Cerca de 190 estudantes e profissionais paraibanos, de diferentes áreas do conhecimento, devem participar, a partir de hoje, de uma maratona de programação – ou hackathon, em inglês – promovida pela Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa), a agência espacial dos Estados Unidos. O evento, intitulado Nasa Space Apps Challenge, vai até domingo (6) e será realizado simultaneamente em centenas de cidades ao redor do mundo – duas delas localizadas na Paraíba. João Pessoa recebe o hackathon pela segunda vez, na Hub Ilha Tech, no bairro da Torre; enquanto Campina Grande sedia sua primeira edição no Garden Hotel, no bairro do Mirante.
Neste ano, o tema do Nasa Space Apps Challenge é “O Sol Toca Tudo!”. O objetivo consiste em que os participantes, reunidos em equipes, apresentem soluções para um entre os 20 desafios propostos pela agência estadunidense. Esses desafios estão relacionados a temas como tecnologias, exploração espacial, educação, agricultura e desenvolvimento sustentável. As melhores soluções elaboradas em cada cidade serão submetidas à análise da Nasa, que premiará os destaques globais, em anúncio previsto para janeiro de 2025.
"O Sol tem atividades cíclicas a cada 11 anos e, durante esses ciclos, ele tem momentos mais ativos e outros menos ativos"
- Carlos Alberto Pereira
A líder do hackathon em João Pessoa, Dani Bezerra, relata que os “maratonautas” – como ela chama os inscritos – contarão com a ajuda de um material valioso. “A Nasa disponibilizará dados de pesquisas e fotografias de satélite, tanto produzidas por ela quanto por outras 15 agências espaciais do mundo, inclusive a Agência Espacial Brasileira. Os dados são de fontes confiáveis e os maratonautas poderão utilizá-los para montar suas soluções, que não precisam, obrigatoriamente, ter uma tecnologia digital envolvida. Em alguns desafios, por exemplo, a gente pode trabalhar com comunicação ou com arte e tem até um desafio que pede a elaboração de uma pauta para a sala de aula”, detalha.
A variedade de temáticas e ferramentas para solucionar os desafios também é ressaltada por Monica Ramos, líder da edição campinense do evento. Segundo ela, participantes com habilidades distintas tornam-se aptos a contribuir com a maratona. “Isso é o bacana do hackathon: ele não se limita apenas àquela pessoa que sabe fazer um programa ou um aplicativo, mas mexe com a comunidade como um todo. É um momento em que aqueles que não sabem desenvolver sistemas de informação conseguem solucionar um problema comunitário, como uma questão de sustentabilidade”, aponta.
Oportunidades
O Nasa Space Apps Challenge também representa uma oportunidade de aproximação entre a agência espacial e pessoas de países diversos, ampliando os conhecimentos, as redes de contatos e os horizontes dos participantes. “Uma das coisas mais incríveis de trazer o evento para a nossa cidade é a visibilidade que ele proporciona, de mostrar para as pessoas que a Nasa não é algo mitológico. Ela realiza ações das quais cidadãos comuns podem participar e ser certificados pela própria agência. E isso, para essas pessoas, é ótimo, porque abre muitas portas profissionalmente e porque elas desenvolvem habilidades comportamentais, um olhar social e competências em comunicação, inovação e criatividade”, avalia Dani.
Um dos participantes do hackathon em Campina Grande será Carlos Alberto Pereira. Formado em Engenharia Elétrica e atuante no ramo audiovisual, ele coordena o grupo Brazilian Educational Radioastronomy Group (Berg), que desenvolve pesquisas em radioastronomia. Para este ano, o engenheiro e seu grupo escolheram trabalhar com o tema “Mostre-nos como foram as tempestades geomagnéticas de maio de 2024”.
Carlos Alberto explica o que sua equipe deverá desenvolver no próximo final de semana. “O Sol tem atividades cíclicas a cada 11 anos e, durante esses ciclos, ele tem momentos mais ativos e outros menos ativos. E, em maio, houve uma atividade bem interessante, que causou tempestades fortes em cima do campo magnético da Terra, levando a situações de perda de comunicação. No desafio que escolhemos, eles pedem para produzir um material em vídeo que trate como foi esse fenômeno. E a gente desenvolve uma expectativa grande [para o evento], afinal, o que você produzir pode ser julgado pela equipe da Nasa e resultar em um material interessante, que pode ser usado até para divulgação pessoal”, afirma o coordenador do Berg.
Premiação
Além de serem submetidas à avaliação da Nasa, as propostas de maior êxito apresentadas em João Pessoa e em Campina Grande também serão contempladas com premiações locais. Na capital, as três melhores equipes ganharão medalhas e um kit com brindes de micro e pequenas empreendedoras da região. Os premiados também devem participar de workshops promovidos pelo Laboratório de Fabricação Digital (Fablab) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e passarão a ter o acompanhamento do IlhaTech, hub de inovação pessoense que planeja ofertar mentorias aos grupos.
Já as equipes de destaque no Nasa Space Apps Challenge em Campina Grande receberão um incentivo ao desenvolvimento de negócios, como startups, que coloquem em prática as soluções elaboradas. Para isso, a organização firmou uma parceria com a Fundação Wadhwani, instituição voltada para o desenvolvimento social e do trabalho.
“Isso é importante também para a economia local. Os maratonistas não estão apenas participando do hackathon, mas têm a possibilidade de empreender e levar suas ideias para o campo da economia, fortalecendo a rede econômica e criativa da nossa cidade”, defende Monica.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 04 de outubro de 2024.