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Interesse pela tecnologia e busca pelo aprendizado estimulam neurônios e ajudam a prevenir doenças, como o Alzheimer

Na terceira idade: ficar “antenado” faz bem à saúde

publicado: 23/05/2022 09h12, última modificação: 23/05/2022 09h12
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Foto: Lucilene Meireles

por Lucilene Meireles*

Os idosos estão cada vez mais entrosados com as novas tecnologias. Alguns pela curiosidade, diversão e vontade de fazer novas descobertas; outros por necessidade, já que muitos dos que têm acima de 60 anos ainda estão na ativa e precisam estar conectados para se adaptar às necessidades das empresas. Porém, independentemente da razão, a realidade é que os mais velhos têm se interessado cada vez mais pelo mundo tecnológico, e essa busca pelo aprendizado pode ser muito benéfica à saúde, estimulando os neurônios e ajudando a prevenir doenças como o Alzheimer.

Na Paraíba, 14,8% da população têm idade acima de 60 anos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD anual), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019, e os idosos sentem cada vez mais a necessidade de estar por dentro do mundo virtual.

Comprar on-line, usar as redes sociais, saber as informações do cotidiano, assistir a vídeos sobre assuntos diversos, como pinturas, bordados, animais, viagens, entrevistas são apenas alguns exemplos do que eles podem fazer no mundo virtual. O universo de informações é infinito e há sempre algo a aprender.

A aposentada Bergalúcia Oliveira, de 70 anos, está sempre tentando se manter atualizada e conta com a ajuda dos filhos para aprender. “Não é fácil, mas eu desenrolo tudo”, brincou, elencando as conquistas que envolvem, por exemplo, as descobertas do controle remoto da TV a cabo, a magia da internet no celular, as redes sociais, entre elas o YouTube, o envio de mensagens de áudio pelo WhatsApp. “Eu procuro sempre aprender. Faço crochê, pintura em tecido, costuro, sei fazer uma série de trabalhos manuais, mas passei a me interessar pela tecnologia porque hoje é uma necessidade. Se a gente não se interessar, fica para trás. Já sei encontrar os vídeos sobre pintura, mandar mensagens, mas ainda tenho muito para aprender”, reconhece.

O próximo desafio da idosa é aprender a chamar o veículo por aplicativo. “Tenho minhas atividades fora de casa. Faço hidroginástica, curso de pintura, tenho minha fisioterapia, psicóloga e preciso me deslocar sozinha. Como não sei dirigir e os motoristas da casa trabalham fora o dia todo, tenho que sempre pedir para algum deles chamar o carro. Então, como não gosto de incomodar, agora eu quero resolver sozinha”, ressaltou.

Acesso à informação e aproximação familiar

Não há dúvida de que a tecnologia trouxe uma revolução em termos de acesso a informação, mas além de todos os benefícios, ela tem o poder de aproximar gerações.

“Qual o filho e neto que não interveio e ajudou o vovô e a vovó? A grande maioria aprende com os familiares. E este tipo de interação deve ser estimulada, promovendo e gerando afeição entre ambos”, comentou a geriatra Cristiane Chaves Pessoa. Ela analisa que a internet trouxe várias revoluções para as relações interpessoais e é sempre possível tirar proveito delas. “O idoso sente que faz parte deste ‘mundo novo’, que é um membro ativo da família e que é útil”.

Mas, conforme a médica, tudo deve ser feito de forma espontânea, entendendo e respeitando o momento dele e suas possíveis limitações. A orientação é que haja incentivo em forma de parceria positiva entre ambos. Quando eles aprendem, se sentem independentes, e esse é um dos parâmetros mais incentivados pelos geriatras, a busca pela manutenção da independência dos idosos como qualificador de vida.

Por isso, de acordo com a especialista, as pessoas da terceira idade estão buscando se habituar cada vez mais às novas tecnologias. Usam como forma de entretenimento, diversão, acesso aos familiares que moram distante, para dicas de saúde, bem-estar, para trabalho. Muitos utilizam principalmente aplicativos, como é o caso do WhatsApp, formando grupos de amigos e familiares. “Agora já não é mais necessário aguardar pelo jornal do dia seguinte ou mesmo pelo plantão da televisão”, constatou.

Pandemia aumentou uso das tecnologias 

De acordo com o Pew Research Center, que realiza pesquisas e apresenta informações ao público sobre temas diversos em todo o mundo, a pandemia trouxe algumas mudanças no comportamento virtual da população. O YouTube, por exemplo, teve um incremento no número de idosos que acessam a plataforma. Entre 2019 e 2021, o percentual de usuários com idade a partir de 65 anos aumentou de 38% para 49% nos Estados Unidos.

De 2019 a 2021, a proporção de americanos de 50 a 64 anos que disseram já ter usado o YouTube aumentou de 70% para 83%. Entre aqueles com 65 anos ou mais, o uso do YouTube aumentou de 38% para 49% – ganhos de 13 e 11 pontos, respectivamente.

Ainda assim, existem grandes diferenças entre as faixas etárias ao medir a frequência de uso da internet. Cerca de 48% das pessoas com idade entre 18 e 29 anos disseram estar on-line “quase constantemente”, em comparação com 22% das pessoas de 50 a 64 anos e 8% das pessoas com 65 anos ou mais. Entre os brasileiros com 60 anos ou mais, o percentual de idosos que usam a internet aumentou de 34% para 50% entre 2020 e 2021. O dado é da pesquisa TIC Domicílios 2020, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), que tem o apoio da Unesco e do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). O estudo foi divulgado em agosto de 2021 e, naquele momento, o país somava 152 milhões de usuários da internet.

Quem não se adapta aos meios digitais é excluído

A internet abriu um leque de acesso às informações. Ela está presente no dia a dia da grande maioria das pessoas em todos os lugares do mundo. Em um único lugar, é possível pesquisar o que acontece no mundo, na cidade ou no bairro. “E quem não se adapta aos meios digitais é excluído da sociedade contemporânea”, afirma a geriatra Cristiane Chaves Pessoa.

Ela diz que são inúmeros os benefícios de ficar antenado com a internet, entre eles falar com amigos e familiares, realizar compras, procurar entretenimento e lazer, além de ter acesso a todo tipo de informação, em tempo real. “As pessoas da terceira idade estão procurando se adaptar às novas tecnologias, aprendendo a ter, no mínimo, conhecimentos básicos de informática e fazendo uso, principalmente das redes sociais”, constatou.

A especialista diz que a disposição em aprender deve fazer parte da rotina do idoso. Essa busca melhora a cognição, contribui para exercitar a mente, a memória, estimula os neurônios, a chamada neuroplasticidade. O querer aprender, conforme a geriatra, ajuda também a retardar o aparecimento das patologias neurodegenerativas, como as demências, entre elas, o Alzheimer. Por isso, ela considera essencial manter a mente ativa.

“O interesse pelo novo conhecimento é o que mais estimula nosso cérebro. Mesmo tendo dificuldades em aprender, a persistência do tentar já produz efeitos salutares em nossa mente, além do efeito benéfico para o nosso humor e autoestima por nos sentirmos capazes”, observou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 21 de maio de 2022