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Nasce primeiro filhote na Paraíba

publicado: 01/02/2023 13h46, última modificação: 01/02/2023 13h46
Boas condições ambientais permitiram que uma fêmea reintroduzida ao seu habitat natural desse à luz
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Técnicos do Projeto Peixe-Boi-Marinho realizam manejo de animais encalhados, evitando atropelamento e mortes, na Barra de Mamanguape
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Durante estadia em Barra de Mamanguape,animais recebem monitoramento
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João Carlos Borges monitora de perto a relação de Mel e do filhote em seu habitat
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por Mayra Santos*

 

É macho o primeiro filhote de peixe-boi marinho procedente de uma fêmea reintroduzida no meio ambiente na Paraíba. O animal recém-nascido foi encontrado em 24 de dezembro, numa praia de João Pessoa.  Mel, que gerou o filhote, é uma fêmea que foi reabilitada para viver em seu habitat natural, em 2009. Por isso, o nascimento do animal é considerado um grande indicador de sucesso, de acordo com João Carlos Borges, médico veterinário e coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho.

Para ele, o nascimento do filhote é fruto do trabalho que vem sendo realizado por meio desse projeto. “Isso indica que Mel se adaptou às condições de vida livre, conquistando itens alimentares, área de uso, porém mais do que tudo isso, é a concepção do filhote. Logo, é também um indicador de que estamos no caminho certo”, ressaltou. O nascimento de todo filhote é importante, mas, tendo em vista que essa espécie está em extinção, para o veterinário, “cada novo animal que ingressa é uma esperança de dias melhores para a espécie”, enfatizou.

Nas primeiras semanas, os filhotes de peixes-bois são muito vulneráveis, por esse motivo um maior contato de proximidade tem sido evitado. Em avaliação técnica realizada no último dia 12, foi identificado que Mel está bem e seu filhote é um macho. Em breve, uma campanha será lançada nas redes sociais do projeto para que o público escolha seu nome. 

O coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho informou que, por meio de uma avaliação visual feita pela equipe, o filhote deve ter em torno de 29kg a 32kg, medindo um metro de comprimento, aproximadamente. A gestação de um peixe-boi marinho dura 13 meses. Em uma gestação normal, a fêmea gera apenas um filhote. Porém, em casos raros, acontece de nascerem gêmeos.  Já a amamentação dura, em média, dois anos. Por conta da longa dependência, o período entre gestações dura de três a quatro anos. Mel, mãe do filhote encontrado, tem 19 anos, mas com uma possibilidade viver de 50 a 60 anos, tempo médio de expectativa de vida da espécie.

O veterinário contou que Mel está sendo uma “mãezona”. Segundo ele, está tudo transcorrendo bem, dentro da normalidade da relação fêmea e filhote. Mel está bem e fica o tempo inteiro com cuidado, sempre muito próxima ao filhote.

Espécie está ameaçada de extinção no Nordeste

O Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho tem como objetivo a preservação dos animais em extinção da espécie no Nordeste do Brasil. Para isso, o projeto realiza algumas ações visando o resgaste desses animais, quando ocorre o encalhe. Isso acontece porque as fêmeas, quando vão reproduzir, utilizam águas mais protegidas, sejam isso dentro de estuários, sejam em áreas com presença de arrecifes, sempre em águas mais calmas para ter os filhotes.

O que tem sido observado pelos técnicos é que muitos estuários estão bastante prejudicados, devido à ocupação ou ao uso de atividades humanas. “A tendência das fêmeas irem para os estuários reproduzir, acabam sendo levadas para áreas mais desabrigadas e o filhote, que é bastante vulnerável, acaba se separando dela, simplesmente, porque ainda não aprendeu a nadar direito, o que provoca esses encalhes”, explicou. Quando isso ocorre, os colaboradores que estão em vários estados do Nordeste, comunicam às instituições que realizam o resgate.

Após o resgate, o animal é levado para os centros de reabilitação, onde permanece em torno de dois anos. Por serem recém-nascidos, os animais precisam desse tempo para serem amamentados e depois passar pelo desmame. Em seguida, são transferidos para a readaptação, na Barra de Mamanguape.

“Eles passam de seis meses a um ano nesse ambiente já natural, reaprendendo as dinâmicas de maré, a conviver com outros organismos aquáticos como peixes, tudo que é típico do ambiente, o tempo dependendo muito do processo adaptativo de cada animal”, detalhou. 

Finalizado esse ciclo, o processo de reintrodução ao meio ambiente é iniciado. A partir daí, o animal recebe um transmissor para que o monitoramento e acompanhamento, que garantem a preservação de sua vida, siga ocorrendo.  Os animais reintegrados ao meio ambiente permanecem no entorno da área de soltura ou se deslocam para outras localidades, como foi o caso da Mel. O coordenador do projeto contou que já tiveram animais soltos na barra do Rio Mamanguape que se direcionou para o sentido Rio Grande do Norte, para Pernambuco, por exemplo. “Eles podem se deslocar bastante, outros permanecem por perto como em Cabedelo, Lucena e depois voltam para cá. É o caso da Mel que foi reintroduzida em Barra de Mamanguape, mas vive em Cabedelo”.

O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental – é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil.

Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas.

O projeto conta com o apoio da APA da Barra do Rio Mamanguape/ICMBio, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape/ICMBio e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidad––e Federal da Paraíba (PPGEMA - UFPB). 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 29 de janeiro de 2023.