O Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), realizado no ano passado, mobilizou cerca de um milhão de pessoas, em todo o Brasil, em busca de espaço como servidores públicos de diversos órgãos do Governo Federal. Entre os candidatos, esteve o paraibano Lucas de Belmont, que foi aprovado, em primeiro lugar, para trabalhar no Ministério da Saúde, em Brasília. O cargo é de tecnologista, com especialidade em Fomento do Complexo Econômico–Industrial da Saúde. A aprovação foi oficializada pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), no último dia 4, e veio poucos meses após a defesa de sua tese de doutorado, apresentada na Universidade de Leeds, na Inglaterra, e que lhe rendeu um voto de aplausos na Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB).
Natural de João Pessoa, Lucas é graduado em Relações Internacionais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e mestre em Ação Humanitária Internacional, pela Universidade de Bochum, da Alemanha. Além de sua trajetória acadêmica, cuja etapa mais recente foi o doutorado, o pesquisador também teve experiência de estágios na Comissão Europeia e na Organização das Nações Unidas (ONU). O CPNU foi o primeiro concurso prestado por ele, já com a aprovação em primeiro lugar.
A preparação para prestar o concurso, porém, não foi de dedicação exclusiva, uma vez que o período coincidiu com a reta final do doutorado. Nesse sentido, a parceria com a companheira, Mônica Lucena, e a cunhada, Mariana Lucena, foi fundamental, com os três estudando — e sendo aprovados — em conjunto. Lucas considera que os conhecimentos desenvolvidos na vida acadêmica o ajudaram a se dar bem no certame, até porque ele só pôde se debruçar efetivamente sobre os estudos nas semanas que antecederam as provas.
“O que me favoreceu, e eu acho que é um modelo muito positivo desse concurso, é que ele abandonou aquela estrutura de ‘decoreba’, em que todo mundo repetia fórmulas e decorava o texto da lei, e [passou a] priorizar conhecimentos mais gerais e interdisciplinares. Então, como eu sempre fui uma pessoa muito ligada ao noticiário, à política, que acompanha as políticas públicas que estão sendo implementadas e como funcionam os poderes da República; e também por estar, durante o doutorado, pesquisando sobre o Brasil, mais especificamente sobre os povos indígenas da Amazônia, eu me preparei sem me preparar”, afirma.
Voto de aplausos
A tese de doutorado defendida por Lucas, em novembro do ano passado, tem o título “Atrocidades em Massa e Povos Indígenas: a Amazônia Brasileira sob o Governo Bolsonaro (2019–2022)”. A pesquisa buscou evidenciar o cometimento de crimes contra as populações originárias do país, desde o desmatamento da Floresta Amazônica até a privação do acesso à saúde, tanto por causa da pandemia de Covid-19 como pelo avanço do garimpo ilegal.
A relevância dessa temática motivou a deputada estadual Cida Ramos (PT) a propor um voto de aplausos para Lucas, na ALPB, em setembro de 2024. Ela, que conhecia o pesquisador da época em que ele militava pelo Partido dos Trabalhadores (PT), acredita que o reconhecimento dos parlamentares é uma maneira de incentivar a pesquisa e valorizar a Educação, área de formação da própria deputada. Para Cida, a investigação realizada pelo estudante pessoense dialoga com o cenário político nacional e internacional, marcado por violações de direitos humanos e ameaças à democracia.
“A barbárie se instala na política internacional. Assistimos famílias sendo destruídas na Palestina, vemos a guerra da Rússia contra a Ucrânia e agora estamos vendo o atual mandatário dos Estados Unidos provocando diversos conflitos. Então, quando você tem uma pessoa como Lucas, paraibano, desenvolvendo uma pesquisa de nível internacional sobre as atrocidades cometidas pelo ex-governante do país, é imprescindível que se aplauda e que se dê a visibilidade necessária, pois estamos diante da maior guerra humana, as fake news. É preciso de mais Lucas, mais pesquisadores, para que compreendamos a história e jamais retornemos ao que vivenciamos, por exemplo, em 8 de janeiro [de 2023], uma tentativa orquestrada de golpe ao nosso Brasil”, defende a parlamentar.
Segundo o pesquisador, receber a homenagem da ALPB foi “uma honra”, especialmente porque não só ele como toda a sua família são da Paraíba. A pesquisa, contudo, não deve ficar restrita às páginas da tese de doutorado e às atas da Casa Legislativa do estado. Isso porque a experiência adquirida por Lucas, enquanto estudava na Universidade de Leeds, deve contribuir para o exercício profissional em seu novo cargo público.
“Acho que fui muito feliz na minha tese, por ter percebido que a privação da saúde pode ter danos monumentais contra populações vulneráveis, como os indígenas, quilombolas e pessoas de comunidades periféricas. Então, eu espero que, no Ministério da Saúde, eu possa trabalhar pelo fortalecimento do SUS [Sistema Único de Saúde] e pelo Plano Nacional de Imunizações, e levar essa perspectiva da consequência que pode haver se o trabalho do governo não for bem feito.
*Matéria publicada originalmente na edição 18 de fevereiro de 2025.