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Mais de 500 mulheres são agredidas fisicamente a cada hora no Brasil, diz Datafolha

publicado: 09/03/2017 00h05, última modificação: 09/03/2017 08h31
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A maior parte dos agressores, segundo relatado pelas mulheres à pesquisa, é formada por conhecidos - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

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Daniel Mello -
Da Agência Brasil

A cada hora, 503 mulheres sofreram algum tipo de agressão física em 2016, segundo pesquisa do instituto Datafolha encomendada pelo Fórum de Segurança Pública. O estudo, divulgado ontem, foi feito com entrevistas presenciais em 130 municípios brasileiros. No total, foram 4,4 milhões de mulheres, 9% da população acima de 16 anos, que relataram ter sido vítimas de socos, chutes, empurrões ou outra forma de violência.

As agressões verbais e morais, como xingamentos e humilhações, atingiram 22% da população feminina. Ao longo do ano passado, 29% das mulheres passaram por algum tipo de violência, física ou moral. Entre as pretas (expressão usada pelo IBGE), o índice sobe para 32,5% e chega a 45% entre as jovens (de 16 a 24 anos).

Foram vítimas de ameaças com armas de fogo ou com facas 4% - 1,9 milhão de mulheres. Espancamentos e estrangulamentos vitimaram 3%, o que representa 1,4 milhão de mulheres, enquanto 257 mil, 1% do total, chegaram a ser baleadas. A cada três brasileiros, incluídos homens e mulheres, dois presenciaram algum tipo de agressão a mulheres em 2016, desde violência física direta, a assédio, ameaças e humilhações. O percentual é de 73% entre as pessoas pretas e 60% entre as brancas.

Companheiros

A maior parte dos agressores, segundo os relatos das mulheres, era conhecida (61%). Os cônjugues, namorados e companheiros aparecem como responsáveis em 19% dos casos. Os ex-companheiros representam 16% dos agressores. A própria casa das vítimas recebeu o maior percentual de citações como local da violência (43%). Entre as mulheres com idades entre 35 e 44 anos, 38% das agressões partiram dos namorados ou cônjugues. Sobre as reações após a violência, 52% disseram não ter feito nada após a agressão, 13% procuraram ajuda da família, 12% buscaram apoio de amigos e 11% foram a uma delegacia da mulher. Entre as mais jovens (16 a 24 anos), o índice das que não fizeram nada após a agressão é de 59%. O assédio atingiu 40% das mulheres no último ano. Entre as mais jovens (16 a 24 anos), o percentual chega a 70%, sendo que 68% ouviram comentários desrespeitosos quando estavam na rua. O índice é de 52% entre a população feminina entre 25 e 34 anos. Nesse grupo, 47% foram assediadas na rua, 19% no ambiente de trabalho e 15% no transporte público.

ONU faz advertência Paula Laboissière (Da Agência Brasil)

Para prevenir casos de violência contra a mulher e reverter as estatísticas é preciso, primeiramente, reconhecer o ato como algo não natural e que não deve ser aceito. A avaliação é da representante da ONU Mulheres Brasil, a médica Nadine Gasman. “No país, a Lei Maria da Penha tem trazido essa ideia para a população, que sabe que bater, xingar e matar mulheres é um crime”, disse.

Em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional de Brasília, ela destacou a importância de se trabalhar o tema nas escolas, numa tentativa de promover a igualdade entre meninos e meninas, além de ações contundentes nos lares e na mídia. “Temos que ter uma rede de atendimento para todas as modalidades de casos de violência contra as mulheres, para que os crimes não fiquem sem punição e para que os agressores sejam levados à Justiça.”

Avanços

Para Nadine, o Brasil avançou bastante no combate à violência contra mulheres, não apenas por meio da Lei Maria da Penha, que trata da prevenção, do atendimento e da sanção, sobretudo da violência doméstica, mas também por meio da Lei do Feminicídio, que pune especificamente o assassinato de mulheres. “São duas leis muito importantes, que se complementam, porque olham todas as formas de violência contra as mulheres, tanto no âmbito público como no privado;”

Nadine elogiou ainda iniciativas como o Programa Mulher: Viver sem Violência, Casas da Mulher Brasileira e o Disque 180, ferramenta de comunicação que considera de suma importância entre as próprias mulheres e também entre pessoas que testemunham atos de violência contra as mulheres. “É muito importante falar sobre isso no Dia Internacional da Mulher, porque a gente está empenhado no desenvolvimento de uma Agenda 2030, com objetivos de desenvolvimento sustentável que requerem ações muito fortes e definitivas em torno da erradicação da violência contra as mulheres”, concluiu.

Nadine Gasman é médica, tem nacionalidades mexicana e francesa e mestrado em saúde pública pela Universidade de Harvard e doutorado em gerenciamento e políticas da saúde pela Universidade John Hopkins.