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Paraíba recebeu 1° imigrante em 1920

publicado: 18/06/2024 09h21, última modificação: 18/06/2024 09h21
Família de Eiki Kumamoto veio de São Paulo, estabelecendo-se no Sertão, na cidade de Princesa Isabel
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Sede da Associação Cultural Brasil-Japão, em João Pessoa, em princípio criada por professores da Universidade Federal da Paraíba | Fotos: Ortilo Antônio
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Takako Watanabe relembra que o idioma falado por eles dificultou bastante a comunicação entre eles e os brasileiros
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por Lara Ribeiro*

Hoje é comemorado o dia da imigração japonesa para o Brasil, e você sabe quando os primeiros japoneses pisaram em solo brasileiro? Crise econômica, superpopulação e altos impostos. Esses foram os principais motivos da emigração japonesa para o Brasil, que começou em 1908. Na Paraíba, especificamente, a imigração começou em 1920, com apenas um reimigrante vindo de São Paulo, Eiji Kumamoto, que se estabeleceu na cidade de Princesa Isabel, zona do Sertão paraibano.

“Na época, era Meiji, estava tendo uma crise econômica muito grande no Japão. A política mudou e começaram a cobrar impostos da população. As pessoas rurais não tinham como pagar, então muitos perderam suas terras e começaram a migrar para as cidades, que ficaram superlotadas. Então sugeriram que eles fossem trabalhar em outros países, como Estados Unidos, México, teve vários lugares e o Brasil foi um deles”, explica a professora aposentada e presidente em exercício da Associação Cultural Brasil-Japão da Paraíba (ACBJPB), Takako Watanabe.

Apesar de ser brasileira, a professora é descendente de pais japoneses que vieram para o Brasil quando eram jovens. De acordo com ela, a imigração japonesa na Paraíba aconteceu diferente dos outros estados do sul. “Na verdade, nós não tivemos imigrantes na Paraíba, aqui foram reimigrantes, pessoas que saíram de outros estados e vieram para cá. O primeiro reimigrante foi o Eiji Kumamoto que veio em 1920. Só bem depois, em 1938 mais ou menos, começaram a chegar alguns vindos do Amazonas e do Pará”.

A necessidade de melhorar a agricultura na Paraíba foi o motivo da reimigração dos japoneses. “O governo paraibano percebeu a demanda de melhorar a agricultura. Então foram convidadas algumas pessoas para virem para cá através do consulado, no total foram 27”, pontua Takako. Quando a Segunda Guerra começou, esses reimigrantes foram levados para Camaratuba, distrito da Paraíba. Porém, sem apoio e deslocados, cada um seguiu rumo para outros lugares.

Com culturas e línguas tão diferentes, os japoneses tiveram algumas dificuldades de se adaptar no Brasil. “Em relação a outros imigrantes que vieram, como portugueses, espanhóis e italianos, que têm uma língua mais próxima do português, os japoneses tiveram muita dificuldade para se comunicar. E como estavam em comunidades rurais, a tendência deles era ficar mais juntos e se isolar. Mas isso, por outro lado, ajudou a manter as tradições”, analisa a professora universitária e membro da ACBJPB, Alice Lumi, que é brasileira e descendente de japoneses.

A professora explica também o motivo das outras gerações terem se adaptado melhor à cultura brasileira. “Historicamente falando, teve um período muito ruim para os imigrantes italianos, alemães e japoneses da Tríplice Aliança”. 

Agricultura foi uma das contribuições trazidas aos paraibanos

A imigração japonesa foi importante para o Brasil e trouxe contribuições que perpetuam até os dias atuais. De acordo com Alice, uma das principais foi a agricultura. “A variedade de hortaliças e verduras que o paraibano começou a adotar na sua culinária, eu acho que tem influência da presença dos japoneses. Eles se dedicaram bastante na administração de hortas”.

A professora reforça que eles também auxiliaram no âmbito da educação. “Os descendentes também contribuíram. A nossa associação - ACBJPB - foi criada no princípio por professores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Na época, nós tínhamos umas 14 pessoas, entre professores e funcionários”.

Cultura do país de origem é mantida por poucos no estado

A Associação Cultural Brasil-Japão da Paraíba existe desde 2004, e atualmente conta com 63 membros. “Todos que gostam da cultura podem se associar. Hoje nós temos apenas quatro integrantes que são japoneses e 26 descendentes”, explica Takako. A associação conta com diversas atividades, entre elas, o curso de japonês, almoços mensais, aulas de taiko (tambores japoneses) e oficinas de culinária, origami e ikebana. 

Watanabe: “Associação conta com diversas atividades, entre elas, o curso de japonês”

Para ser sócio, é preciso preencher uma ficha, presencialmente ou pelo telefone da associação, e pagar a taxa mensal de 25 reais. As inscrições do curso de japonês vão iniciar no mês de julho, presencialmente, nos dias 13 e 20, das 10h às 15h, com turmas do infantil, básico e intermediário. A mensalidade é de 160 reais e as aulas começarão no dia 27 de julho. Já a mensalidade das oficinas variam de 30 a 50 reais.

A associação também promove um festival anual que homenageia a cultura japonesa. Nesse ano, comemorando os 20 anos da ACBJPB, o XIX Festival do Japão na Paraíba, com apoio do Consulado do Japão de Recife, acontecerá no Espaço Cultural José Lins do Rego do  dia 8 a 11 de novembro. A médica e  professora do infantil de japonês da associação, Denise de Albuquerque, afirma que o evento contará com apresentações musicais com instrumentos tradicionais e oficinas de origami, língua  japonesa, mangá, sashiko (técnica de bordado), dori (prática das danças típicas japonesas), entre outros.

Também serão ofertadas palestras institucionais sobre bolsas de estudo e experiências de trabalho no Japão, apresentação de artes marciais milenares, concurso de cosplay, karaokê e concurso de Hashi. Além de uma área voltada para compras de produtos japoneses, bem como uma oportunidade de conhecer a gastronomia japonesa. A programação completa pode ser conferida no instagram do evento, @festivaldojapaopb.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 18 de junho de 2024.