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Desflorestamento

Mata Atlântica ainda em perigo

publicado: 30/05/2023 13h51, última modificação: 30/05/2023 13h51
PB aparece com o terceiro menor índice de desmatamento de um dos principais biomas para a vida humana
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Ecossistema é responsável por abrigar bacias hidrográficas importantes para a vida animal e vegetal - Foto: Roberto Guedes

por Alexsandra Tavares*

A Mata Atlântica é um bioma que reúne imensurável importância ambiental, econômica e social para o planeta. Mas, apesar de ter uma lei específica para protegê-la e ser considerada Patrimônio Nacional pela Constituição Federal, é uma das florestas mais ameaçadas do mundo. Em um período de um ano (2021-2022) foram 20.075 hectares desmatados no Brasil, o que equivale a um Parque Ibirapuera (SP) desflorestado a cada três dias. Na Paraíba, os números alcançaram 34 hectares no período. A “boa notícia” é que o volume estadual representa o terceiro menor entre os 17 estados brasileiros que possuem o bioma no país.

Esses são os dados mais recentes divulgados pelo Atlas da Mata Atlântica - estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).  “Esse é o terceiro menor valor dos 17 estados do Brasil com Mata Atlântica. O primeiro foi o Rio Grande do Norte, com zero desmatamento; depois o Ceará com seis hectares; e em terceiro lugar, vem a Paraíba com 34 hectares, o que é uma boa notícia”, declarou Luís Fernando Guedes Pinto, diretor-executivo da Fundação SOS Mata Atlântica.

Segundo ele, o ideal seria que, no próximo ano, o desmatamento fosse zero, uma vez que sobrou pouco da floresta no estado. Na época da colonização do Brasil, a cobertura florestal do bioma nos municípios paraibanos era de 599.370 hectares. Com a exploração ilegal de recursos naturais da floresta e outros fatores, esse cenário mudou e restam atualmente apenas 9% de remanescentes da cobertura original no estado. “Temos um dado preocupante, que é o que sobrou de mata, e um dado promissor que é o baixo valor de desmatamento, e um potencial de o estado chegar ao desmatamento zero”, frisou Luís Fernando.

Desmatamento da Mata Atlântica no Brasil equivale à área total do Parque Ibirapuera, de São Paulo, a cada três dias

Os estados brasileiros que registram remanescentes desse tipo de floresta são: Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Sergipe, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Vale lembrar que o desmatamento zero não significa a ausência de perda de vegetação. O levantamento do Atlas da Mata Atlântica considera desmatamento zero quando o desmate corresponde a uma área de até um quilômetro quadrado, ou 100 hectares.

Perda florestal

O Atlas da Mata Atlântica 2023 apontou que os 20.075 hectares do bioma desmatados no Brasil no período da pesquisa (2021-2022) equivalem a um Parque Ibirapuera (SP) destruídos a cada três dias. Como resultado dessa perda florestal, foram lançados 9,6 milhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono) equivalente na atmosfera.

Os dados referentes ao estudo foram analisados entre os meses de outubro de 2021 e de 2022. Embora os 20.075 hectares representem uma redução de 7% em relação aos dados detectados em 2020-2021 (21.642 hectares), a área desmatada é a segunda maior dos últimos seis anos e está 76% acima do valor mais baixo já registrado na série histórica – de 11.399 hectares, entre 2017 e 2018. 

O Atlas da Mata Atlântica mostrou ainda que cinco estados brasileiros acumulam 91% do desflorestamento observados no estudo: Minas Gerais (7.456 ha), Bahia (5.719 ha), Paraná (2.883 ha), Mato Grosso do Sul (1.115 ha) e Santa Catarina (1.041 ha).

No estudo, oito registraram aumento (Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Sergipe), nove mostraram redução (Ceará, Goiânia, Mato Grosso, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo).

Área guardiã da biodiversidade

A Mata Atlântica é guardião de mais de 20 mil espécies vegetais e cerca de duas mil espécies animais. A vegetação serve como camada protetora do solo, de reguladora do clima e ainda é fonte de matéria-prima para atividades econômicas e científicas. A diretora técnica da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), Joanna Regis Nóbrega, afirmou que dentre as espécies existentes 567 são endêmicas, ou seja, encontram-se exclusivamente nesse bioma, contribuindo para sua singularidade e importância na conservação da biodiversidade.

“Em algumas regiões desse bioma, foram registradas áreas com uma diversidade impressionante de árvores, chegando a contabilizar até 454 espécies distintas por hectare”, declarou.

Joanna Nóbrega salientou que cabe à Lei n° 11.428/2006 (Lei da Mata Atlântica) coibir práticas ilícitas e preservar esses remanescentes que resistem aos vários tipos de degradação. Segundo ela, a Sudema mantém atuação educacional e fiscalizatória contínua a fim de coibir práticas ilegais.

 “Sua preservação é vital para a manutenção da vida nas regiões litorâneas, bem como nas áreas do interior onde também é possível encontrá-la. É necessário destacar que esse bioma também abriga importantes bacias hidrográficas, sendo responsável por fornecer serviços essenciais para a sociedade, como abastecimento de água, regulação climática, suporte à agricultura, pesca e tantos outros fomentos úteis ao bem-estar da coletividade”.

“Sete das nove maiores bacias hidrográficas brasileiras estão na Mata Atlântica, e a vegetação preservada protege rios e nascentes, garantindo, desse modo, o abastecimento de água para a população.” Estima-se que o bioma corresponda de 1% a 8% da biodiversidade mundial.

Ibama

A reportagem entrou em contato com o Ibama na Paraíba para obter informações sobre a Mata Atlântica, mas foi solicitado pelo órgão que a demanda fosse envida para o Ibama nacional. Até o fechamento desta edição, a demanda encaminhada ao Ibama nacional, com uma antecedência de três dias, não foram respondidas.

Onde encontrar resquícios do bioma na PB

Os maiores fragmentos remanescentes de Mata Atlântica estão em Baía da Traição, Rio Tinto e Santa Rita

Na Paraíba, é possível encontrar remanescentes de Mata Atlântica em vários municípios, inclusive, em pleno coração da capital. De acordo com a Sudema, a área de abrangência original da Mata Atlântica está distribuída em 45 municípios, principalmente, na região conhecida com Zona da Mata, além de também se estender pela região do Brejo paraibano. Entre as cidades do estado que abrigam os maiores fragmentos remanescentes desse bioma destacam-se Baía da Traição, Rio Tinto e Santa Rita.

Segundo a Sudema, o estado possui oito Unidades de Conservação (UC), sob gestão estadual, que abrangem a Mata Atlântica. São elas:

Parque Estadual Mata do Pau Ferro: criada por meio do Decreto n° 26.098/2005, está localizada no município de Areia e possui uma área de 600 hectares.

Parque Estadual Mata do Xém-xém: criada por meio do Decreto n° 21.252/2000 está localizada no município de Bayeux e possui uma área de 182 hectares.

Parque Estadual das Trilhas: criada por meio do Decreto n° 37.653/2017, está localizada no município de João Pessoa e possui uma área de 578,5 hectares.

Refúgio da Vida Silvestre da Mata do Buraquinho: criada através do Decreto n° 35.195/2014. Está localizada no município de João Pessoa e possui uma área de 517,8 hectares.

Estação Ecológica do Pau-Brasil: criada por meio do Decreto n° 22.881/2002 e está localizada no município de Mamanguape. Possui uma área de 81,5 hectares.

Área de Relevante Interesse Ecológico de Goiamunduba: criada por meio do Decreto n° 23.833/2002. Está localizada no município de Bananeiras e possui uma área de 67,5 hectares.

Área de Proteção Ambiental de Tambaba: criada por meio do Decreto n° 22.882/2022 e abrange os municípios de Conde, Pitimbu e Alhandra. Possui uma área de 11.500 hectares.

Área de Proteção Ambiental do Roncador: criada por meio do Decreto n° 27.204/2006 e abrange os municípios de Bananeiras, Borborema, Pirpirituba e Belém. Possui uma área de 6.113 hectares.

Saiba Mais

O Atlas da Mata Atlântica é um estudo realizado desde 1989 pela Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e apoio técnico da Arcplan, cuja nova edição, lançada na semana do Dia Nacional da Mata Atlântica, 27 de maio, conta com patrocínio do Bradesco e da Fundação Hempel.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 28 de maio de 2023.