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Margarida maria alves

Paraíba tem uma heroína da pátria

publicado: 18/08/2023 12h15, última modificação: 18/08/2023 12h15
Nome da líder sindical e trabalhadora rural, que foi assassinada em 1983, será incluído no livro de heróis nacionais
Margarida Maria Alves - Arquivo Contag.jpeg

Margarida Maria Alves lutou pelos direitos dos trabalhadores rurais - Foto: Arquivo Contag

por Alexsandra Tavares*

Símbolo da luta por melhorias de trabalho e renda para o homem do campo, a paraibana de Alagoa Grande Margarida Maria Alves tem seu nome gravado no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A proposta, da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), foi aprovada essa semana pela Câmara Federal, sancionada pelo presidente Lula e publicada, ontem, no Diário Oficial da União (DOU).

A iniciativa é uma homenagem à trabalhadora rural e líder sindical paraibana que, entre o final da década de 70 e início de 80, lutou pelos direitos básicos dos homens e mulheres que atuaram nas terras dos gigantes do latifúndio na Paraíba. Com apenas o Ensino Fundamental, ela não se furtava em segurar o microfone e ir às ruas expor as precariedades da força de trabalho rural da época. A voz e coragem de Margarida fortaleceram o coro daqueles que exigiam condições mais dignas na labuta diária na zona rural. 

Sob influência de sua trajetória, direitos como carteira assinada, jornada de trabalho de 8 horas diárias, férias e 13o salário foram assegurados aos trabalhadores rurais em Alagoa Grande e região.  Mas, Margarida lutava contra o latifúndio, os poderosos da terra e, assim, foi silenciada na tarde do dia 12 de agosto de 1983, quando foi assassinada na porta de casa, deixando o filho, José de Arimatéia, com oito anos de vida, aos cuidados do marido, Severino Cassemiro, seu companheiro de luta.

Em 2013, Severino Cassemiro faleceu, aos 95 anos, mas José de Arimatéia ainda guarda com admiração a postura da mãe. “A história da minha mãe me inspira até hoje. Sou quem eu sou hoje graças, primeiramente a Deus, que é o arquiteto maior de tudo. Foi Ele quem me deu Margarida Maria Alves como minha genitora. Agradeço todos os dias a Ele, por ter tido, como mãe, uma mulher que é exemplo de coragem, de luta e determinação. Sem medo algum, ela enfrentou os poderosos de sua época. Ela foi única no que fez”.

Ao falar sobre decisão presidencial que oficializa o nome de Margarida Maria Alves como sendo uma das heroínas da pátria, Arimatéia frisou que a iniciativa é um reconhecimento à trajetória da líder sindical. “Recebo, com muita gratidão e alegria, o fato de ter o nome de minha querida mãe incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. É uma homenagem mais que merecida por tudo o que ela fez e representa para o trabalhador do campo. Ela deu a vida dela, em favor dos trabalhadores”.

O secretário de Cultura e Turismo de Alagoa Grande, Marcelo Felix afirmou que a paraibana tem representatividade, não apenas na Paraíba, mas em todo o Brasil e em outros países. Ele lembrou que ela foi assassinada “covardemente na porta de casa” em consequência da luta que encampava em defesa dos direitos dos trabalhadores rurais. “A história dela se propagou pelo mundo e seu nome ficou ainda mais forte. Ela é uma das principais personalidades brasileiras, tanto é que agora seu nome está no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, algo nada mais justo para essa mulher que lutou tanto em benefício do homem do campo”, acrescentou Felix. 

Marcha das Margaridas e Semana Pedagógica

Em agosto de 1983, aqueles que tentaram silenciar a voz de Margarida Maria Alves exaltaram ainda mais os objetivos da paraibana.  O nome dela batiza nomes de entidades e eventos que perpetuam seu legado 40 anos após a sua morte. Um desses eventos é a Marcha das Margaridas, que carrega milhares de trabalhadores até Brasília. Nesse 40o ano de aniversário de morte dessa “heroína da pátria”, a cidade de Alagoa Grande irá realizar uma vasta programação, a partir de segunda-feira, em homenagem à filha ilustre.

Segundo a cientista social, Joane Brito, do Movimento de Mulheres Trabalhadoras da Paraíba, e que faz parte da organização do evento, de 21 a 27 deste mês ocorrerá no município a “Semana Pedagógica Margarida Maria Alves”. No calendário constam atividades didáticas e culturais nas escolas municipais da cidade e outros espaços. Entre as ações estão contação de histórias sobre a luta no campo e a Noite Cultural em frente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, com apresentação das Cirandeiras e do grupo Raízes do Paó, com a quadrilha junina. Segundo Joane, no domingo pela manhã haverá uma marcha, saindo da casa onde Margarida Maria Alves morou até o cemitério do município. Nesse trajeto, ocorrerá uma parada para a celebração de uma missa na Igreja Matriz Nossa Senhora da Boa Viagem. O ato será encerrado num palco montado em frente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

“O objetivo do evento é conscientizar a população sobre a luta e o exemplo de vida de Margarida Maria Alves, e a necessidade de reclamar os nossos direitos ainda hoje. São 40 anos de impunidade, é inconcebível que Margarida seja resumida a um museu na história de Alagoa Grande, sua terra mãe, enquanto é exaltada pelo mundo.”, frisou Joane.

A “Semana Pedagógica Margarida Maria Alves” conta com vários parceiros, como a Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado da Paraíba (Fetag), Prefeitura de Alagoa Grande, Governo da Paraíba, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), entre outros.

Saiba Mais

“Da luta não fujo”. A frase era uma das mais repetidas pela líder sindical e está registrada na casa onde ela morou, em Alagoa Grande. O local, mantido pela Prefeitura Municipal, foi transformado no museu Casa Margarida Maria Alves, e está aberto de domingo a domingo, das 8h ao meio-dia, e das 13 às 17h, com entrada gratuita.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 18 de agosto de 2023.