por Sara Gomes*
Os atendimentos em domicílio de diversos serviços foram a alternativa encontrada por autônomos para a garantia de renda diante das medidas restritivas impostas pela pandemia da Covid-19. O seguimento da beleza, principalmente unhas e cabelo, tem sido um dos atendimentos mais requisitados.
Observa-se que o público da terceira idade é o maior consumidor desse tipo de serviço devido ao conforto e comodidade do atendimento em casa. Entretanto, a pandemia intensificou a demanda por aumento de trabalho.
Se em Recife (PE) a atividade já é considerada comum, na Paraíba aos poucos vem se destacando como uma excelente alternativa para a terceira idade. Apesar de ser um serviço mais caro, para o economista Paulo Amilton Maia, o atendimento de beleza em domicílio é uma tendência de mercado que veio para ficar. “O atendimento é um pouco mais caro, mas tem a comodidade e conforto de estar em casa. Os serviços prestados às famílias impulsionam a economia, já as outras profissões estão sofrendo uma mudança muito grande por conta do uso das tecnologias. O momento é de experimentação cultural”, opinou. A cabelereira Cilene Santos, 62 anos, possui mais de 30 anos de profissão, mas nunca tinha ofertado atendimento em domicílio até começar a pandemia. Ela manteve o salão de beleza, localizado em Intermares, fechado por seis meses, mas devido ao valor elevado do aluguel fechou as portas. Só voltou a atender após a segunda dose da vacinação, já que 70% das suas clientes são idosas. “Na fase controlada da pandemia, a clientela jovem ainda frequentava o salão, mas o movimento continuou fraco. Mesmo depois da população vacinada, percebi que não compensava manter o salão aberto pois os custos de manutenção e preço dos produtos são muito elevados”, analisou.
Os serviços mais requisitados no período foram: corte, pintura de cabelo, selagem e unhas. Como a maioria dos clientes mora em Intermares, Cilene passou a atendê-las em casa. “Na maioria das vezes, meu filho me deixa no local, mas quando a cliente não mora no mesmo bairro, cobro o valor do transporte de aplicativo”, disse.
Alternativa trouxe um alívio à economia financeira
A decisão de não ter mais salão de beleza, trouxe economia financeira, mas também melhorou consideravelmente sua qualidade de vida pois fazia anos que Cilene não tirava férias. “Hoje faço meu horário e tenho tempo de cuidar da minha saúde. Nunca trabalhei com atendimento em domicílio, mas graças a Deus tem dado super certo”, enfatizou.
Gizelia Macedo, 81 anos, é cliente de Cilene desde que veio morar em Intermares. Há quase 20 anos, ela corta o cabelo, faz as unhas e pinta o cabelo com a profissional.
“Gosto muito do atendimento de Cilene, só confio meu cabelo a ela. As pessoas sempre elogiam o tom e o corte do meu cabelo, mas o engraçado é que quando perguntam a tonalidade não sei responder”, brincou. Desde que a cabelereira fechou o salão, Gizelia passou a ser atendida em sua casa. Na opinião dela, o atendimento em domicílio foi uma mudança positiva para cliente e profissional. “A manutenção do salão estava muito dispendiosa, então não estava compensando. Já o atendimento em casa é possível marcar um horário que seja conveniente a ambas”, comparou.
A cabelereira Marinez, França, 65 anos, foi proprietária de um salão de beleza por 34 anos de sua vida, mas decidiu vendê-lo pois levava uma vida muito frenética. “Eu tive um princípio de AVC pois o estresse diário era muito grande. A primeira vez que tirei férias, tinha 45 anos”, contou.
Depois de um tempo afastada da profissão, voltou a trabalhar no salão de uma amiga até ser surpreendida com a pandemia, voltando a trabalhar só depois da vacinação. O interessante é que a maioria de suas clientes assumiram os cabelos grisalhos em virtude do isolamento social. “Gosto muito de atender o público idoso pois sentem falta de um atendimento especializado. Elas passaram a pedir cortes mais estilosos que valorizem os cabelos grisalhos. Outras ainda estão relutantes, mas comecei a estimular a libertação da coloração”, pontuou.
Serviço de manicure
A proprietária de uma esmalteria, Luciene de Sousa, também precisou fechar o salão por tempo indeterminado devido à pandemia. Para continuar realizando atendimentos, passou a ofertar atendimento em domicílio, seguindo todos os protocolos e cuidados necessários. “Como não tínhamos a dimensão da gravidade do vírus, optei por selecionar as clientes para evitar o contágio”, contou.
Foto: Roberto Guedes
Depois que o funcionamento dos estabelecimentos comerciais foi liberado com capacidade reduzida, Luciene voltou a atender apenas na esmalteria.
“O atendimento em domicílio demanda muito tempo e paciência. Serviços que executo em 1h na sede, acabo gastando 2h por causa do deslocamento até a casa da cliente”, explicou. A maioria de suas clientes prefere atendimento na esmalteria por causa da interação social. “As clientes que optaram pelo atendimento em domicílio, no contexto da pandemia, são aquelas com comorbidades ou que ainda têm muito medo do vírus”, opinou. No entanto, teme o fechamento de todos os serviços devido à progressão da variante ômicron. “ Ja já acontece um novo pico da doença. Se isso ocorrer, minha estratégia será focar nas clientes que permanecem com manutenção contínua, oferecendo serviços de qualidade com higiene e seguindo os protocolos sanitários”, concluiu.
Já a profissional de unhas que reside em Recife, Cris Andrade, considera mais vantajoso o atendimento em domicílio, trabalhando nessa modalidade há 20 anos.
“Quando estava pensando em mudar para uma sede física, perguntei a opinião as minhas clientes. Elas preferiram atendimento domiciliar porque é mais fácil de adequar a rotina, além do conforto e comodidade de não sair de casa”, contou. Outra vantagem do atendimento em domicílio é que consegue agregar outros membros da família. “Eu agendo um dia que esteja a cliente e sua irmã, por exemplo. Por eu já estar ali, o marido da cliente começa a cortar as unhas e cabelo por se sentir mais à vontade em casa do que o ambiente de salão”, exemplificou.
Cris Andrade é bem requisitada no serviço de unhas em todas as faixas etárias, mas além da unha o público idoso realiza outros serviços como pintura e corte, pela praticidade da mesma profissional.
Maria das Graças, 73 anos, prefere cortar o cabelo, fazer as unhas e sobrancelha no conforto de sua casa pois nunca gostou do ambiente de salão. A pandemia foi apenas mais um fator que a fez utilizar esse serviço. “Cris reserva um turno do dia para atender uma família, então compensa para todas, mas minhas filhas utilizam mais o serviço de manicure e pedicure”, disse.
Na opinião dela, essa opção está se tornando cada vez comum no bairro onde mora. “A gente vê muitos serviços de beleza, sendo ofertados em casa. O atendimento em domicílio é mais confortável, principalmente para idoso. Eu o utilizo bem antes da pandemia”, disse.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 19 de fevereiro de 2022