O Dia Mundial da Propriedade Intelectual, celebrado hoje, é especialmente significativo para a Paraíba, que figura entre os 10 estados que mais inovam no país, sendo uma referência no Nordeste na área de pesquisa. Só em 2023, mais de 200 patentes foram registradas por pesquisadores e estudantes das principais instituições de ensino do estado, reforçando sua forte vocação para ciência e tecnologia. É o que aponta Alexandro Duarte Rodrigues, agente de Propriedade Intelectual e procurador cadastrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). “É como uma locomotiva; agora não para mais. A Paraíba se tornou o principal expoente de patentes no Nordeste, com igual importância no Brasil, já que está entre os 10 primeiros”, resume o procurador, citando o Ranking de Competitividade dos Estados 2023.
Nessa lista recém-divulgada pelo Centro de Liderança Pública (CLP), o estado aparece em nono lugar no cenário nacional e como o segundo mais inovador no Nordeste, ficando atrás apenas de Pernambuco. O bom desempenho da Paraíba não é por acaso e vem acompanhado de performances igualmente importantes no âmbito da educação. Enquanto a UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e a UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) aparecem na 19a e 34a posições, respectivamente, a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) desponta na segunda colocação em relação ao registro de patentes, perdendo apenas para a Petrobras.
Universidade Federal de CG é destaque em ranking nacional
Essa “derrota” é, na verdade, uma grande conquista, como bem aponta Alexandro, pois evidencia como essas instituições se transformaram em ambientes permanentes de pesquisa e inovação. “A Petrobras é uma empresa multinacional com orçamento milionário movida por patentes; ela precisa inovar para realizar seu trabalho da melhor forma. Por isso, ter a UFCG, uma universidade federal e pública, representando a Paraíba em segundo lugar nesse ranking significa muito”, observa
O especialista cita como diferencial o fato de a universidade ter em seu campus representantes do próprio Inpi, trabalhando em sinergia com o Núcleo de Inovação e Transferência Tecnológica (NIT) para que os projetos se tornem futuras patentes. Além disso, ele observa que o investimento em inovação não é algo novo por lá. “A instituição sempre incentivou internamente seus pesquisadores a depositarem patentes, tanto que hoje o Inpi presta auxílio direito a Campina, por conta desse potencial”, complementa Alexandro Duarte. Um potencial que, nas palavras do reitor da universidade, Antonio Fernandes, diz respeito à aplicação da ciência para a solução de demandas cotidianas - afinal, nem todas as ideias precisam ser disruptivas para serem inovadoras.
Um exemplo é o Laboratório de Soldagem da UFCG, onde pesquisas estão sendo conduzidas com foco na indústria 4.0, que utiliza inteligência artificial, manufatura aditiva e internet das coisas em suas aplicações. De acordo com o professor Jefferson Segundo, que também é pesquisador e coordenador de projetos da universidade, o Departamento de Engenharia Mecânica aprovou recentemente um financiamento de mais de R$ 500 mil para o desenvolvimento de novas tecnologias na área, incluindo o pedido de três patentes relacionadas a um processo inovador para “deposição de metais”, uma técnica de impressão 3D. A chamada manufatura aditiva consiste no depósito camada por camada de um material até formar uma estrutura tridimensional. “Hoje, a UFCG é pioneira nessa área de impressão de metais, uma tecnologia que surgiu no ano passado baseada na técnica de ‘dessoldagem’ para criar um equipamento novo”, explica o professor, que destaca ainda a sua aplicabilidade na indústria.
Como ele próprio observa, um dos pontos fortes da universidade é o seu compromisso em “transferir tecnologia” para a sociedade, garantindo que as pesquisas desenvolvidas nos laboratórios da UFCG não fiquem limitadas aos tradicionais artigos científicos. “Toda peça que venha a se quebrar poderá ser substituída quase imediatamente por conta desse novo processo. Assim, será possível fabricar peças com geometria e design variados, em um tempo relativamente curto”, exemplifica Jefferson. Já no campo da inteligência artificial, os pesquisadores de Campina Grande também estão focados em viabilizar a sua aplicação em processos de soldagem e manufatura aditiva, visando a fabricação de juntas soldadas e peças metálicas de alta qualidade e sem defeitos.
Para Jefferson Segundo, em meio a tantas invenções importantes, a figura do professor também deve, e precisa, ser celebrada, considerando seu papel essencial dentro do universo da pesquisa. Além de orientar e supervisionar as atividades, os professores assumem responsabilidades de liderança e gestão de projetos.” É o professor que vai à frente, forma a equipe, escreve o projeto, dá ‘a cara a tapa’ para conseguir mais investimento para a nossa universidade”, finaliza o coordenador.
Estado já investiu R$ 180 milhões em inovação
Nesse cenário de pura inovação, a UFPB também merece destaque, uma vez que se encontra entre as 20 maiores depositantes de patentes no Brasil. No entanto, ao contrário de Campina, que possui um núcleo do Inpi, a universidade conta com um bloco próprio para esse serviço, o que, segundo Alexandro Duarte, não tem o mesmo impacto e alcance do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, com 70 anos de experiência na área. No Ranking Depositantes Residentes do Inpi, somente no ano passado, foram contabilizados 101 pedidos de depósito de patente pela UFCG; 24 pela UFPB e 17 pela UEPB, totalizando 142 patentes e um crescimento de mais de 50% em relação a 2022, quando foram registrados 97 depósitos. Somam-se a esses números as patentes em programas de computador que, embora não integrem a contagem do instituto, também refletem o entusiasmo do paraibano em relação à inovação: são 28 pela IFPB, 24 pela UFPB e 17 pela UEPB.
E no meio disso tudo, como o próprio Alexandro destaca, há projetos de tecnologia nas áreas de software, engenharia e robótica, um dos enfoques da UFCG, assim como de desenho industrial, indicação geográfica e maquinários industriais, isso sem falar nas pesquisas científicas.
Patente não é burocracia
Segundo ele, esse processo de “patentear pesquisas e registrar marcas” não só estimula a competitividade e a inovação, como também acelera o desenvolvimento econômico do estado. “É um ciclo de positividade. A patente não é uma mera burocracia, ela também gera empregos diretos e indiretos, movimentando a indústria, os pesquisadores e a própria população, e não apenas a vida do empresário.” Além disso, com investimentos públicos em inovação, as vantagens se tornam ainda mais evidentes para o estado, resultando não apenas nos índices positivos destacados pelo Ranking de Competitividade, mas também em uma realidade economicamente mais saudável e criativa.
Para se ter ideia, nos últimos quatro anos, o Governo da Paraíba investiu um total de R$ 180 milhões em bolsas, projetos no campo da inovação e desenvolvimento de pesquisas que geram patentes, a exemplo das startups que integram o Parque Tecnológico Horizontes de Inovação (PTHI), localizado no Centro Histórico de João Pessoa. Somente em 2023, foram mais de R$ 46 milhões direcionados para apoiar núcleos avançados de pesquisa, startups, bolsas de mestrado, doutorado, pós-doutorado e suporte a eventos científicos. “Se continuarmos nesse passo, já está ótimo, mas temos potencial de crescer ainda mais nesse campo, o que falta, na minha visão, é ampliar a divulgação do que tem sido feito no estado”, observa o procurador do Inpi.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 26 de abril de 2024.