O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou, no começo desta semana, um aviso de onda de calor. O alerta destaca os riscos para a saúde humana, mas também é importante considerar os impactos negativos que o fenômeno pode causar ao meio ambiente.
Diversos animais e plantas, tanto espécies terrestres quanto aquáticas, são diretamente afetados pelas mudanças climáticas, que causam modificações em seu habitat. Isso gerará a extinção de uma grande quantidade de espécies, diminuindo-se, assim, a biodiversidade. Um estudo publicado na revista Ecology and Evolution concluiu que o aquecimento global poderá levar 10% das espécies de sapos, rãs e pererecas endêmicas da Mata Atlântica à extinção em cerca de 50 anos.
Além disso, a estiagem, a baixa umidade do ar e a condição de tempo extremamente seco que as cidades do Sertão do estado paraibano já enfrentam, naturalmente, no segundo bimestre do ano também acarretam vários danos e desafios para os animais e vegetação.
As pessoas não têm consciência de que o solo, ar e água estão interligados pelo ciclo hidrológico --- Susana Cristina Batista
“Por estar posicionada numa região de clima semiárido, o Sertão paraibano tem historicamente um ambiente de escassez de água e isso se deve, principalmente, aos baixos índices pluviométricos, as estiagens e as secas (que são cíclicas), bem como a alta taxa de perdas de água por evaporação. É nesse cenário que a manutenção da disponibilidade de recursos naturais e hídricos se fazem necessários, tanto para a população, quanto para as plantas e os animais”, enfatizou a secretária de Estado do Meio Ambiente e Sustentabilidade, Rafaela Camaraense.
Também é no Sertão paraibano onde se concentram os maiores índices de queimadas e desmatamentos ilegais, conforme a secretária. Segundo ela, as intervenções do homem, o uso inadequado do solo e das próprias condições naturais levam o ambiente a um status de desertificação no bioma Caatinga.
“O bioma Caatinga é naturalmente brasileiro, efetivamente nordestino e precisamos de mais ações para que ele possa ser resguardado. Ações que visam à proteção e conservação do bioma, por exemplo, a implantação de novas unidades de conservação de proteção integral da Caatinga”, disse Rafaela Camaraense.
Essa combinação quando amplificada e interconectada pode desencadear a conversão de terras produtivas para improdutivas e, consequentemente, o empobrecimento das comunidades locais, através da insegurança alimentar.
“As pessoas ainda não têm essa conscientização de que solo, ar e água estão interligados através do ciclo hidrológico. Então, por exemplo, se coloca fogo em vegetação que está seca pra limpar o terreno, a fumaça polui a atmosfera, as cinzas se espalham, nesse caso, polui totalmente o ambiente causando doenças respiratórias, dentre outras coisas. Além disso, cada vez que se coloca fogo para limpar o terreno, seja pela ação do homem ou decorrente das altas temperaturas, vai empobrecendo o solo, porque ele vai perdendo os nutrientes e tornando-se cada vez mais infértil,” explicou a mestre em engenharia civil e ambiental, Susana Cristina Batista Lucena.
A especialista esclareceu ainda que, nas cidades com lixões a céu aberto, a situação pode ser pior. “Nesse caso quando eventualmente quando chover, ou pela água da chuva ou pelo chorume essas substâncias poluidoras vão infiltrar no solo podendo atingir o lençol freático o que poderá poluir a água distribuída para a população”.
Como amenizar os efeitos das altas temperaturas
Há como prevenir e amenizar os efeitos das altas temperaturas. Para isso, o Governo do Estado vem realizando ações que buscam enfrentar e minimizar os efeitos causados pela desertificação no bioma Caatinga.
Entre os projetos, podemos destacar o Programa PB Rural Sustentável, que implantou cinco mil cisternas entre os anos de 2021 e 2022, com investimento de R$ 52 milhões. O programa Água Doce, que teve início em 2019, e atende às famílias ribeirinhas do Rio São Francisco, oferecendo assistência técnica, capacitações e oficinas para famílias ribeirinhas.
O projeto de Desenvolvimento Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú (PROCASE), beneficiou 291 famílias com a instalação de poço com catavento, caixa d’água, kit de irrigação por gotejamento e campos irrigados de palma forrageira, além da instalação de dois sistemas fotovoltaicos e 61 dessalinizadores. Beneficiou mais de 7.500 famílias com assistência técnica, concedeu 225 bolsas para jovens estudantes residentes da zona rural, e realizou distribuição de 7.000 mil mudas frutíferas para ração animal em 37 municípios.
A Paraíba foi contemplada com a criação do Parque Nacional Serra de Teixeira, compreendendo a preservação de uma área de 61.000 hectares, equivalente a 1% do território paraibano. Sendo esse, o primeiro parque nacional do estado.
Segunda a secretária de Estado do Meio Ambiente e Sustentabilidade Rafaela Camaraense, a partir de 2024, toda a região semiárida paraibana, e em especial, o Sertão, terá ações do Projeto Sertão Vivo.
“Estaremos realizando ações para implantação e recuperação de áreas degradadas com a criação de corredores ecológicos no entorno das unidades de conservação, recuperando as áreas com a implantação de sistemas agroflorestais, ampliando as áreas em recuperação, aumentando o sequestro de carbono e a conservação da biodiversidade. Além da implantação de tecnologias sociais, produção de alimentos e promoção da sustentabilidade para mais de 37 mil famílias beneficiadas”, disse a secretária de Estado do Meio Ambiente e Sustentabilidade Rafaela Camaraense.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 19 de novembro de 2023.