Mariana Lira
Especial para A União
No cotidiano, as evidências de violências contra a mulher estão por toda parte. Entretanto, nem sempre percebe-se os ataques mais sutis, como a violência econômica. Estudos mostram que a mulher recebe menos e paga mais caro. Especialistas categorizam esse último fenômeno como “taxa rosa” ou “custo rosa”. O simples fato de um produto ser designado para o público feminino o encarece cerca de 12,3%, conforme estudo americano.
Discussões relacionadas à desigualdade de gênero trazem à tona diferenças em diversos âmbitos na sociedade, inclusive nos salários pagos para homens e mulheres. As profissionais recebem, em média, 26% menos que os homens, trabalhando nos mesmos cargos e durante a mesma carga horária, conforme dados do IBGE em 2014. Como se não bastasse, elas ainda pagam mais caro para adquirir os mesmos produtos, com a diferença de serem confeccionados para o público feminino.
A pesquisa realizada pelo Departamento de Assuntos do Consumidor (DCA), em Nova Iorque, revelou que as mulheres estão em desvantagem em 30 categorias de consumo, de 35 analisadas. O resultado alarmante é agravado porque, na maioria dos produtos, a única diferença é ser da cor rosa. Lâminas de barbear, canetas, roupas, desodorantes, entre outros produtos, apresentam variação em 42% dos casos, quando são das cores consideradas femininas.
Margarete Almeida, pesquisadora na área de gêneros, reforça: “A mulher é vista na sociedade como um produto!”, justificando que, majoritariamente, os homens estão no controle do comércio, economia e publicidade. A professora está à frente de um grupo de estudos intitulado Gênero e Mídia (GEM), no Centro de Comunicação Turismo e Artes da UFPB, que aborda diversas pautas acerca das questões de gênero e sua representação na mídia brasileira.
Sobre a “taxa rosa”, Margarete afirma que é mais um resultado da exploração que a mulher é submetida diariamente. Conforme a professora, a lógica capitalista, que é feita de homens para homens, põe a mulher como protagonista de consumo para o usufruto masculino. Isto é, as mulheres consomem serviços e produtos que têm o propósito de encaixá-las em determinado padrão de beleza e comportamento. As oportunidades de lucrar com tais necessidades impostas às mulheres, não poderiam ser perdidas.
As mulheres entrevistadas pelo jornal A União, no comércio do Centro de João Pessoa, têm opinião unânime: injustiça. Entretanto, nem todas tinham conhecimento dessa realidade. De fato, a violência econômica é tão sutil que acaba passando despercebida pelas consumidoras. Elas, que tem o costume de comparar os preços, acabam se atendo a seção feminina e não notam a disparidade de preços em relação a ala masculina.
A jovem consumidora Elisa Gomes não tinha notado a diferença, mas bastou processar a informação para perceber a injustiça associada a estratégia de marketing. “Não tem o porquê de ser mais caro. Mas pensando bem o lucro é maior para as lojas, já que as mulheres consomem muito mais, principalmente roupas, do que os homens. Então, se o produto para a mulher for mais caro, as lojas vão sair com mais lucro” declarou a estudante. "Está tão enraizado que nem questionamos". As mulheres pagam mais caro em salões de beleza e em produtos de cuidados pessoais, enquanto os homens pagavam mais caro para entrar em baladas. É preciso debater sobre quais são os motivos desta diferenciação e até que ponto marketing e sexismo devem andar juntos.
No Brasil, enquanto não há estudos que comprovem a discrepância de preços entre os mesmos produtos e serviços para homens e mulheres, nem há proibições relacionadas ao tema, pesquisar e comparar preços ainda é a melhor alternativa para economizar. Ou ainda, se a cor não fizer diferença, adquirir produtos no setor masculino aumenta as chances de economia.