Criada em 2002, a Associação Guajiru é uma organização não governamental que tem o objetivo de proteger a vida marinha, em especial as tartarugas, do Litoral paraibano. Entre os seus principais projetos está o Tartarugas Urbanas, focado em proteger as áreas de desova desses animais.
De acordo com a bióloga e atual presidente da Associação, Danielle Siqueira, há registro científico de quatro espécies no estado — tartaruga-de-pente, tartaruga-verde, tartaruga-oliva e tartaruga-cabeçuda. “Também existem relatos informais, em áreas mais afastadas da costa, da tartaruga de couro”, contou.
Todas essas espécies são ameaçadas de extinção a nível mundial. “No Brasil, apenas a tartaruga verde está classificada como não ameaçada de extinção, mas isso é recente e o grupo ainda está sob as leis de proteção ambiental”, afirmou Danielle.
Os voluntários da associação, que atualmente são 108, cercam e sinalizam os ninhos, para evitar que banhistas ou mesmo equipes de limpeza acabem quebrando os ovos. Além disso, eles ajudam a guiar as tartaruguinhas para o mar quando elas nascem. Devido à iluminação artificial, os filhotes, que deveriam se orientar através do brilho da espuma das ondas e da lua para chegar ao oceano, desorientam-se em direção contrária ao mar e, em consequência disso, podem acabar morrendo desidratados, predados ou atropelados. Daí a necessidade de ajuda humana.
“Não estamos no período reprodutivo agora, mas temos uma média de 250 ninhos por período reprodutivo. Os nascimentos, geralmente, começam em janeiro e têm o ápice em abril”, explicou Danielle.
De novembro a junho, são realizados monitoramentos nos trechos de praia com maior quantidade de ninhos, procurando pelos rastros que a tartaruga deixa na areia, para identificar e proteger os ninhos. “Esse monitoramento é realizado às 5h30 da manhã e os voluntários fazem uma escala de revezamento para que todos os dias durante o período reprodutivo, as áreas sejam monitoradas”, contou.
A atuação da ONG abrange os municípios de João Pessoa, nos bairros do Bessa, Jardim Oceania, Manaíra, Jacarapé e Cabo Branco; Cabedelo, nos bairros de Intermares, Ponta de Campina e, mais recentemente, Ponta de Matos; Lucena, em Costinha e no Centro de Lucena, por informações da comunidade; Rio Tinto, em Barra de Mamanguape, por informações da comunidade; e Baía da Traição, no Akajutibiró.
Danielle destacou que, em alguns locais, o monitoramento é feito com base no atendimento às demandas. “Quando alguém nos informa ou pede assistência, nós prestamos apoio. Neste ano, inclusive, isso aconteceu no município de Pitimbu”, lebrou.
Resgates
Além de ajudar os filhotes, a associação também atua, pontualmente, em alguns casos de resgate de tartarugas adultas que encalham na praia ou são encontradas doentes. Um caso que chamou a atenção ocorreu no último mês de maio, quando o resgate de uma tartaruga-cabeçuda de 110 kg mobilizou voluntários e o Corpo de Bombeiros no mar de Intermares, em Cabedelo, após perceberem que ela não conseguia afundar.
O animal foi encaminhado para o Aquário Paraíba, onde passou por exames que detectaram a presença de plástico no seu trato intestinal. O veterinário Thiago Nery esclareceu que o tratamento é voltado para eliminação gradativa desses plásticos sem agredir o intestino do animal e a tartaruga está sendo medicada diariamente para fazer essa eliminação. “Quando esse animal eliminar totalmente esse plástico, ele está apto à soltura. Atualmente, a gente já está fazendo a adaptação dele numa piscina maior, para ele conseguir ficar afundando. Uma das partes da reabilitação é o animal voltar à capacidade de ficar, além de boiando, afundando quando ele quer. Eu acredito que agora, no mês de setembro, esse animal vai estar apto para a soltura”, disse.
Para ele, a Guajiru exerce um trabalho fundamental, não só do ponto de vista da reabilitação e resgate das tartarugas, como também da educação ambiental e conscientização da população. “Esse trabalho que eles fazem de monitoramento de ninho, acompanhamento diário daquele ninho até o momento da eclosão e o nascimento dessas tartarugas, tem, com certeza, um peso muito grande na taxa de natalidade. Então, a gente tem, em ninhos normais, que ficam soltos na natureza, um aproveitamento que vai de 70% a 80% dos filhotes eclodidos. E quando a gente tem a ação humana benéfica, como é o caso da ONG, a gente tem uma taxa de natalidade maior, com melhor aproveitamento de ovos fecundados”, comentou.
Ele destacou, ainda, que a associação também aproveita esses momentos de nascimento para a educação ambiental, “que é fundamental, que não é só o pessoense que acaba passando por isso, mas todos os turistas que chegam por ali”.
Entidade envolve sociedade e projetos com ações ecológicas
Além do projeto Tartarugas Urbanas, a associação também realiza o projeto Limpamar, que faz mutirões de limpeza nas praias, separando e analisando o material coletado. “Trazemos exposições de diversos projetos, ONGs e instituições para divulgação científica”, contou Danielle.
A Guajiru também realiza atividades com escolas, seja recebendo visitas na sede ou indo fazer palestras. “Neste ano, por exemplo, já atendemos mais de 1.600 estudantes. E durante os processos em que as tartarugas caminham para o mar, nós aproveitamos para fazer palestras educativas”, disse ela, acrescentando que a ONG está criando uma equipe, exclusivamente, voltada para educação ambiental. “Desenvolvemos jogos, ações, eventos e palestras dinâmicas relacionada aos projetos”.
Outra atividade da ONG é a Semana Oceânica, com o propósito de criar um espaço de diálogo colaborativo entre municípios, setor privado, sociedade civil organizada e academia em torno da conservação e utilização sustentável dos recursos marinhos.
Todo os anos, próximo ao Dia Mundial dos Oceanos, celebrado em 8 de junho, realiza-se na Paraíba a Semana Oceânica, que conta com diversas atividades, como rodas de conversa, oficinas, prática de esportes náuticos e outras ações que promovem a conservação marinha.
Desafios
Sobre as dificuldades enfrentadas na conservação, Danielle Siqueira explicou que para as tartarugas em áreas urbanizadas, um dos grandes problemas é a foto--poluição, ou seja, o excesso de luzes artificiais, mesmo com equipamentos de iluminação pública mais modernos.
Há ainda a questão das mudanças climáticas que, conforme explicou a bióloga, têm interferido no sucesso reprodutivo, ocasionando a inundação de ninhos, entre outros contratempos. “O plástico é outro problema reconhecido de forma global. E a pressão urbana na zona costeira também impacta esses animais”.
Já os desafios enfrentados pela própria ONG para realizar o trabalho de conservação são, principalmente, a quantidade de voluntários, que fica aquém da demanda e, especialmente, a captação de recursos.
“Em relação aos recursos, na verdade muitas empresas nos procuram, mas acabam não dando segmento às parcerias e financiamento de projetos. Aqui, poucos têm a preservação ambiental como política de empresa. Hoje nos mantemos ainda principalmente de doações”, afirmou Danielle.
Como ajudar: Para se cadastrar como voluntário ou fazer doações para a Associação Guajiru basta acessar o site no qual também é possível encontrar as informações de contato da ONG.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de setembro de 2025.