Em 2022, a população indígena residente na Paraíba era de 30.140 pessoas, contando com 95 etnias, povos ou grupos indígenas, um crescimento de 37,7% (correspondente a 26 etnias) em relação ao total encontrado no Censo Demográfico 2010 (69 etnias). Os dados são do “Censo Demográfico 2022: Etnias e Línguas Indígenas: Principais Características Sociodemográficas — Resultados do Universo”, divulgado ontem (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A publicação traz um retrato abrangente sobre a população indígena do estado e do país. Em todo o Brasil, havia, em 2022, 1,69 milhão de pessoas indígenas, distribuídas em 391 etnias e 295 línguas diferentes detectadas. Na Paraíba, um total de 26.375 pessoas indígenas declararam sua etnia, povo ou grupo indígena, o que corresponde a 87,5% da população indígena estadual, sendo que 0,5% do total de pessoas indígenas declarou pertencer a duas etnias.
Alguns fatores podem explicar parcialmente o aumento da população indígena entre os Censos 2010 e 2022, assim como o crescimento no número de etnias, povos ou grupos indígenas. Entre as possíveis razões, estão: o aperfeiçoamento do mapeamento de localidades indígenas em todo o país, inclusive nas cidades e em áreas remotas; a inserção de procedimentos operacionais padronizados de abordagem às lideranças indígenas; a utilização de guias institucionais da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) ou da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai); a incorporação da figura do guia comunitário indígena; o treinamento diferenciado das equipes censitárias; o monitoramento em tempo real da cobertura da coleta; e as adaptações metodológicas para facilitar a compreensão do questionário censitário.
Locais de residência
Na Paraíba, a maioria dos indígenas vivia em terras indígenas (19.044 pessoas, ou 63,2% do total), demarcadas nos municípios de Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto. Em contrapartida, 35,2% (11.704) residiam fora de terras indígenas, sendo 10.270 indígenas em áreas urbanas e 826 em zonas rurais. O estado concentra cerca de 5,7% de toda a população indígena do Nordeste. Além disso, o percentual de indígenas vivendo em terras indígenas (63,2%) é superior às médias nordestina (24,5%) e brasileira (36,7%).
O conceito de etnia indígena refere-se a uma comunidade humana definida por afinidades linguísticas, culturais e sociais, correspondendo ao povo ou grupo indígena que compartilha formas próprias de vida e organização social. No Censo 2022, cada pessoa indígena pôde declarar até duas etnias. A Paraíba contabilizou 95 etnias declaradas, número superior aos de outros estados do Nordeste, como o Rio Grande do Norte (88), Alagoas (86), Sergipe (85) e Piauí (81), porém inferior aos de Pernambuco (148) e Bahia (233).
Do total de indígenas na Paraíba, 86,8% (26.720 pessoas) declararam pertencer a uma única etnia, enquanto cerca de 1% (299 pessoas) informou pertencer a mais de uma. Os demais 12,2% (3.765) indígenas não declararam pertencimento a alguma etnia.
Do total de 19.044 indígenas residentes em terras indígenas, 99,8% (18.999 pessoas) declararam etnia única, e 0,2% (69 pessoas) afirmaram possuir mais de uma etnia dentro das terras indígenas.
A etnia potiguara é aquela que apresenta o nono maior quantitativo de integrantes no Brasil, em 2022, totalizando 37.292 pessoas, número superior ao de 2010, que foi de 20.554. A taxa de crescimento anual foi de 5,1%, com um índice de aumento total de 81,4%. A etnia está presente em 475 municípios e em 27 unidades da Federação, sendo o grupo majoritário nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. A Paraíba é a unidade da Federação com maior quantidade de pessoas potiguaras (24.598), seguido pelo Rio Grande do Norte (5.695), Ceará (5.493) e Rio de Janeiro (440).
Do total de indígenas residentes nos três territórios indígenas oficialmente reconhecidos na Paraíba (Potiguara, Potiguara de Monte-Mor e Jacaré de São Domingos), 99,7% (18.988 pessoas) autodeclaram-se potiguaras. Foram registrados ainda moradores autodeclarados das etnias tabajara, xukuru, pataxó, tupinambá, atikum e guarani, além de declarações isoladas de grupos como Tapuia-Tarairiús e Desána, originários de outras regiões do país. A ocorrência desses povos em terras potiguaras indica migrações, casamentos interétnicos e processos de reidentificação cultural.
Diversidade entre os povos originários é maior fora das terras demarcadas
Fora das terras indígenas, a diversidade aumenta. Nas áreas urbanas, do total de 10.270 indígenas, 69,9% (7.181 moradores) informaram possuir etnia única, e 2% (209 pessoas) apontaram dupla pertença, tendo esse último um percentual bem maior que o observado dentro das terras indígenas. Na Zona Rural, do total de 826 indígenas, 540 declararam possuir uma etnia e 21 informaram duas ou mais.
- Segundo maior grupo do estado, população tabajara em áreas urbanas é de 739 pessoas
Entre os indígenas com etnia definida, destacam-se os potiguaras, com mais de 5,6 mil indivíduos fora das terras indígenas, sendo 5.295 pessoas em áreas urbanas e 315 em zonas rurais, que representam 22,8% de toda a população potiguara do estado. Além dos potiguaras, sobressaem-se os tabajaras, com 739 pessoas, representando 70,1% do total dessa etnia residindo em áreas urbanas, e os tupinambás, com 63 indígenas.
A diversificação de etnias foi impulsionada tanto pela mobilidade interna quanto por fluxos migratórios interestaduais e internacionais. Povos como guarani, xukuru, pankararú, kariri, pataxó e fulni-
-ô estão representados fora das terras indígenas, assim como grupos vindos de outras regiões do Brasil, como kaingang, makuxi e terena, e até de outros países, como os waraos, originários da Venezuela, que somam 306 pessoas vivendo na Paraíba.
Os waraos, povo indígena originário do delta do Orinoco, na Venezuela, destacam-se como o principal grupo indígena de origem estrangeira na Paraíba e no Brasil. Eles protagonizaram, nos últimos anos, um movimento migratório na América do Sul, espalhando-se por diferentes regiões brasileiras. O Censo Demográfico identificou 306 pessoas waraos residindo na Paraíba, a quarta maior população desse grupo no Brasil e a primeira do Nordeste, todos residindo em áreas urbanas. Em nível nacional, os waraos estão presentes em pelo menos 20 unidades da Federação, totalizando em torno de cinco mil indígenas. Os três estados com maiores contingentes são Roraima (1.817), Pará (912) e Amazonas (416), principais portas de entrada desses indígenas próximos à fronteira venezuelana.
Línguas indígenas crescem 44%, com o tupi-potiguara em destaque
Entre os Censos de 2010 e 2022, houve um crescimento de 44,4% no número de línguas indígenas declaradas, tendo passado de 18 para 26, sendo superior à média nacional (7,7%). A publicação define língua indígena como o sistema de comunicação falado ou utilizado no domicílio por pessoas indígenas, podendo ser uma ou mais línguas pertencentes a um tronco ou família linguística. Em 2022, o Brasil registrou 295 línguas indígenas faladas, pertencentes a nove troncos linguísticos — entre eles, o tupi, o macro-jê, o aruak e o karib.
Entre as pessoas indígenas de dois a 19 anos, a Paraíba é um dos sete estados da Federação que possui mais de metade da população indígena nessa faixa de idade falante de línguas indígenas, com 51,7%. Os outros são Acre (55,2%), Maranhão (53,9%), Mato Grosso (53,5%), Tocantins (53%), Pará (52,3%) e Minas Gerais (50%). Os estados com menores percentuais na faixa de idade são Sergipe (18,4%), Ceará (26,4%) e Rio Grande do Norte (26,5%).
A língua tupi-potiguara pertence ao tronco tupi e à família tupi-guarani, sendo predominante entre os povos indígenas residentes nas terras indígenas oficialmente delimitadas na Paraíba. O Censo Demográfico 2022 registrou 806 pessoas falantes da língua tupi-potiguara, distribuídas entre as três terras indígenas: Potiguara (677), Potiguara de Monte-Mor (121) e Jacaré de São Domingos (sete falantes).
Além da tupi-potiguara, há registros pontuais de outras línguas na Paraíba, como a xukuru e a tupinambá, ambas com número reduzido de falantes, com uma e 33 pessoas, respectivamente, nas terras indígenas. A menção a “línguas sem classificação atual determinada” e “línguas isoladas” indica a presença de fragmentos linguísticos ainda em estudo, remanescentes de processos históricos de miscigenação cultural e territorial.
A pesquisa apontou que a idade mediana das pessoas indígenas que falam ou utilizam línguas indígenas no domicílio era de 19 anos, indicando uma estrutura mais jovem que o conjunto da população indígena paraibana, que tinha idade mediana de 30 anos (11 anos a menos).
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 25 de Outubro de 2025.