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Radar Ecológico

Meio ambiente ensinado nas aulas

publicado: 13/11/2023 09h35, última modificação: 13/11/2023 09h35
Está na legislação desde 1999 e muitas escolas têm incluído a educação ambiental como conteúdo do ensino
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Estudantes participam de projeto com foco na gestão de resíduos e na geração de energia sustentável no Liceu Paraibano - Foto: Ádson Bruno/Arquivo Pessoal
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Foto: Ádson Bruno/Arquivo Pessoal
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Foto: Ádson Bruno/Arquivo Pessoal
Projeto Lyceu 1- Foto de arquivo do Professor Ádson Bruno.jpeg
Projeto Lyceu 2 - Foto de arquivo do Professor Ádson Bruno.jpeg
Projeto Lyceu 3 - Foto de arquivo do Professor Ádson Bruno.jpeg

por Alinne Simões*

A preocupação com o meio ambiente está cada vez mais em evidência. A ocorrência de fenômenos naturais que antes não eram vistos no Brasil têm acendido o alerta para a discussão em torno desse tema, especialmente, nas escolas. A conservação do meio ambiente depende diretamente da conscientização e da mudança de hábitos das pessoas. E para que essa mudança ocorra, a educação se torna fundamental nesse processo.

Em 27 de abril de 1999 foi sancionada a Lei no 9795 que criou a Política Nacional de Educação Ambiental (Pnea). Ela estabelece diretrizes e objetivos que estimulam a conscientização pública sobre o dever de proteger o meio ambiente por meio da educação. A lei institui ainda que a educação ambiental deve estar presente em todos os níveis do ensino brasileiro, em caráter formal ou informal, sendo um direito de todos os cidadãos.

A coordenadora da Educação Ambiental da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), Taciana Wanderley, ao ser questionada sobre a importância do ensino de educação ambiental nas escolas cita Paulo Freire, quando ele diz que é de fundamental importância que qualquer intervenção educativa interfira no processo de aprendizagem e suas problemáticas envolvidas com a necessidade de compreensão e correções pontuais dos atores envolvidos. Para ela, a educação ambiental proporciona nas crianças e cidadãos a consciência de preservação e cuidados com o meio ambiente. “Sendo assim, trazer a temática ambiental para a sala de aula desde cedo é de fundamental importância na construção de um indivíduo mais consciente no uso sustentável dos recursos naturais”, destaca.

Taciana explica que a educação ambiental deve ser aplicada tanto em âmbito formal nas escolas, através de seu currículo, como também no âmbito informal, na sociedade civil, Ongs, associações e outros segmentos, e que toda e qualquer atividade deve obedecer às diretrizes do Plano Nacional de Educação Ambiental. Deste modo, os professores devem ficar atentos para realizar seus planos de aula de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e a realidade vivida por cada estudante.

Crianças multiplicam os conhecimentos

Desde 2001, o Censo Escolar do Inep monitora a presença da educação ambiental nas escolas de Ensino Fundamental no Brasil. No primeiro ano, o Censo mostrou que 61,2% das escolas do Ensino Fundamental declararam trabalhar com educação ambiental. Em 2004, o percentual subiu para 94%. As escolas informaram que inserem a temática tanto no currículo, como em projetos, ou até mesmo como disciplina específica.

O professor de Biologia, Ádson Bruno, especialista em sustentabilidade, desenvolvimento e meio ambiente ressalta que as crianças conseguem se sensibilizar mais com as causas ambientais se for demonstrado desde cedo. “Se você ensinar a importância da preservação e conservação do meio ambiente, do uso racional dos recursos naturais, eles se sensibilizam e levam isso para vida”.

Crianças são mais sensíveis às questões ambientais e influenciam os familiares na mudança de hábitos que causam danos à natureza

É o que confirma Renner Oliveira, administrador e pai de duas crianças, Sophia (sete anos) que está no primeiro ano do Fundamental 1, em escola particular, e João (três anos) que estuda o Infantil 3, em uma creche municipal. “É de uma importância gigantesca, trabalhar a educação ambiental nas escolas. E nós percebemos isso em casa, nas decisões que as crianças tomam, no cuidado com o lixo e com o próprio meio ambiente. É interessante ver o quanto move a consciência de uma criança, ela ser ensinada desde pequena sobre a importância do meio ambiente, para nós seres humanos, como família, como pessoa”, afirma o pai.

A professora de Língua Inglesa, Aline Mayara, mãe de Murilo (seis anos) conta que desde cedo estimula o filho a praticar atos sustentáveis, mas que o reforço na escola acaba sendo significativo. “Murilo sempre fala para guardar as coisas recicláveis e ele fala: ‘mamãe, isso é reciclável né?!’ Teve um projeto na escola, uma amostra de brinquedos feita a partir de material reciclado que ia para o lixo, então, tudo que é reciclável ele pede para fazer brinquedo. Ela acrescenta que em casa faz a coleta seletiva, separando o orgânico e o reciclável. E que ele já entende que isso gera uma questão de sustentabilidade e um ciclo no qual ele pode ajudar. “Ele já sabe que não pode jogar lixo na rua para não poluir, e que se o lixo cair no chão vai poluir o meio ambiente”.

Estudos devem conciliar teoria e prática 

Taciana Wanderley ressalta que as aulas devem ser adaptadas de acordo com a idade e a maturidade das crianças e deve ser, além de teórica, prática, interessante e divertida. E que desenvolver atividades lúdicas nessa fase é relevante e necessário. “Um bom exemplo disso é levar os alunos para fora das salas de aula, como o pátio, praça ou mesmo na rua para que elas possam aprender não só sobre plantas, água, reciclagem, como também sobre os problemas ambientais, como poluição e crimes ambientais.”

O professor Ádson Bruno acrescenta que uma forma eficiente de abordar essa temática é através de uma aprendizagem baseada em projetos. “Os projetos conseguem dar essa base mais sólida para que os alunos vivenciem todo o processo de desenvolvimento”. E as crianças podem contribuir de forma simples, “desde o momento que elas aprendem o que são resíduos e que esses resíduos podem ser reutilizados, reciclados.

Ao mesmo tempo que as crianças aprendem como preservar nossos recursos naturais, como a água, o solo e conseguem fazer isso desde cedo, nas suas casas, levando isso para a vida, a gente consegue ter um bom resultado”, destaca.

Alunos do Liceu desenvolveram um biodigestor 

Professor do curso técnico de sistemas de energias renováveis, na Escola Cidadã Integral Liceu Paraibano, Ádson Bruno desenvolveu junto aos alunos do curso um projeto com foco na gestão de resíduos na escola e na geração de energia sustentável. O projeto, inclusive, foi um dos contemplados no Edital 2023 do Conexão Mundo, um programa educacional que promove a cooperação internacional, a formação qualificada e estratégica e o desenvolvimento científico e tecnológico no Estado da Paraíba, por meio do intercâmbio educacional e formação profissional internacional.

Em março deste ano, o professor realizou o intercâmbio e passou um mês na cidade Mondragon, na Espanha, onde pôde ter contato com várias experiências similares que são realizadas naquele país e pôde aplicar essas vivências no projeto que desenvolve com seus alunos. “Quando a gente submeteu ao Conexão Mundo nós enviamos uma proposta de projeto, conforme o projeto foi sendo desenvolvido nós tínhamos as orientações de como melhorar. Em Mondragon fomos aprender de fato como fazer um projeto completo, quando voltamos só organizamos e aplicamos, com os alunos, o que vimos”.

Educação ambiental deve ser aplicada no ensino formal nas escolas e incentivada por associações, Ongs e o poder público

O projeto tem por objetivo a gestão de resíduos na escola e a geração de energia sustentável. “A gente partiu de um problema que era o desperdício de resíduos orgânicos na cantina da escola”, comenta. Ele conta que todos os dias cerca de 7kg de alimentos eram desperdiçados. “O projeto seguiu todas as etapas do processo de aprendizagem que inicia quando os alunos conseguem identificar os problemas no seu entorno e depois disso eles escolhem qual problema querem dar uma solução”.

O professor revela que foram feitas pesquisas para tentar encontrar a solução. E a solução que eles chegaram foi a de desenvolver um biodigestor que será utilizado para colocar os resíduos orgânicos. Esses resíduos vão dar origem a um gás que poderá ser transformado em energia e biofertilizante.

O biofertilizante vai ser utilizado no solo da horta. “A ideia era fazer uma horta grande no pátio da escola, mas como o espaço foi interditado devido a uma reforma, a gente adaptou para uma horta pequena que pudesse ser encaixada dentro do corredor da escola”. O fertilizante será utilizado também nas composteiras que são utilizadas para gerir os resíduos orgânicos. Atualmente o projeto se encontra na fase de manutenção. “Foram plantadas sementes de tomate cereja, alface e estamos esperando germinar para os alunos fazerem essa manutenção”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 12 de novembro de 2023.