coleta de resíduos hospitalares é diferenciada, não devendo estar na coleta domiciliar”, completa a profissional.
A agente de limpeza Rosália Barbosa trabalha nessa profissão, há 23 anos, sendo 16, no Centro da cidade, principalmente no Parque Sólon de Lucena. Hoje, ela faz parte da equipe do Valentina, nas proximidades do mercado público e conta que, até hoje, nunca sofreu qualquer acidente por causa do lixo. “Já trabalhei muitos anos perto das barracas da Lagoa, onde os donos separavam o lixo, o que diminuía o perigo”, conta.
No entanto, Rosália reconhece que o seu caso não é mesmo dos demais colegas de trabalho, principalmente para aqueles que fazem a coleta durante à noite, período em que a visibilidade é menor; mais pessoas estão em bares ou restaurantes e muitas garrafas de vidro aparecem quebradas. “Acredito que o perigo é maior para o pessoal da noite porque, durante o dia, o lixo é mais visível. E à noite, tem mais bebida e as pessoas quebram muitos objetos. E durante as festas de rua, fica ainda mais provável os agentes se cortarem”, opinou.
A trabalhadora percebe que a população não costuma organizar o lixo de forma adequada. Segundo Rosália, aqueles que trabalham em algumas partes do Centro, na Avenida Epitácio Pessoa, Mercado Central, Oitizeiro e nas comunidades de risco, na capital, podem visualizar materiais perfurocortantes com frequência.
Profissionais são orientados quanto ao uso de EPIs
Conforme a engenheira ambiental Giovana Formiga, os agentes de limpeza contam com os seguintes equipamentos de proteção individual, disponibilizados para se prevenirem de acidentes: fardamento completo (calça, camisa, boné e máscara), luva de PVC e bota de couro.
Ela explica que os trabalhadores recebem orientações quanto ao uso de EPIs e forma de manuseio dos sacos durante a atividade. Porém, quando o descarte dos cidadãos é inadequado, o acidente, às vezes, é inevitável. Por isso, destaca a importância do engajamento da população com relação ao descarte correto dos resíduos. “Além disso, já existe o calendário de coleta domiciliar definido nos bairros. Então, é interessante que os resíduos sejam dispostos nos dias de coleta e próximo ao horário da coleta devidamente ensacados e amarrados.”, comentou.
Além do cuidado com os resíduos domiciliares, também é preciso estar atento ao consumo de alimentos e bebidas, nas praias, principalmente na faixa de areia, outro trecho de João Pessoa em que é comum encontrar vidro quebrado, palito de espetos e latinhas, o que podem causar cortes nos agentes, moradores e visitantes.
Como o vidro é um dos materiais mais encontrados, alguns agentes redobraram os cuidados durante o manuseio dos resíduos. É o caso de Maria Farias que, há quatro meses, trabalha na equipe de limpeza nos bairros do Manaíra e Bessa, durante o dia.
Ela relata que, nesse período, já foi cortada por um objeto que, segundo ela, lembrava um bisturi. O acidente aconteceu quando realizava a coleta de lixo próximo a um supermercado no bairro do Bessa. “Meu acidente aconteceu porque colocaram um objeto cortante em uma embalagem mal feita. Os agentes de limpeza veem muito isso, principalmente, vidros soltos. Avisei ao fiscal do supermercado, que entrega o lixo para a coleta, tiramos uma foto, ele comunicou a direção e até agora aguardo uma resposta”, detalhou.
Para Maria, a população ainda precisa ser bastante conscientizada sobre o descarte correto dos objetos para que acidentes mais graves não aconteçam, não apenas com os agentes de limpeza, mas com outros moradores da cidade. “Muitos põem o lixo solto ou todo aberto, esperando que a gente organize. Já outros amarram e deixam pronto pra gente pegar. Isso deveria ser mais comum”, concluiu.
Conforme a engenheira ambiental, vidros quebrados e materiais perfurocortantes não devem ser descartados de forma avulsa, porque podem danificar o saco de lixo e dessa forma acidentar a pessoa que está na coleta. “Vidros quebrados, pregos, facas velhas ou palitos de churrasco precisam ser enrolados em várias folhas de jornal ou revista, ou em papelão e presos com fita adesiva. O importante é deixá-los envoltos de algo resistente para que isole o perigo de acidente”, sugeriu Giovana.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 26 de junho de 2022.